A delação do empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, morto pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em novembro no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), cita o pagamento de propina para o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fábio Pinheiro Lopes, e para o deputado estadual Delegado Olim (PP) em troca de favores como desbloqueio de bens e liberdade para responder os processos criminais.
Na última terça-feira (17), cinco policiais civis foram presos durante a operação Tacitus, conduzida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Federal, que investiga a suspeita de corrupção de delegados e investigadores pelo crime organizado com vazamento de informações, prestação de favores e lavagem de dinheiro.
Além de citar as negociações com o delegado do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Fábio Baena, e com o investigador Eduardo Monteiro, presos nesta semana durante a operação Tacitus, o empresário ligado ao PCC afirmou que outros delegados da Polícia Civil faziam parte do esquema.
No acordo de delação, em 2022, Gritzbach pagou o total de R$ 4,2 milhões distribuídos para o delegado Pinheiro Lopes, atual diretor do Deic, mais conhecido como Fábio Caipira, para o deputado paulista Delegado Olim e para o delegado Murilo Fonseca Roque, em negociação por intermédio do advogado Ramsés Costa Gonçalves, que teria recebido R$ 800 mil pelo serviço. A informação foi publicada pelo O Globo e confirmada pela Gazeta do Povo.
“Me disse que era muito influente e que resolveria todos os meus problemas, como restituição do passaporte, desbloqueio dos bens e liberdade durante todos os processos. Disse que teria feito reunião com o deputado Olim, Dr. Fábio Caipira, diretor do Deic e Dr. Murilo, titular do 24º DP na época dos fatos. Para tudo isso me cobrou o valor de 5 milhões, sendo 800 mil de honorários e o resto de propina”, relata Gritzbach no processo que a Gazeta do Povo teve acesso.
Ainda conforme o depoimento do empresário do ramo imobiliário, o pagamento envolveu dois apartamentos, diversos cheques, R$ 300 mil em transferência bancária realizada em junho de 2022, três meses após a negociação, além de parte da propina em espécie.
Gritzbach forneceu aos promotores prints de mensagens trocadas com Ramsés. Em um dos casos, o advogado manda a localização do Deic em São Paulo e diz “que estavam contando uma parte da propina em dinheiro” dentro da instituição policial. “Em uma conversa, ele [Ramsés] me manda imagens como se estivesse na Assembleia Legislativa [de São Paulo] para resolver meus problemas”, acrescenta o delator assassinado.
Diretor e delegado citados por delator são afastados
O diretor do Deic, Fábio Pinheiro Lopes, está de férias e foi afastado do cargo pela suspeita de corrupção e recebimento de propina de dinheiro oriundo das atividades criminosas do PCC. Além de Lopes, o delegado Murilo Fonseca Roque também fica fora das funções até o esclarecimento do caso. Ele é ex-titular do 24º Distrito Policial na zona leste de São Paulo, onde Gritzbach comandou o esquema de lavagem de dinheiro da facção criminosa, por meio de operações imobiliárias.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo confirmou o afastamento dos delegados "a fim de que os fatos sejam apurados", conforme a nota enviada à Gazeta do Povo.
"A medida foi tomada para garantir a isenção das investigações, reafirmando o compromisso da pasta com a legalidade e transparência. Além disso, a delegada Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez solicitou o desligamento da Corregedoria da Polícia Civil e se colocou à disposição da Instituição para seguir em outro setor, mudança que será efetivada na próxima semana", disse a SSP.
Lopes negou as acusações presentes na delação do empresário morto. "Dessa forma, ou o empresário faltou com a verdade para obter vantagens em seu acordo de delação premiada, ou foi enganado pelo mencionado advogado", disse em entrevista ao G1.
Ao jornal O Globo, Roque rebateu a delação e disse que Gritzbach mentiu durante o depoimento ao MP-SP. “Nunca me reuni com ele. Falar, até papagaio fala.”
PCC: Deputado diz que delação tem “fatos nebulosos” em relação com a realidade
Em nota à imprensa, o deputado delegado Antônio Olim afirmou que recebe com “veemente indignação” as notícias envolvendo o seu nome “e de outras honradas autoridades com fatos nebulosos, imprecisos e improvados, os quais não guardam qualquer relação com a realidade”.
Olim disse também que não conhece, nunca esteve ou recebeu pessoalmente Vinicius Gritzbach. “Não mantive qualquer contato próximo ou mediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, quem só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos. Também não tenho amizade, e não guardo nenhuma relação próxima com o advogado de prenome Ramsés”, declara.
Olim afirmou que, na condição de deputado estadual, ele e outras autoridades recebem e atuam “em favor da cidadania e para atender legítimos interesses de pessoas que demandam ajuda”.
“Repudio e expresso a minha cabal indignação ao uso de meu nome de forma vil, gratuita e indevida. Não recebi nenhuma notificação oficial a respeito desses fatos, e sigo absolutamente sereno com relação a esse episódio, sobre o qual haverei de me posicionar, cobrando das autoridades os esclarecimentos e demandando as responsabilidades devidas, no momento e nas vias apropriadas para fazê-lo."
A Gazeta do Povo tenta contato com o advogado Ramsés Gonçalves, mas não obteve sucesso até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
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