Comentário de hoje no Jornal da Manhã:
Bolsonaro nunca foi unanimidade entre os liberais. Ao contrário: vários sempre deixaram claro que era preciso aturar o capitão porque a alternativa concreta era a volta do PT. A proximidade com Paulo Guedes deu um aval importante, um verniz que faltava e uma esperança aos liberais. Mas muitos se mantiveram céticos com esse casamento. E esse foi o tema da coluna de Merval Pereira neste domingo:
“No fundo da alma Bolsonaro não mudou a maneira de pensar, apenas adaptou-se às necessidades eleitorais do momento.” Há um fator pragmático, sem dúvida, mas até que ponto o presidente está mesmo convencido da importância do liberalismo? Merval continua:
Mas não é por acaso que ele volta e meia repete que gostaria de não ter que fazer a reforma da Previdência, mexendo no que considera “direitos adquiridos”, a favor dos quais sempre votou, contrário às reformas apresentadas pelos governo antecedentes.
A intervenção no preço do óleo diesel aconteceu também por cálculo político. Nunca é bom esquecer que Bolsonaro estava apoiando a greve dos caminhoneiros no governo Temer, ao lado dos manifestantes que pediam a volta dos militares ao poder. Era um grupo pequeno, mas que chamou a atenção e foi ganhando novas dimensões com o decorrer da paralisação.
Congelar preços para evitar uma greve de caminhoneiros que foi fomentada pelo próprio bolsonarismo no passado recente; manter TV Brasil (da EBC) e demais estatais, rejeitando privatizar até os Correios; dar décimo-terceiro para o Bolsa Família; conceder passaporte diplomático para filhos; perseguir e intimidar todos os críticos na imprensa e nas redes sociais: alguns começam a se perguntar até onde deve ir o “pragmatismo” para derrotar o PT?
Até porque o PT já foi derrotado e quem está no poder é Bolsonaro, que carrega junto não só a ala liberal e a ala militar, mas a ala ideológica influenciada por figuras como Olavo de Carvalho e Steve Bannon, um nacional-populista autoritário.
Guedes, depois de mostrar constrangimento e responder aos jornalistas com um silêncio ensurdecedor sobre a medida populista na Petrobras, disse que com conversa dá para resolver as coisas. Mas será que dá mesmo? Se Bolsonaro admite nada entender de economia, por que não consultou seu posto Ipiranga antes de anunciar a suspensão do aumento de preço do diesel? Será que Bolsonaro de fato escuta os liberais? É essa pergunta que cada vez mais gente vai fazer, inclusive no mercado financeiro. E dessa resposta depende o futuro do país e do governo…
Rodrigo Constantino
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