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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Temos razões para celebrar nossa república?

“O presidencialismo no Brasil nasceu com um golpe militar que derrubou a Monarquia e proclamou a República em 15 de novembro de 1889. Diz-se que nesse dia o Brasil dormiu monarquista e acordou republicano. Desde lá, tivemos 34 presidentes e sete constituições republicanas. Assim como voltaria a acontecer em 1964, o golpe contou com o apoio das elites militar, política, econômica e intelectual. Era melhor o país não ter dormido”.

Eis como Bruno Garschagen começa o capítulo sobre o positivismo da República presidencialista brasileira, em seu excelente Pare de acreditar no governo. Garschagen, que não esconde suas simpatias monárquicas, argumenta que a Monarquia brasileira caiu por razões ideológicas e políticas, e não é um grande entusiasta do resultado republicano. Como culpá-lo? O que há, de fato, para se comemorar nessa trajetória republicana? Na verdade, que República?

O deputado Paulo Eduardo Martins vai na mesma linha: "Não há o que comemorar. O 15 de novembro de 1889 é o dia em que o Brasil que podia dar certo começou a morrer. D. Pedro II caiu e junto com ele foram-se os valores que davam rumo ao país".

Para ele, o golpe que derrubou a monarquia "foi coisa de meia duzia de positivistas, republicanos sem púbico, que deram um chute em nossos pais fundadores e fizeram do Brasil um país malcriado". Ele acrescenta: "O Império tinha lá os seus problemas, mas nenhum deles seria e nem foi solucionado pela república. Muito pelo contrário. Sem sustentação histórica, a república deu ao Brasil a direção e a estabilidade de uma biruta de aeroporto".

República significa “coisa pública”, e era o modelo idealizado pelos “pais fundadores” americanos contra a simples democracia, que poderia se tornar uma “ditadura da maioria”, como alertara Tocqueville. Na República, ninguém está acima das leis, e temos um governo de leis isonômicas, não de homens com poder arbitrário, acima das leis. Uma rápida observada nos ilustres políticos brasileiros e logo ficará claro que temos qualquer coisa, menos uma República.

Diante desse quadro, não é de estranhar que exista um número crescente de brasileiros que desejam a volta da Monarquia. Não sei se é solução, mas tampouco deve ser algo ridicularizado: vários dos mais ricos países são monarquias, inclusive a Suécia, adorada pelos “progressistas” como o “socialismo que deu certo” (um mito, mas não vem ao caso aqui).

O editorial do Estadão de hoje comentou sobre os desafios de nossa república, após divergir da tese mais negativa sobre o golpe: "A mudança de regime ocorrida em 1889 foi o resultado de um amplo movimento cívico, que teve a ousadia de pensar os problemas nacionais, apresentar propostas concretas e lutar por elas". O jornal continua, dando destaque para a opinião de Arminio Fraga:

“A democracia e a liberdade exigem um complemento de natureza solidária, que espelhe a importância de lacunas que ainda temos. Igualdade de oportunidades e uma rede de proteção solidária são cruciais”

Mas é preciso definir igualdade de oportunidades, uma vez que ela, no limite, é tão utópica e impossível como a igualdade de resultados pregada pelos socialistas. Partimos de lugares diferentes, a começar pela genética, pela família, pela vizinhança, pela herança tanto monetária como intelectual e de valores. Liberais podem falar em melhores oportunidades, nunca em igualdade. A única igualdade aceita pelo liberal é aquela que, de fato, define uma república legítima: igualdade perante as leis. E é isso que não temos!

O que os especialistas escutados pelo jornal desejam está mais para uma democracia igualitária do que uma república, e isso é parte do problema. Os "pais fundadores" da América temiam a democracia igualitária por ela levar a uma "tirania da maioria", que distribui "direitos" e "benesses" e ignora deveres e a proteção das minorias, dos indivíduos. O jornal conclui:

A causa da República não terminou no dia 15 de novembro de 1889. Persistem no País profundas desigualdades e perversos privilégios. Ao mesmo tempo, é de justiça reconhecer o profundo impacto positivo do ideal republicano na trajetória do País. Muito se fez ao longo desses 130 anos. E ainda hoje os valores republicanos inspiram muitas iniciativas e projetos que trabalham pelo bem público. Que a República continue sendo um ideal capaz de unir todo o País.

Há controvérsias. O ideal republicano é louvável sim, mas estamos muito longe dele. O que fica claro é que muitos confundem república com "tirania da maioria", com simples democracia, como se a "escolha da maioria" fosse o suficiente e sinônimo de liberdade. Não é, nunca foi. E no Brasil, como sabemos, sequer temos a escolha da maioria, e sim uma casta minoritária no poder, acima das leis que valem para os demais. Estão escusados, portanto, todos aqueles que não se sentem muito animados para festejar o aniversário de nossa "república".

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