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Rodrigo Constantino

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Um resumo dos números da economia em 2019

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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

Com a divulgação dos números das contas nacionais referentes a 2019, dá para fazer um balanço geral do ano em comparação com os anos anteriores. A tabela abaixo resume os dados que serão usados no post.

Sei que estou em desacordo com a maioria dos meus colegas de profissão, inclusive aqueles que muito respeito, mas o maior problema de 2019 foi o crescimento da inflação que, ao contrário de 2017 e 2018, ficou acima do centro da meta. Sei que houve um aumento inesperado no preço da carne, mas em 2018 tivemos uma greve de caminhoneiros com forte impacto nos preços e nem por isso a inflação ficou acima da meta. Creio que a prioridade do governo este ano deveria ser trazer a inflação de volta para baixo da meta, que agora é de 4%.

O crescimento ficou dentro do esperado, considerando o estrago feito na economia,  principalmente no período entre 2010 e 2014. Um número muito mais alto é que seria preocupante. Não é hora de estímulos em busca de PIBão, a hora é de tentar arrumar a casa para evitar outra década perdida. A taxa de investimento ficou mais ou menos onde estava em 2018, um pouquinho maior. Assim como no caso de crescimento, seria possível um número maior, mas seria ruim se isso acontecesse. Uma retomada do investimento antes de maiores avanços nas reformas seria um sinal de que o governo estaria abusando de estímulos. O desemprego mostrou pequena redução, compondo o cenário de lenta recuperação da economia.

O aumento da despesa primária é preocupante, principalmente porque sabemos que parte desse aumento decorre de bondades com a corporação do Presidente da República. Definitivamente não era hora de dar aumentos nem de capitalizar estatais. O lado bom é que, como proporção do PIB, já usando os números divulgados hoje pelo IBGE, houve queda da despesa primária. A dívida interna subiu em proporção do PIB, mais um sinal de que temos um ajuste fiscal que não reduz gastos.

A queda da Selic é frequentemente comemorada como o grande feito do ano. Eu estou fora dessa comemoração. O aumento da inflação e a (pequena) queda no crescimento mostram o risco de, entre inflação e recessão, o governo escolher a primeira e ficar com as duas. Não estou dizendo que isso ocorreu, apenas registrando o risco. Tal qual o torcedor que não confia no goleiro do time dele, fico na arquibancada torcendo, mas nervoso. Outro efeito da redução dos juros foi a saída de dólares e a desvalorização do real que está ganhando (muita) força este ano. Câmbio mata, já dizia o mestre; até agora a desvalorização não chegou na inflação, ponto para o BC, mas o perigo existe e aumenta a cada rodada de desvalorizações. Por quanto tempo as empresas que tiveram aumento de custos com a desvalorização do real ainda vão conseguir segurar os reajustes de preços? Essa conversa de que não existe risco de inflação com recessão ou baixo crescimento não resiste a uma olhada em nosso vizinho do norte, nem no nosso vizinho do sul e nem mesmo no nosso passado.

Minha leitura do quadro descrito na tabela acima é de que, do lado real, a economia continua no mesmo ritmo do ano passado, o que não é surpresa, dado que o atual governo está mantendo a linha reformista do governo anterior. A preocupação está no lado nominal: o aumento de inflação e a desvalorização do real, esta última muito reforçada no começo deste ano, deveriam acender uma luz vermelha na condução da política monetária. Não parece que vai ser o caso, pelo contrário; notícias de jornais sugerem que o Banco Central vai entrar na onda do FED e de outros bancos centrais pelo mundo e apostar na redução de juros para enfrentar um choque de oferta. Mais um pouco e macroeconomistas vão anunciar que não precisamos mais nos preocupar com quarentena, vacinas e coisa do tipo, afinal redução de juros agora é remédio até para gripe.

Nota: A inflação é medida pelo IPCA, conforme divulgado pelo IBGE. O crescimento e taxa de investimento estão nas contas nacionais trimestrais – esta última foi calculada como a razão entre formação bruta de capital fixo e o PIB. O desemprego foi medido pela taxa de desocupação no último trimestre de cada ano, conforme os dados da PNAD. A despesa primária está em reais de janeiro de 2020 e foi obtida na STN. Para calcular a despesa primária como proporção do PIB, foram usados os dados em valores correntes também disponibilizados pela STN. A dívida interna é a calculada pela STN; foram usados os valores de dezembro de cada ano. A taxa Selic pode ser encontrada na página do Banco Central; usei a que estava valendo na última semana de cada ano. A taxa de câmbio é a de dezembro de cada ano, conforme o portal da ADVFN Brasil.

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