Comentário de hoje no Jornal da Manhã:
Uma reportagem deste fim de semana falou na criação de um novo partido para abrigar a família Bolsonaro e seu núcleo duro, uma vez que o PSL tem dono – Bivar – e não passa muito de uma legenda de aluguel, envolta em problemas de laranjas. A sigla a ser criada para receber Bolsonaro e sua turma seria a velha UDN, que já foi ícone da visão liberal-conservadora. Mas será que o udenismo combina com essa visão nacionalista de Steve Bannon, o “guru” de Eduardo Bolsonaro e criador do “Movimento” para combater o globalismo?
Direi logo que não sou nacionalista e não creio que o seja a UDN, ou não estaria nesse partido. […] Nem admito que se pretenda trazer para dentro da UDN o dilema que os comunistas procuram armar fora dela, e contra ela, dilema segundo o qual quem não é nacionalista é entreguista, isto é, quem não coloca a Nação acima de tudo coloca-a abaixo de outra nação.
Eu não coloco a Nação acima de tudo. E quero deixar de uma vez por todas bem claro o meu ponto de vista, que penso deva ser o de um partido democrático. Considero o nacionalismo, isto é, a ideologia que visa a colocar a Nação acima de tudo, uma noção totalitária. A Nação está abaixo da Pátria e até esta, abaixo do Homem. Tudo o que o Homem criou, desde que foi ele próprio criado, destina-se a servir à sua liberdade de escolha, à sua razão, à sua vida natural e, para os crentes, à sobrenatural. A Nação é uma dessas criações, e não a mais feliz nem definitiva. Não é preciso nos embrenharmos numa análise da origem do nacionalismo, que levaria muito longe embora fosse instrutiva, para afirmar que o nacionalismo é a doença do patriotismo, como “a demagogia é a doença da democracia”.
São pontos relevantes, pois vejo muitos confundindo um patriotismo saudável e útil à causa social com um nacionalismo tribal, xenófobo e ufanista, extremamente prejudicial aos cidadãos. Todo patriota pode e deve colocar sua Pátria como uma prioridade. O que não deve fazer é endeusar a Nação e passar a encarar indivíduos como meios sacrificáveis, peças descartáveis no tabuleiro de xadrez coletivista. É isso que muitos nacionalistas fazem.
Rodrigo Constantino