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Comentário de hoje no Jornal da Manhã:
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O governo Bolsonaro apresentou sua reforma previdenciária, que é séria e robusta, ainda que muito aquém do que realmente necessitamos. O economista Ricardo Amorim chegou a chama-la de frouxa, e Arminio Fraga reconheceu que ela é menos do que precisamos. Ambos estão certos. Uma reforma ideal seria bem mais dura, criaria contas de capitalização para todos, atrelando a aposentadoria ao que foi efetivamente poupado por cada um ao longo da vida de trabalho.
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Mas o ótimo é inimigo do bom, e em política vale aquilo que é possível, não desejável. Nesse sentido, a proposta de Paulo Guedes, com economia superior a um trilhão de reais em dez anos, é o que temos para o jantar, e ao menos estanca a sangria fiscal desatada. A questão, naturalmente, é quais mudanças a proposta sofrerá no Congresso.
Paulo Guedes disse que “vai ser uma surpresa muito grande se mexerem muito nesse projeto”. Ele acrescentou que um trilhão é uma linha muito importante, a garantia de que podemos acelerar a transição, criando novas opções para gerações futuras. “Cada vez que nós mexermos nesse número para baixo, estaremos sacando contra o futuro dos nossos filhos e netos”, concluiu.
E ele está certo, claro. Mas parece otimismo contar apenas com a “classe política esclarecida”, como se essa ala fosse realmente maioria, quiçá os 60% necessários para aprovar a reforma. Não há alternativa: a “velha política” teve sua morte decretada de forma muito precoce pelos puristas. Será preciso fazer uma boa “articulação”, leia-se liberar verbas, indicar gente para o segundo ou terceiro escalão, adotar minimamente um toma-lá-dá-cá. É como a política real funciona, e ela não é para românticos, ingênuos ou amadores. Deputados e senadores seguem seus próprios interesses, que normalmente não batem com aqueles da nação. “It is what it is”, como dizem os americanos realistas.
Desde que não haja corrupção – e ceder aos interesses políticos das bancadas não significa necessariamente corrupção, mas sim contemporização – tudo bem: é um preço aceitável para passar a reforma e salvar nossa economia. A alternativa é quebrarmos, ainda que mantendo a pose de idealistas intransigentes…
Rodrigo Constantino
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