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Como dizem por aí, o Jornal Nacional foi tigrão com Bolsonaro, e tchutchuca com Ciro Gomes. Assisti a entrevista com o pedetista na íntegra esta terça, e o que mais chamou a atenção não foi a verborragia do candidato, conhecida de outros carnavais, mas sim a mudança abrupta de postura dos apresentadores.

Um dia só de diferença. Parece que mudaram a luz, mais clara para Ciro. Aumentaram o microfone do entrevistado, pois no dia anterior a voz de Bolsonaro estava alguns decibéis mais baixa que a dos entrevistadores. E tomaram dois litros de maracujá!

William Bonner e Renata Vasconcelos estavam visimelmente mais calmos, tranquilos, cordatos, simpáticos, amenos. Bonner chegou a enaltecer o grande “capital político” de Ciro! Os temas polêmicos ficaram totalmente de fora. Não lembraram da fala do candidato sobre receber o então juiz Sergio Moro à bala. Não trouxeram à tona aquela coisa bizarra do papel da sua mulher na campanha, de dormir com ele. Sequer mencionaram aquela atitude coronelista do seu irmão ao jogar uma retroescavadeira em cima de policiais em greve. Nada! Foram muito fofos...

Saímos de uma inquisição abjeta para uma conversa de comadres, eis a síntese. Para adaptar aos tempos modernos, poderíamos jurar que se tratava de um "trisal" tendo um bate-papo agradável. Ou, se os mais apimentados preferirem, um ménage à trois, com todo respeito aos envolvidos. Mas o leitor entendeu o ponto: parecia uma reunião íntima entre amigos ou amantes, nada parecido com a sabatina agressiva da noite anterior. Pareceu-me que a qualquer momento entraria um mordomo levando um chazinho para o trio...

Mudando da linguagem sexual para a futebolística, a posse de bola da dupla entrevistadora ontem foi de uns 10% apenas, enquanto o entrevistado teve uns 90% de posse, e fazia palestras intermináveis sem uma única intervenção. Já Bolsonaro teve no máximo 40% de posse, enquanto os debatedores tiveram a maior parte do tempo para atacar seu adversário, assim visto por eles mesmos.

Os temas também chamam alguma atenção. Num país dominado pela violência, e onde metade do povo sequer tem saneamento básico, a Globo acha que o ambientalismo é a causa mais urgente! O abismo entre a bolha da elite esquerdista e o povo trabalhador é intransponível…

Já Ciro, além de xingar seus adversários, defendeu o imposto sobre "grandes fortunas", uma ideia parida da inveja e que afugenta o capital do país, e também uma "lei anti-ambição", coisa de quem foi servidor público a vida toda - e um político extremamente ambicioso. Ciro também menosprezou o pequeno traficante de droga, alegando que não cometem nenhuma violência, são só "aviãozinho do tráfico", e pioram na prisão. Vamos só dar um livro - de Marx? - para esses "pobres" garotos?!

O contraste entre a entrevista de Ciro ontem e aquela com Bolsonaro na noite anterior foi tanto que muitos passaram a especular o que vai acontecer quando Lula aparecer no JN. Milton Neves brincou: "Que doçura do Wiliam Bonner com o Ciro Gomes, hein? Ontem foi cruel e hj um carneirinho. Isso leva a imaginar na quinta feira o que fará? Um tapete vermelho seria bem coerente!"

Sinceramente, não acho que Bonner será mais leve com Lula do que com Ciro. Ficou claro que o candidato preferido da Globo seria a "terceira via", um esquerdista radical como Ciro. Mas como ele não tem chance, e a única alternativa a Bolsonaro é mesmo o ladrão, a Globo prefere o pacto com o Diabo a aguentar mais quatro anos de torneiras fechadas...

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