O PSDB já desconfiou de eleições presidenciais quando Aécio perdeu de forma estranha para Dilma em 2014. O partido contratou auditoria externa, mas concluiu que esta era impossível. O líder tucano à época, deputado Carlos Sampaio, leu o resultado, deixando no ar a preocupação com a lisura do processo.
Vários outros políticos de esquerda já desconfiaram no sistema eleitoral controlado pelo TSE. Requião, líderes do PDT, e até mesmo Lula. Em 2002, Lula teria colocado em suspeição o uso das urnas eletrônicas, como mostra reportagem de Fábio Zanini na Folha de SP:
O petista levantou dúvidas sobre a "infalibilidade" do processo eleitoral. "Nada é infalível, só Deus. Vamos pegar o que aconteceu aqui, quantas denúncias já foram feitas de defunto que vota, de cidades que têm mais eleitores do que habitantes." Para ele, dado esse histórico, "não sabemos se a urna pode ser manipulada ou não". Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou laudo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) dizendo que o sistema eletrônico não permite fraude.
Ou seja, desconfiar de um sistema centralizado e opaco sempre foi algo natural no Brasil, até porque países com tecnologia bem mais avançada que o nosso rejeitam esse modelo, para garantir maior transparência e possibilidade de aferição pública dos votos.
Mas eis que, no governo Bolsonaro, virou dogma repetir que nosso sistema é inviolável. E quem ousar criticar, ou "atacar" esse processo eleitoral, será rotulado de golpista e poderá acabar preso. Teve um "jornalista", que foi devorado pelo monstro do boleto faz tempo, que chegou a comparar a desconfiança com as urnas com o terraplanismo! Amém.
A postura dos ministros do STF e do TSE em nada ajuda. Fachin, o garoto-propaganda de Dilma e simpatizante do MST, achou adequado rodar o mundo insinuando que poderá haver um golpe no Brasil, algo pior do que a invasão do Capitólio nos Estados Unidos. Fachin acha inteligente alfinetar as Forças Armadas e também o presidente, mandando "recadinho" e desqualificando qualquer dúvida em relação ao processo eleitoral.
É nesse contexto que a reunião de Bolsonaro com vários embaixadores nesta semana foi tão importante. Serviu para que o presidente colocasse o mundo a par das narrativas golpistas do sistema, que não tolera qualquer crítica ou desconfiança. Não se pode achar estranho o malabarismo desses ministros para a soltura de Lula, depois elegível num esquema ainda mais bizarro. São os mesmos que perseguem bolsonaristas, e que vão cuidar de todo o processo eleitoral. Mas ai de quem se sentir desconfortável com isso tudo...
O pastor Álvaro Junior publicou um texto para a reflexão geral que merece ser reproduzido aqui, e que teve alerta do Facebook com link para o site do TSE para "encontrar informações oficiais sobre as eleições de 2022":
1. Nenhum técnico ou Ministro do TSE se dignou a estar na Câmara ou Senado para prestar esclarecimentos sobre urnas eletrônicas; 2. Toda dúvida sobre este assunto é tratada como ofensa punível; 3. Esta postura de crença religiosa em um artefato tecnológico desvia a questão do principal; 4. É direito constitucional de cada brasileiro ter a certeza de que seu √oto foi computado e pode ser auditado; 5. É injusta a argumentação de que não há prova de fraudes, sendo que estas, aparentemente, nem poderiam ser verificadas; 6. Houve uma invasão por 8 meses no sistema, por um hacker, e os dados foram apagados sobre o que ele obteve neste tempo, o que torna tudo muito suspeito; 7. O Parlamento já havia aprovado o voto impresso e, por uma ginástica jurídica, o STF conseguiu tornar isso inconstitucional; 8. O fato deste governo ter sido eleito pelo voto eletrônico legitima, não enfraquece o direito dele questionar; 9. Por tudo isso o debate deve persistir, apesar do permanente descaso e desrespeito do alto judiciário para com os demais poderes; 10. No mínimo teremos garantido mais um pouco do nosso direito à transparência. Então não há porquê ser contra.
Em suma, quem já tinha motivos para desconfiar de nossas urnas, hoje tem muito mais razão para se mostrar cético e suspeitar de fraude. O esforço do sistema podre em transformar a urna num símbolo sacrossanto da democracia e repudiar qualquer tentativa de oferecer maior transparência ao processo apenas alimenta mais suspeita.
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