Robson acordou cedo. Mais um dia de trabalho. Ou melhor, de crime. Em seu país, o ditador tinha tornado ilegal o uso de VPN para acessar o X, a plataforma mais relevante para informações políticas do mundo. Robson sabia que muita gente não podia simplesmente abandonar essa ferramenta crucial, que os prejuízos chegariam a bilhões de dólares, e como a demanda não desapareceria, a oferta teria de ser no mercado negro agora.
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Ele era o homem certo para isso. Conhecia as vielas mais obscuras da cidade, estava acostumado a circular por becos escuros e perigosos. Colocou sua cartela de VPNs no bolso, uma trouxa de maconha para disfarçar, no caso de ser parado pela polícia, e foi à luta. Era preciso matar um leão por dia, até porque tinha dois filhos para cuidar sozinho, já que sua esposa estava presa por ter usado um perigoso batom numa estátua.
Robson tomou uma decisão radical em sua vida: tentaria entrar clandestinamente na Venezuela. Lá havia um ditador cruel também, como em seu país. Mas ao menos a venda de VPNs era permitida...
Ao mirar em um sujeito com potencial de cliente, Robson se aproximou cuidadosamente e, baixinho, sussurrou em seu ouvido: "Metanfetamina? Erva do capeta? Uma pedrinha de crack?" Ao notar a reação do indivíduo, que movimentava rapidamente as mãos em negativa, Robson deu o bote de comerciante nato: "Vai uma VPN aí, chefia?" O outro mudou abruptamente de postura e pareceu bem interessado: "Que tipos você tem?"
Pronto! Robson sabia que tinha fisgado mais um espírito livre, que ali habitava um rebelde disposto a correr riscos para se informar e preservar sua liberdade básica. "Olha, tenho VPN de todos os tipos. A Proton é boa e barata, mas não é das mais confiáveis. Tem uma russa aqui que é porrada. Chama-se Kaspersky, tem tempo ilimitado e dá acesso para seis pontos". Foi batata. Mais um cliente. Mais um dia de jantar garantido para seus filhos.
O dia começara bem e promissor. Mas Robson não tinha como saber que seu próximo alvo era um policial à paisana, disfarçado de rebelde. Quando fez a oferta indecorosa, o cara sacou seu distintivo de Jagunço Federal e deu ordem de prisão a Robson. Desesperado, pensando em seus filhos, ele tentou argumentar e apelar às emoções decentes do sujeito, em vão. Sem alternativa, ofereceu uma "cervejinha" para deixar passar. A sorte de Robson e outros como ele era a corrupção estrutural dos jagunços. Negócio fechado, vida que segue.
Mais arisco, Robson continuou sua jornada, pois a outra opção era matar seus filhos de inanição – o mercado de trabalho formal estava péssimo, pois só havia contratações no setor público por meio de esquemas com sindicalistas, e isso Robson não aceitava fazer por princípios morais. Na próxima abordagem, que parecia correr bem, Robson notou jagunços se aproximando. Livrou-se de suas VPNs, jogando-as no esgoto, e se misturou aos zumbis da Cracolândia, seguro de que ali estaria protegido da polícia.
Conseguiu escapar dessa vez, mas não aguentava mais esse patamar de risco. Robson tomou, então, uma decisão radical em sua vida: tentaria entrar clandestinamente na Venezuela. Lá havia um ditador cruel também, como em seu país. Mas ao menos a venda de VPNs era permitida...
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