Quando a quadrilha petista chegou ao poder, a área de política dos jornais passou a ser confundida com a área de polícia. Os escândalos de corrupção passaram a fazer parte do nosso cotidiano, ainda mais do que o comum. O mensalão, não custa lembrar, estourou ainda em 2005, e desde então a coisa não parou mais.
Michel Temer assumiu o posto após o impeachment, ele que era vice-presidente de Dilma e ícone da velha política, do centrão fisiológico. Em uma escuta armada para incrimina-lo, Temer apareceu tendo conversas pouco republicanas com Joesley Batista, da JBS. Ninguém ficara surpreso, porém, em se tratando de quem era o presidente.
Bolsonaro tem muitos defeitos. Mas, justiça seja feita, completa seu primeiro ano de mandato sem qualquer escândalo de corrupção, o que é louvável. A bandeira ética foi muito explorada na campanha pelo atual presidente. É verdade que a suposta "rachadinha" praticada por seu filho Flávio, que teria cometido peculato segundo Janaina Paschoal, abre uma cratera nessa imagem de "incorruptível", que a família toda vendeu ao público. Mas o Executivo deu sim uma guinada rumo à moralidade, ao menos até aqui. Comentei sobre isso no Jornal da Manhã hoje:
Não podemos ignorar os sinais de alerta. O ministro do Turismo é um complicador para o discurso bolsonarista, assim como o líder do governo no Senado. Há, ainda, o gradual afastamento do presidente em relação ao ministro Moro, o que fica visível na mensagem contrariada do ex-juíz, que comemorou a sanção ao seu projeto anticrime, apesar da inclusão do juiz de garantias, que não foi vetada por Bolsonaro.
Bolsonaro sancionou com 25 vetos o projeto anticrime. A Casa Civil havia recomendado uma rejeição maior à proposta, de 38 vetos. Moro lamentou especificamente o juiz de garantia, emenda defendida pelo socialista Marcelo Freixo. Mas a narrativa chapa-branca é de que não compensava se "indispor" com o Congresso. Não cola! J.R. Guzzo, que tem feito análises positivas do governo, reagiu com firmeza contra a "frouxidão" do presidente nesse caso:
Comentei sobre o assunto no Jornal da Manhã:
E acrescentei o alerta de que Bolsonaro e Moro parecem caminhar em direções não tão iguais, o que é preocupante:
Em suma, Bolsonaro tem o direito de se vangloriar de um ano limpo, mas deve tomar cuidado para que fantasmas do passado não venham assombrar o resto do seu governo. Se, para proteger seu filho e a si mesmo, ele se afastar mais e mais do combate à corrupção, seus eleitores serão implacáveis. Há uma militância bovina, fanática, "casada" com seu "mito" não importa o que aconteça; mas a maioria pensa diferente, e não tem bandido de estimação.
É recomendável lembrar que Robespierre, o "incorruptível" da Revolução Francesa, também acabou degolado pelos jacobinos que ajudou a criar...