Uma das promessas de Tarcísio de Freitas (Republicanos) quando era candidato a governador do Estado de São Paulo foi acabar com a maior cracolândia do país. A região que concentra venda e consumo de drogas no centro do município de São Paulo já passou pelas mais diferentes gestões tanto na prefeitura quando no governo do Estado, mas todas foram insuficientes para acabar com o problema crônico de saúde e segurança pública que prejudica a utilização do espaço público, bem como a oferta de bens e serviços nas regiões onde o tráfico de drogas se instala.
Diferentemente de gestões anteriores do PSDB à frente do governo do Estado, Tarcísio vem adotando uma postura mais discreta para combater o tráfico de drogas na região. Ao invés de optar por ações mais midiáticas, que envolvem o envio de tropas policiais e cavalaria para dispersar o uso e venda de drogas, Tarcísio nos cinco meses de gestão tem feito um trabalho silencioso que envolve principalmente investigações da Polícia Civil para identificar os traficantes que atuam na região.
"A grande mudança é diferenciar o criminoso do usuário. O criminoso precisa ser investigado e o vulnerável precisa ser de fato cuidado", diz Police Neto, subsecretário de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano do estado de São Paulo. "Antes se fazia o 'arrastadão', chegava 300 homens, cavalaria, foto para jornal e não adiantava nada porque se espalhava o vulnerável e o criminoso juntos, de maneira que não se prendia ninguém e logo todo o problema estava de volta", complementa.
Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que "a ampliação da parceria existente entre o poder público e a comunidade na região e as diversas operações realizadas na área pelas polícias Militar, Civil e Técnico-Científica, estão fomentando esse início de reversão do cenário local que degradou, por décadas, a segurança local".
De acordo com a SSP, nos três primeiros meses do ano as prisões na área central aumentaram 53% e, em abril, após 15 meses de alta, os roubos e furtos caíram 13,4% e 24,1%, respectivamente. Entre as medidas adotadas, estão "o reforço do policiamento em mais 120 homens, sendo 80 em motocicletas", e ampliação das ações da Polícia Civil "com a atuação de 50 agentes que investigam crimes no Centro". Há, ainda, a chamada Operação Resgate, "desencadeada para sufocar o tráfico de entorpecentes e crimes patrimoniais praticados nas chamadas 'cenas abertas de uso'". De janeiro até o último dia 7 de maio, a Operação prendeu 142 infratores e apreendeu 345 quilos de drogas.
A SSP informou, ainda, que foi criado um diagnóstico criminal das Cenas Abertas de Uso que é atualizado semanalmente e tem o objetivo de medição, transparência e implementação de políticas públicas para essa área. "As ações ocorridas entre os dias 24 e 30 de abril resultaram na prisão em flagrante de 54 infratores por furto, tráfico de drogas, roubo, receptação, homicídio, resistência, estelionato e associação criminosa. Um procurado também foi capturado".
A prefeitura de São Paulo, por sua vez, informou em nota que a Secretaria Municipal da Segurança Urbana (SMSU) adotou "uma série de medidas para a melhoria da segurança da região como a ampliação do número de viaturas e motos, permitindo a intensificação do patrulhamento no Centro, além de um concurso público para a contratação de 1.000 novos agentes para compor o quadro da corporação". De acordo com o órgão, "os novos alunos-guardas já iniciaram o treinamento na Academia de Formação em Segurança Urbana e, no primeiro semestre deste ano, o novo efetivo estará à disposição da cidade".
Outra medida adotada foi a decisão de instalar 2,5 mil câmeras de videomonitoramento, distribuídas em pontos de maior incidência de criminalidade. De acordo com a prefeitura, "a iniciativa faz parte das ações da plataforma Smart Sampa, que tem como proposta trazer o conceito de cidades inteligentes, conectadas e mais humanizadas para capital, integrando serviços municipais e estaduais", que são acompanhados pela Central de Monitoramento da GCM.
Maior presença da polícia gera efeitos colaterais no comércio da região
Apesar dos esforços para combater o tráfico de drogas na região, um efeito colateral que também ocorreu em outras gestões é a transferência da venda dos entorpecentes para outras regiões. Outra consequência é a retaliação por parte dos usuários. Há aproximadamente um mês, comércios na região central, entre eles uma farmácia e um supermercado, foram invadidos por diversos usuários de drogas, no que foi visto pelos comerciantes como uma espécie de retaliação às autoridades, orquestrada pelo crime organizado, por aumentarem as ações policiais.
De acordo com Roberto Mateus Ordine, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o movimento mensal dos comércios da região caiu de 60% a 70% em relação ao final do ano passado. Além do impacto no movimento de compradores, os comerciantes estão tendo de tomar medidas como a contratação de segurança ou mudança para vendas somente à distância, o que os permite manter o funcionamento, mas de portas fechadas.
"A situação é muito preocupante. Os usuários de drogas se espalharam e recentemente foram para a região de Santa Cecília. Quem mora ali não consegue sair. Durante a semana o movimento da rua Santa Ifigênia [conhecida por concentrar lojas de eletrônicos] parecia o de um domingo.
Não é possível que uma cidade como São Paulo tenha esse problema de não abrir o comércio", diz Ordine. "Já tivemos momentos ruins, mas não como agora. Infelizmente quando os usuários ficavam concentrados a segurança era maior, hoje as pessoas estão tentando arrombar lojas à noite. Sob o ponto de vista econômico, os comerciantes estão vivendo um momento muito ruim", complementa.
Além do combate ao tráfico de drogas em si, o governo do Estado e a prefeitura estão adotando medidas paralelas. O governo Tarcísio, por exemplo, quer transferir sedes administrativas do estado que estão espalhadas pela cidade para o Centro, como parte de um programa de reurbanização da região. Além disso, lançou um hub de cuidados de crack e outras drogas e ampliou a rede de atendimento aos usuários. A prefeitura, por sua vez, está ampliando o número de abrigos para pessoas em situação de rua que se concentram principalmente no Centro da cidade e intensificando as ações de zeladoria na região, como por exemplo colocação de cercas nos gramados e praças para impedir a permanência de pessoas em situação de rua e usuários de drogas.
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