A guerra entre Folha de SP e o presidente Jair Bolsonaro ganhou novo capítulo hoje, com o texto de Fábio Wajngarten, secretário de Comunicação Social da Presidência, em resposta ao editorial do jornal neste fim de semana. Disse Fábio:
Dito isso --para que não usem esse artigo como sintoma de qualquer censura à imprensa--, quero escrever neste espaço para repudiar, com toda a ênfase, o infame, injusto e leviano editorial da Folha de S.Paulo publicado em 29 de novembro, no seu site online, e republicado no dia seguinte na edição impressa do veículo.
Os termos, o linguajar do editorial, seu conteúdo são desrespeitosos não só com a figura institucional do presidente da República como um libelo, um indisfarçável panfleto, desprovido de seriedade e consistência!
Até aí, ia bem. Sou um dos que mais apontam para o viés da imprensa, e nesse fim de semana mesmo minha coluna no ZH foi sobre a insistência de alguns em se recusar a aceitar que Bolsonaro venceu as eleições. Boa parte da mídia age como torcedora do contra, de forma totalmente parcial e partidária, por mais que tente se vender como isenta e sem ideologia.
Mas Fábio cruzou o sinal ao afirmar que a Folha não apenas torce contra o governo, mas se une àqueles que tentaram mata-lo! Eis o trecho:
Com o editorial, a Folha de S.Paulo se junta àqueles derrotados nas urnas em outubro passado, aos que tentaram matar o então candidato Jair Bolsonaro, para pregar o desrespeito, a mentira e a tentativa frustrada de desmoralizá-lo no cargo mais graduado da República.
Há uma grande diferença entre não gostar do governo e desejar a saída do presidente, e conspirar contra a sua vida. O texto abusa de adjetivos para definir os veículos de imprensa, como "torpes" e "levianos", e conclui acusando a Folha de conspiração golpista:
No fundo, o que editorial do jornal faz é defender uma conspiração pela saída do presidente da República, num golpe contra as instituições e, principalmente, contra a vontade da maioria dos brasileiros. A democracia brasileira e a liberdade de imprensa não merecem isso.
Para muitos bolsonaristas, nessa guerra entre mídia e governo vale tudo. Já que há má vontade dos jornalistas, viés ideológico, perseguição até, então cabe ao presidente reagir com todas as armas, cancelando assinaturas dos jornais em todo o estado, boicotando anunciantes etc.
Essa guerra acaba sendo útil para os dois lados, pois a mídia vende mais com as polêmicas, e o presidente encontra na imprensa um bode expiatório para colocar a culpa de qualquer erro. Com o Trump é a mesma coisa. Nenhum governo gosta da imprensa, menos ainda de uma que, de fato, demonstra viés ideológico contrário ao do governo. Mas é preciso ter cuidado para não ultrapassar limites em nome do combate às fake news.
No mais, fica uma reflexão: se o governo despreza tanto o trabalho da Folha e afirma que ela não goza de qualquer credibilidade, por que tentar publicar um texto como resposta na própria Folha? E o fato de o jornal publicar a resposta, por mais dura que seja contra ela, não deveria ser levado em conta como mérito do jornal e apreço pela liberdade de expressão?
Bolsonaristas demonizam a imprensa, mas sempre correm para dar entrevistas nas primeiras oportunidades, pois no fundo sabem que há mais destaque e respeito num veículo desses, por mais enviesado que seja, do que nos sites obscuros de bolsonaristas, que pregam só para convertidos com sua mensagem chapa-branca.
É verdade que a influência da mídia mainstream vem caindo na era das redes sociais, tanto que Bolsonaro venceu apesar dessa campanha do contra; mas se fosse realmente um zero à esquerda, por que bolsonaristas se preocupariam com o que ela diz sobre o governo? A reação trai o discurso e expõe a importância que os bolsonaristas, no fundo, ainda dão à imprensa...