Comentário de hoje no Jornal da Manhã:
O grupo de “comunistas vendidos traidores” só aumenta. Já conta com os de sempre, além de Janaina Paschoal, Joice Hasselmann, Lobão, eu, Carlos Andreazza, a turma do MBL, o humorista Joselito Muller, os militares e quem mais ousar discordar de uma vírgula da ala mais radical do bolsonarismo.
Pergunto: isso é uma forma de agregar? Isso contribui para construir pontes? Se a “direita verdadeira” afasta cada vez mais gente de direita, não é indício de que há algo de errado com essa postura intransigente ou fanática?
O universo dos “puristas” tende a nulo, eis o ponto. Eventualmente quem tiver alguma independência vai esbarrar numa bandeira que rejeita, e isso será o suficiente para se tornar o mais novo herege a ser lançado na fogueira da Inquisição. A quem interessa essa mentalidade? Ao governo? À direita? Ao Brasil?
Como afirma Czeslaw Milosz, em “Mente cativa”: “O inimigo, de forma potencial, sempre estará presente; o único aliado será o homem que aceitar a doutrina 100%. Se ele aceitá-la apenas 99%, necessariamente deverá ser considerado um inimigo, pois do 1% remanescente pode surgir uma nova igreja”.
Os jacobinos, durante a Revolução Francesa, queriam implodir todo o Antigo Regime, visto como irrecuperável. Colocaram em seu lugar o Terror e a guilhotina, e com o tempo até seus líderes foram degolados como traidores. A mentalidade que está sendo disseminada pelo bolsonarismo, de que ninguém presta fora do círculo bolsonarista, é muito perigosa.
O próprio presidente disse que o problema do Brasil é a classe política. Deixando de lado como exatamente essa fala ajuda na aprovação das reformas necessárias do seu governo, resta perguntar: o autor é o mesmo que foi do baixo clero da Câmara por quase 3 décadas e tem 3 filhos na política? Um pouco mais de cautela e menos populismo não faria mal a ninguém.
É preciso lembrar que na democracia o caminho é o diálogo, não a faca no pescoço. Se Bolsonaro apostar no apoio do “povo”, vai acabar descobrindo que ninguém detém o monopólio dos seus desejos. Que, aliás, nem sempre são coerentes…
Rodrigo Constantino
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