Duas cooperativas paulistas estão entre as maiores do Brasil em seus segmentos e entre as maiores do mundo de acordo com o World Cooperative Monitor (WCM) (Monitor Cooperativo Mundial, na tradução literal).
No ramo agro, o destaque é para a Copersucar, a maior empresa brasileira de exportação de açúcar e etanol que, no mês passado, apresentou os surpreendentes dados do faturamento no ciclo 2022/2023, encerrado em março. “Na sequência de um período (2021/22) muito afetado por eventos climáticos, como seca e geadas, o canavial passou por um processo de recuperação levando ao aumento da moagem na região Centro-Sul do Brasil. Os baixos níveis de estoques mundiais de açúcar sustentaram um cenário de recuperação de preços em um ambiente de boas oportunidades de trading no mercado internacional. Já o etanol no Brasil teve seus fundamentos bastante afetados pelas alterações na tributação dos combustíveis num ano de eleições”, disse o presidente da companhia, Tomás Manzano.
No ranking mundial, a cooperativa paulista aparece na 60ª posição entre as maiores do planeta em volume de negócios. Não era para menos. No período analisado para o levantamento mais recente, que teve como base o calendário de 2020, ela tinha um faturamento de R$ 38,7 bilhões. No ciclo que se encerra agora, cujos dados foram apresentados no mês passado, a cooperativa somou faturamento de R$ 69 bilhões, com lucro líquido de R$ 679 milhões, o segundo maior da sua história.
“O resultado é fruto do avanço estratégico do modelo de negócios da companhia, orientado à oferta de energia renovável de baixo carbono e alimento natural. Neste mesmo período, a empresa registrou o menor índice de endividamento líquido de estoques da sua história (dívida líquida de estoques negativa de R$ 357 milhões, apresentando mais caixa e estoques do que dívida)”, reconheceu a cooperativa, ao considerar que a safra passada foi marcada pela criação da Evolua Etanol e por recordes nos resultados da Alvean e da Eco-Energy.
A criação e o início da operação da Evolua Etanol, maior comercializadora do biocombustível no país, é fruto de uma joint-venture com a Vibra Energia. A Eco-Energy é uma companhia no maior mercado de etanol e gás natural do mundo. No ano-safra passado, a empresa movimentou 7 bilhões de litros de etanol, a partir de 10 terminais de logística, e 2 bilhões de metros cúbicos por dia de gás natural, obtendo o melhor resultado histórico, com faturamento de US$ 7,6 bilhões (na cotação atual próximo a R$ 37,3 bilhões), atingindo US$ 80 milhões de lucro líquido (R$ 393 milhões) e 35% de retorno em dólar sobre o capital investido.
O presidente da Alvean, Paulo Roberto de Souza, comanda a companhia em seu segundo ano de operação após a aquisição total do controle pela Copersucar. A trading registrou o maior resultado da marca, com lucro líquido acima de US$ 70 milhões (R$ 343,7 milhões), se mantendo líder no mercado internacional de açúcar, com 29% de participação de vendas no destino e 25% de retorno sobre o capital investido em dólar.
Cooperativa de saúde paulista é líder mundial
Outra gigante paulista, o Sistema Unimed está presente em 95% dos municípios brasileiros, somando mais de 19 milhões de usuários e um faturamento de R$ 86 bilhões no último ano. É o líder mundial entre as cooperativas elencadas no ramo saúde, educação e trabalho social. O sistema responde por 40% do mercado de associados em planos de saúde particulares no Brasil.
Juntas, as duas gigantes paulistas faturam quase 25% do total de todas as cooperativas do Brasil, hoje com faturamento estimado em pouco mais de R$ 600 bilhões.
Até o ano de 2027, o cooperativismo brasileiro espera chegar à marca de R$ 1 trilhão em faturamento e 30 milhões de cooperados.
