Joãozinho era um menino muito travesso. Quando pequeno, ele gostava de usar o estilingue que ganhou de presente do avô para lançar bolinhas molhadas de pão nas galinhas da fazenda de seu tio. O moleque se divertia quando conseguia acertar a mira e uma galinha saltitava estabanada. Sua mãe, quando descobriu, deu-lhe uma bronca, mas sem exagerar, pois considerava aquilo somente uma travessura de garoto.
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Mal sabia ela que Joãozinho estava, na verdade, preparando-se para se tornar um terrorista quando adulto. Se sua mãe desconfiasse desse perigo, jamais teria dado de presente ao filho uma coleção de seis bolinhas de gude. No começo, é verdade, Joãozinho usava as bolinhas apenas para brincar na areia com seu primo, com a bolinha percorrendo trajetórias ousadas até acertar a adversária. Mas era questão de tempo até Joãozinho juntar lé com cré...
Munidos com o estilingue, as bolinhas de gude e o batom, Joãozinho e Debora se misturaram aos demais golpistas, alguns armados com algodão-doce e outros com a Bíblia ou uma bandeira nacional
Certo dia, já maior, Joãozinho olhou para suas bolinhas de gude no canto do quarto, e depois olhou para seu belo estilingue de madeira em cima da mesa. Parado por alguns segundos refletindo, o jovem Joãozinho teve uma epifania! E se ele juntasse as duas coisas? Um sorriso mefistofélico brotou em seus lábios. Sim, era isso que ele queria fazer de sua vida!
No bairro perigoso da periferia onde morava, muitos de seus amigos de infância tinham seguido o rastro de traficantes poderosos. Começaram como aviãozinhos e depois muitos prosperaram na hierarquia do PCC. Em apenas sete anos, cerca de trinta traficantes ligados ao PCC saíram pela porta da frente das prisões, e o próprio STF colocou alguns em liberdade. Joãozinho queria mais adrenalina, mais risco...
Por isso ele tomou uma decisão crucial em sua vida: não seria do PCC, nem mesmo do Black Blocs, da Antifa ou do MTST. Ele acompanhava o noticiário e sabia que essa turma era sempre poupada pela Justiça, que não tinha problema sequer jogar coquetéis Molotov em prédio da Fiesp, pois nunca ninguém era preso. Joãozinho precisava flertar com riscos maiores.
Foi aí que resolveu se tornar um golpista. Pegou seu estilingue e suas seis bolinhas de gude, convocou sua amiga Debora, uma cabeleireira que tinha um batom como arma, e ambos foram para Brasília no dia 8 de janeiro, protestar contra a volta do ladrão à cena do crime, como diria seu próprio vice. O PCC era pequeno demais para Joãozinho e Debora. Eles pretendiam alçar voos mais altos, derrubar todo o sistema, destruir a democracia do país.
Munidos com o estilingue, as bolinhas de gude e o batom, Joãozinho e Debora se misturaram aos demais golpistas, alguns armados com algodão-doce e outros com a Bíblia ou uma bandeira nacional. Mas eles não contavam com a astúcia, a coragem e o espírito público e democrático do ministro Alexandre de Moraes, que conseguiu impedir o golpe e mandou vários dos terroristas, inclusive Joãozinho e Debora, para a prisão por mais de uma década.
A democracia fora salva, e Joãozinho, mofando atrás das grades, pensou: "É, eu deveria ter escutado meus amigos e seguido os passos deles no PCC. Hoje estaria em liberdade, talvez até no Senado Federal..."
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