Podemos - devemos - discutir onde escorregamos, mais até do que onde caímos. É compreendendo onde foi que o Ocidente cochilou que podemos tirar as melhores lições para não repetirmos os mesmos erros. A fragilidade ocidental foi um convite à agressão de Putin.
O autocrata imperialista poderia ter sido dissuadido da invasão lá atrás, não fosse uma sequência de erros. Se a Ucrânia tivesse ainda armas nucleares; se a dependência ao gás e petróleo russos não fosse tão grande; se Putin acreditasse que um ataque seria recebido com uma dura resposta militar da OTAN; enfim, talvez essa guerra pudesse ter sido evitada. Mas não foi.
E agora precisamos pensar em como sair do atoleiro. Não há saída fácil aqui. O fato é que Putin já investiu muito de seu capital político na guerra, e tem pouco a perder agora. Daí a posição delicada do Ocidente, uma verdadeira sinuca de bico. As sanções econômicas pesam, mas são insuficientes, até porque o Ocidente não parece disposto ao sacrifício máximo de efetivamente cortar a compra de energia russa.
Temos, então, basicamente três opções para essa guerra daqui para frente: 1. As sanções impostas convencem os oligarcas russos de que Putin precisa sair, os militares se voltam contra o autocrata todo-poderoso da KGB, e chegamos a um final feliz; 2. Putin insiste na ocupação, enquanto os ucranianos não o enxergam como "libertador", conforme ele esperava, e sim como um agressor maldito que precisa ser enfrentado, e a guerra, no seio da Europa, segue por anos ou mesmo décadas em forma de guerrilhas, criando uma crise humanitária e milhões de refugiados no continente; 3. o Ocidente oferece uma saída "digna" para Putin, que pode então reivindicar uma vitória, ficando com alguns territórios separatistas da Ucrânia, que não fará parte da OTAN jamais, e os ucranianos mantêm Kiev e sua nação independente, ainda que bastante devastada.
A primeira e a terceira opção são as melhores, claro enquanto a segunda é a visão do inferno. Ocorre que a probabilidade maior não parece ser das demais, e sim justamente da segunda. A estratégia de pressionar pela economia para um golpe interno derrubar o tirano no poder não tem respaldo histórico favorável. Basta ver Cuba, Venezuela, Irã, Coreia do Norte etc. Regimes nefastos em nações falidas conseguem permanecer no controle por décadas, apesar do custo sócio-econômico.
E Putin comanda a Rússia com mão de ferro desde a década de 2000. Ele esmagou os oligarcas que o desafiaram, destruindo um a um. O Exército russo está com moral baixa, equipamento precário, já teve centenas, quiçá milhares de baixas em apenas uma semana. Mas estamos falando da Rússia, não de uma potência ocidental como os Estados Unidos. Quando a América vai para uma guerra, costuma ser em território distante, com enorme precisão tecnológica militar, e pouquíssimas perdas militares do seu lado, assim como civis do lado adversário. A Rússia é outra história: Putin não liga muito para o sacrifício de homens fardados, tampouco para mortes de civis ucranianos. É por isso que a guerra começa suja, e há poucas esperanças de melhora.
Putin apostou na conquista rápida da Ucrânia. Uma vez que isso não aconteceu, ele não tem muita alternativa, do seu ponto de vista, a não ser intensificar os ataques e permanecer nessa guerra. O Ocidente, de mãos atadas e sem disposição para o sacrifício necessário, tanto militar quando econômico, pode apenas subir a retórica, sem surtir efeito prático. É com base nessa análise que não consigo ficar muito otimista com um desfecho rápido para a guerra. Mas espero estar totalmente enganado, claro...
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