“Em 2022, quando esses números foram lançados, a Organização Brasileira de Cooperativas (OCB) considerou, por meio de sua diretoria, que faria isso e chegaria a esses números porque o segmento se planejou para isso”, alertou a OBC. O cooperativismo brasileiro concentra, alavancados por sistemas como o de São Paulo, algo próximo a 20 milhões de cooperados.
Gigantes, pequenas e em ascensão
Além das gigantes do agro e da saúde, outras cooperativas do estado de São Paulo estão entre as maiores do mundo.
A Coop - Cooperativa de Consumo, que nasceu no ABC Paulista, figura na posição 173 no ranking do World Cooperative Monitor quando se trata das maiores organizações cooperativas e mutualistas do mundo, classificadas com base em uma métrica que compara o faturamento (receita total) dessas organizações com o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de um país ou região específica.
Em 2022, o faturamento foi de R$ 2,8 bilhões, com destaque aos negócios em supermercados que responderam por 76,6% do total, seguida pelas drogarias, com 19,4%; o atacarejo, 2,8%; e 1,2% aos postos de combustíveis. Outros setores ainda brilham no associativismo paulista, como cooperativas de flores na região de Holambra e o mercado promissor da citricultura.
Para o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) Edivaldo Grande, além das gigantes, o segmento no estado de São Paulo precisa e deve ser lembrado também pelas pequenas e médias cooperativas que trilham um caminho de consolidação. O estado conta com mais de mil cooperativas e um total de 3,5 milhões de cooperados. O grande desafio é, de acordo com Grande, prepará-las para um processo relevante de agregação de valor aos seus produtos. “Algo que o Paraná já faz muito bem”, reconheceu o presidente da Ocesp.
Focado nisso, Grande e um grupo de dirigentes de cooperativas do agro acabam de voltar de um intercâmbio pela Europa (Holanda e França), onde foram conhecer modelos que inspiram o cooperativismo bem sucedido no Brasil. “Se a gente olha só no contexto agro e saúde, a participação é muito importante no cenário econômico do estado, mas temos cooperativas em outros segmentos que são essenciais, em estruturas que reúnem pequenos produtores de leite, na produção de flores, no crédito, no transporte, na infraestrutura, os médicos. Temos uma diversificação extremamente importante e que é essencial para todo o sistema”, destacou.
Diferente do que vem sendo feito com o Paraná, a Ocesp não trabalha com metas de faturamento, ao menos por enquanto. Grande afirma que o planejamento estratégico está sendo estruturado. “Lembrando que quem faz as cooperativas e seus resultados são os cooperados, por isso queremos fazer nossas cooperativas se consolidarem, se perenizarem e para que façam isso e cresçam, elas precisam de uma gestão de alta qualidade. Nossas cooperativas estão se destacando porque estão muito mais eficientes e eficazes na gestão em um caminho importante que vem sendo percorrido”, destacou.
Brasil: 2º das américas em ranking internacional
No WCM mais recente, o Brasil aparece como o segundo país das Américas com as maiores cooperativas em faturamento do mundo. São nove neste ranking, atrás apenas dos Estados Unidos, com 22.
Em faturamento do PIB per capita, o Brasil também é segundo das Américas com 22 cooperativas listadas, atrás dos Estados Unidos que têm 38. No contexto global, o Brasil aparece como o quarto país nesta relação, empatado com o Japão. A primeira é a França, com 42 sociedades cooperativas entre as top 300.
O World Cooperative Monitor é um monitoramento que analisa e divulga informações sobre o desempenho econômico das cooperativas em todo o mundo. O relatório é produzido anualmente pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) em parceria com outras organizações.
O levantamento destaca as principais cooperativas e organizações ulo mutualistas com base em sua receita total, revelando tamanho e importância dessas entidades no cenário econômico global. Segundo os organizadores do levantamento, o faturamento é um indicador relevante para avaliar o desempenho econômico das cooperativas, pois reflete a magnitude das operações comerciais conduzidas por essas organizações oferecendo insights sobre a dimensão e o alcance dessas entidades no contexto internacional, fornecendo uma visão geral do impacto econômico que elas têm em suas respectivas áreas de atuação.
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