O diretor-presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, foi ouvido na manhã desta quinta-feira (16) pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa que investiga a atuação da concessionária do serviço de energia elétrica em São Paulo. A Enel é alvo de críticas pelo atendimento prestado após temporal com rajadas de ventos de mais de 100 km/h no último dia 3. Aproximadamente 2 milhões de pessoas ficaram sem o fornecimento de energia elétrica e o cenário pode voltar a se repetir na capital e no litoral paulista.
Em sua primeira fala na Alesp, o diretor italiano da empresa disse que se expressou mal ao escrever um artigo para Folha de S. Paulo em que afirmava que o evento climático foi “absurdo” e assim não era motivo para um pedido de desculpas. “Moro no Brasil há cinco anos e, infelizmente, não falo o português tão bem como gostaria e quando comecei a falar do evento, queria dar uma dimensão do contexto. A palavra italiana desculpar significa dar elementos para tirar a culpa de si e usei essa palavra com uma má tradução. Eu não quero evitar a responsabilidade, mas dar uma visão do contexto”, justificou Cotugno, que foi ouvido na condição de investigado pela CPI, que foi aberta antes da atual crise de apagões da Enel com objetivo de investigar a prestação de serviço e cobranças da concessionária.
Na véspera da sessão, uma forte chuva com ventos de até 55 km/h voltou a deixar milhares de residências sem energia elétrica, principalmente nas regiões norte e oeste de São Paulo. No início da manhã, a Enel informou que restabeleceu o fornecimento de energia para 70% dos clientes impactados. De acordo com o diretor-presidente, 692 equipes estavam nas ruas, quatro vezes acima da média. A Enel prometeu ampliar para 900 equipes até o final do dia para restabelecer a energia em mais de 80 mil casas sem o serviço.
Mas a principal preocupação dos deputados estaduais é o alerta emitido pela Defesa Civil do estado, por meio do Centro de Gerenciamento de Emergências, de condições para temporais, seguidos por raios, granizo e rajadas de vento intensas na Região Metropolitana de São Paulo e Baixada Santista no período entre sexta-feira (17) e domingo (19).
De acordo com a Defesa Civil, as rajadas de vento podem voltar a alcançar 100 km/h. A previsão é de chuva acumulada de até 100 mm na Região Metropolitana de São Paulo, Campinas e Sorocaba. Em São José dos Campos, Litoral Norte, Vale do Paraíba, Itapeva e Serra da Mantiqueira de até 150mm. Já na Baixada Santista, cerca de 120 mm de chuvas acumuladas estão previstas para o final de semana. O diretor-presidente da Enel prometeu 1,2 mil equipes de plantão com até 3 mil funcionários nas ruas. No call center, a previsão é de 1,5 mil atendentes.
Questionado pelo deputado estadual Carlos Cezar (PL) sobre um planejamento para enfrentar a interrupção dos serviços durante as tempestades e restabelecimento do fornecimento de luz, que levou mais de uma semana para retorno em algumas unidades em São Paulo depois do último dia 3, o diretor-presidente respondeu que as chamadas e os dados ainda estão passando por análise.
“Já temos um documento que podemos encaminhar para a CPI para discussão, mas será um processo evolutivo. Reforço que será um plano em que tudo que aprendemos, vamos incorporar. O plano existe, será reforçado e comunicado”, promete.
Cotugno ainda foi questionado sobre o ressarcimento de empresas e pessoas físicas que tiveram prejuízos com os dias sem o fornecimento de energia elétrica, cobrança feita pelo Procon, Ministério Público, além dos governos estadual e federal. O diretor-presidente não deixou claro qual o prazo para a resposta da concessionária. “Já estamos em contato, por exemplo, com o Procon, e vamos ter uma reunião com eles para definir melhor a nossa proposta. Posso, sim, confirmar que nosso compromisso é elaborar essa proposta e a divulgar em poucos dias. Se são dois ou quatro dias não é pertinente falar agora. O correto é falar 'em breve'”, respondeu.
Na última terça-feira (14), o presidente da Enel São Paulo, Max Xavier Lins, também foi ouvido pela CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo na condição de testemunha. A sessão foi marcada por quedas de energia elétrica durante a participação do executivo da concessionária.
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