Comentário de hoje no Jornal da Manhã:
Esse fim de semana foi a estreia do tão esperado Vingadores: Ultimato, o último filme da saga dos superherois da Marvel. Confesso que adoro esse tipo de filme como puro entretenimento, apesar de reconhecer também o papel mais filosófico dos mitos e seus dramas e dilemas, para aquilo que Burke chamou de “imaginação moral”. Infelizmente não pude ver ainda, pois foi o fim de semana em que fiquei com meu bebê. Mas mesmo que pudesse ir, não seria capaz sem planejamento antecipado: todas as salas estavam lotadas!
E eis o ponto: mesmo ocupando mais da metade das salas de cinema, a demanda é tanta que há escassez de lugares. Pelo visto não sou o único que gosta desses tipos de filme com produção multimilionária, incríveis efeitos especiais, aventura e diversão. Mas há quem não aceite muito bem a demanda popular. E pior: há quem queira determinar o que deve ser visto pelo público enquanto se diz liberal! Nada mais iliberal do que desejar escolher pelos outros.
Kleber Mendonça Filho escreveu uma mensagem criticando o espaço cedido ao filme novo da Marvel. O Brasileiro “De Pernas Pro Ar 3” estaria perdendo 300 salas com a estreia do filme dos superheróis, e isso, segundo ele, é um “mercado sem lei”, com a lógica de “subtrair para ganhar”, e não a de “somar com diversidade”. “Os dois filmes poderiam ir bem, sem desequilíbrio”, conclui. Mas sem explicar como.
Traduzindo: ele quer a intervenção estatal para “equilibrar” melhor a oferta de salas, sem levar em conta a demanda do povo. Elena Landau, que se diz uma liberal, concordou: “Tá certíssimo. 90% de salas para um filme só e ainda retirar um filme que estava com demanda firme e crescente é um absurdo”, desabafou aquela que, ironicamente, ficou conhecida como a musa das privatizações. “Não há justificativa para isso”, concluiu. Há sim: chama-se demanda.
Os defensores de cotas para o cinema nacional querem apenas reserva de mercado, querem usar coerção estatal para forçar os cinemas a garantir espaços mesmo quando a decisão mais racional seria atender a demanda do público, que prefere os filmes estrangeiros. Não é com protecionismo que o cinema nacional vai avançar, como não é assim que setor algum avança. A indústria automotiva, por exemplo, é o infante mais velho que existe: há 70 anos se fala em proteger o setor para permitir ganhos de produtividade. A única saída é a livre concorrência, e que o consumidor seja a última voz na hora de escolher o que consumir.
Rodrigo Constantino
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