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Excesso de pragmatismo leva ao tucanismo, que sempre foi instrumento de petista em nosso país. O fenômeno da "direita permitida" já ficou conhecido nas redes sociais, as tias do Zap já o mencionam com naturalidade, a turma não quer mais ser enganada por tucano que se passa por conservador. A estratégia das tesouras não é mais capaz de ludibriar o grande público, sedento por lideranças conservadoras genuínas.

É nesse contexto que avalio como grave erro a mais nova declaração do governador Tarcísio Freitas. No evento pop de Gilmar Mendes em Portugal, o governador de São Paulo resolveu elogiar o STF, nosso "guardião da Constituição", e disse que nossa democracia tem pilares sólidos e está funcionando muito bem. Talvez eu tenha uma perspectiva diferente por ser vítima do arbítrio de quem deveria proteger nossa Carta Magna, mas vejo a coisa de forma totalmente oposta.

Tarcísio começou sua fala simulando humildade, alegando não ser jurista para falar em meio a tanta gente qualificada. Ele poderia escutar juristas renomados que divergem diametralmente da postura dos nossos ministros supremos ali presentes. Ele poderia citar a reportagem da Gazeta do Povo, que escutou especialistas que consideram que o STF foi muito além do "ativismo técnico" citado por Barroso. Ele poderia mencionar o editorial da mesma Gazeta, que resume com perfeição:

O Judiciário de que o Brasil necessita não é nem “poder político”, nem ativista, mas garantidor do cumprimento das leis e da segurança jurídica, com a credibilidade que uma atuação imparcial lhe garante

Tarcísio precisa explicar que democracia sólida é esta que solta um corrupto por meio de evidente malabarismo e, durante a campanha, coloca o TSE a serviço desta chapa, apelando inclusive para a censura e impedindo que jornais como a Gazeta lembrassem ao eleitor dos elos profundos entre Lula e ditadores comunistas. Que democracia pujante é esta que prende jornalistas e deputados, que cala comentaristas com perguntas incômodas, que transforma em tabu dúvidas sobre o processo eleitoral pouco transparente?

Tarcísio está "apenas jogando o jogo", podem alegar alguns. Ele precisa ser o Fernando Haddad da direita, alguém com postura e linguagem aceitas pelo establishment, para que possa finalmente derrotar o PT em 2026, nossa maior propriedade. É o resgate do Xadrez 4D de Bolsonaro. Mas é isso mesmo? De que adianta vencer o PT num estilo tucano, que aplaude abuso de poder supremo e uma "democracia" que tem censura e arbítrio?

A velha imprensa demoniza Bolsonaro todos os dias, e já se encanta com Tarcísio. Isso pode ser muito tentador. O governador pode enxergar nisso uma oportunidade: e no processo acabar se transformando naquilo que essa turma deseja. Mas aí qual seria a grande diferença entre Tarcísio e um típico tucano? Após tantas concessões, a distinção pode ficar impossível de detectar, não?

Flavio Bolsonaro saiu em defesa de Tarcísio, mas o senador sempre foi o mais "pragmático" da família - e também aquele que foi contra uma CPI para investigar os togados. No mundo real é duro bater de frente contra o sistema mesmo. Mas em algum momento será preciso traçar uma linha divisória que separa excesso de "pragmatismo" de adesão completa.

Concessão demais significa abandono de princípios, afinal de contas. E tenho lugar de fala. Eu poderia suavizar minhas críticas, fingir, como Tarcísio, que nossa democracia está muito bem, que o STF tem agido para protege-la e não ameaça-la, e quem sabe assim eu teria minhas contas bancárias descongeladas, minhas redes sociais liberadas da censura e até meu passaporte devolvido. Mas se eu fizesse isso, qual seria meu diferencial em relação a tanto "isentão" que aplaude a censura e finge ser liberal, enquanto defende a tirania?

Quem se curva demais diante do Poder acaba mostrando a bunda para o povo...

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