Comentário no Jornal da Manhã de hoje:
Em entrevista ao Globo, o empresário Flávio Rocha deu o seguinte conselho ao governo Jair Bolsonaro: “Eu acho que tinha que desligar o Twitter. Se o Carlos Bolsonaro quer ajudar, comportamentos típicos de campanha têm de ser deixados para trás e agora tem que ser um comportamento típico de agregação. Agora é hora de construir, de aglutinar, a eleição foi ganha, conscientizando uma grande maioria que não sabia da força que tem, que é o contigente dos liberais na economia e conservadores nos costumes. Mas agora a hora é de alargar este leque.”
Desnecessário dizer que o empresário está certíssimo. Vários têm feito o mesmo alerta, mas Bolsonaro parece não conseguir abandonar o modo de campanha. Sei que muitos bolsonaristas estão do lado do presidente não importa o que aconteça, e eles estão certos ao condenar o que passou a ser chamado de velha política. Em suas cabeças, ou Bolsonaro veio para inovar na forma de fazer política, ou de nada adiantou sua vitória. Mas essa é uma visão limitada e romântica da política.
Ninguém aprecia o toma-lá-dá-cá, a troca de cargos e emendas por votos. Mas o que essa turma realmente quer? Que Bolsonaro não consiga aprovar a reforma previdenciária? E qual será o efeito prático disso? A queda de Paulo Guedes? O dólar disparando para seis reais? E isso será positivo para seu governo, por acaso?
O voto dos parlamentares também é legítimo, tanto quanto o de Bolsonaro. Eles representam seus eleitores. Repetir que Bolsonaro já fez sua parte ao entregar a proposta da reforma, e que agora a bola está com o Congresso, é ignorar como a política de fato funciona. Se o próprio presidente não se mostrar engajado o suficiente na aprovação dessa reforma, ela não vai sair do papel. E aí será o caos. Mesmo que os bolsonaristas comemorem a intransigência do “mito” em relação aos velhos caciques políticos. É hora de acordar para a vida como ela é, e não como gostaríamos que fosse. Antes que seja tarde demais…
Rodrigo Constantino
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