O governo de São Paulo confirmou que Tarcísio de Freitas (Republicanos) comparecerá na posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei, no próximo dia 10. Para especialistas, com a relação estremecida entre o novo presidente argentino e o presidente Lula (PT), o governador paulista pode ganhar espaço nas negociações com o país vizinho e buscar acordos para o estado.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai liderar uma comitiva para a posse de Milei, com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Tarcísio, outros governadores e parlamentares.
No estado paulista, desde o início do mandato Tarcísio tem impulsionado acordos bilaterais com outros países para fomentar o investimento no estado paulista, esforço que já rendeu negócios de US$ 200 bilhões. Além disso, Tarcísio vem tentando ganhar apoio internacional para uma possível candidatura à Presidência para 2026, apesar de oficialmente negar a pretensão. O peso internacional contribui mesmo que a candidatura seja para a reeleição em São Paulo.
Nesse cenário, a Argentina se destaca como o principal parceiro comercial do estado de São Paulo na América do Sul. Segundo dados da gestão estadual, a corrente comercial (soma de importação com exportação) com o país vizinho totalizou US$ 8,7 bilhões em 2022, valor corresponde a 30,7% da corrente total entre o Brasil e a Argentina.
Entre as exportações, destacam-se itens como automóveis, peças e escavadores para a Argentina, de onde São Paulo importa trigo, gás de petróleo e peças de automóveis. Em nota enviada para a Gazeta do Povo, o governo de São Paulo diz que com o novo presidente argentino o estado pretende “preservar e fortalecer relações com a Argentina, assim como faz com todos os países que possam contribuir positivamente com o desenvolvimento do Estado e do Brasil”.
Especialistas acreditam na boa relação entre Tarcísio e Milei, mas temem saída do Mercosul
Para o coordenador do Centro de Estudos de Negócios Internacionais e Diplomacia Corporativa da ESPM, Alexandre Uehara, o mesmo viés ideológico entre Tarcísio e Milei deve facilitar as negociações de acordos. “Pela proximidade ideológica, com certeza, e pelo posicionamento que o Milei tem adotado, pode facilitar”.
No entanto, o professor aponta que a saída do país vizinho do Mercosul pode afetar todas as negociações com o estado paulista. “O problema é que ele tem falado em sair do Mercosul. Se isso realmente for colocado, independentemente da posição do governo de São Paulo, terá um impacto direto. Ao sair, as tarifas acabam incidindo e São Paulo não tem como legislar sobre isso, porque é uma legislação federal”.
Uehara destaca que a Secretaria de Relações Internacionais pode ter destaque nessas negociações. “Em termos de investimento e de facilitação nos negócios, por exemplo, São Paulo tem a Secretaria de Relações Internacionais. Então é possível pensar numa aproximação de São Paulo e a Argentina, até porque o estado sozinho tem um PIB importante”.
O docente destaca a parceria no setor automotivo. “Muitas empresas se estabeleceram na Argentina e no Brasil no setor automotivo. Empresas que estabeleceram plantas em São Paulo e na Argentina para que pudesse ter essa relação comercial com equilíbrio e não tivesse um superávit ou déficit excessivo para um dos lados. Dentro dessa lógica vejo que existe uma interdependência importante entre a Argentina e São Paulo”.
O professor destaca que a almejada projeção de Tarcísio pode ser impulsionada a partir de uma boa relação com a Argentina. “O governador de São Paulo tem pretensões mais amplas. Para isso, boas relações com a Argentina é importante. Pode ter uma convergência de interesses”.
A professora de Comércio Exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni evidencia a região do Vale do Paraíba na corrente comercial entre São Paulo e Argentina. “De tudo que é exportado para a Argentina, 21% são acessórios de veículo de passageiro. Desse percentual, 100% está no estado de São Paulo (na região de São José dos Campos e Taubaté)”.
A professora diz que é fundamental separar os discursos de campanha. “É preciso separar o Milei ‘candidato’ do ‘presidente’. O Milei candidato teve uma pauta muito agressiva com o Brasil. Quando ele diz que não quer ter relações, São Paulo está no Brasil, se ele diz que quer sair do Mercosul, não existe relação com São Paulo”, afirma Beni.
Para ela, a parceria comercial entre o estado e outro país depende mais da iniciativa privada. “A própria empresa que resolve os acordos. A montadora sediada lá na região do Vale do Paraíba, por exemplo, se ela vai continuar com o contrato. Os documentos são assinados entre as empresas”.
"A questão do Mercosul é mais relevante do que o fato do governador de São Paulo gostar do Milei, porque se ele sair do Mercosul, acabaram todos os benefícios fiscais e os acordos feitos entre Brasil e Argentina".
Carla Beni, professora de Comércio Exterior da FGV
A professora analisa que o bom relacionamento entre Tarcísio e Milei pode ajudar a manter o país no Mercosul. “Isso pode vir a amenizar uma situação maior se o rompimento vier do outro país. Se o rompimento vier da Argentina, a gente tem menos poder, não é o Brasil que tomou a decisão de não querer mais negociar com a Argentina. O estado de São Paulo tem um trânsito diplomático com relações internacionais e ter muitas negociações independentes poderia amenizar e tentar fazer algo paralelo, com um eventual rompimento do Mercosul”.
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