O secretário municipal de Relações Internacionais de São Paulo, Aldo Rebelo, empossado no último dia 19, falou à Gazeta do Povo sobre os planos à frente da pasta e sua visão sobre a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Ex-comunista que militou no PCdoB e no PSB, Aldo Rebelo foi vereador e se tornou deputado federal por São Paulo na década de 1990, tendo ocupado o cargo de presidente da Câmara dos Deputados de 2005 a 2007. Depois disso, assumiu ministérios no primeiro governo de Lula e Dilma e foi secretário da Casa Civil do Estado de São Paulo no governo de Márcio França.
Ele se afastou das siglas de esquerda quando parte delas mudou, nas palavras dele, "suas posições históricas de compromisso com a soberania nacional e substituiu esse compromisso pela agenda chamada woke ou identitária, importada da esquerda liberal norte-americana".
Agora, Aldo Rebelo passa a integrar o primeiro escalão de Nunes, apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um momento importante para a gestão municipal paulistana, em que o atual prefeito vai disputar a reeleição numa polarização com o candidato da esquerda e deputado federal Guilherme Boulos (Psol), em outubro.
Confira abaixo a entrevista com Aldo Rebelo.
O senhor é ex-integrante do PCdoB. Poderia explicar por que se afastou das siglas de esquerda?
Para permanecer em coerência com as minhas convicções da juventude, de valorização da centralidade da questão nacional, de defesa dos valores nacionais e da memória nacional, de defesa da redução das desigualdades sociais no Brasil e de defesa da liberdade. Parte da esquerda promoveu uma retificação das suas posições históricas de compromisso com a soberania nacional e substituiu esse compromisso pela agenda chamada woke ou identitária, importada da esquerda liberal norte-americana.
Os valores que o senhor defende podem ser enquadrados na direita? Como o senhor enxerga isso?
Os valores que defendo devem ser enquadrados no velho nacionalismo que ainda hoje divide o mundo entre o nacionalismo das nações fortes, dominadoras, opressoras, e o nacionalismo das nações emergentes que defendem o seu direito ao desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e a soberania militar, diplomática e cultural. Este é o meu nacionalismo, o da resistência, o democrático.
Por que o senhor aceitou compor o secretariado de Nunes neste ano de eleição?
Considero uma honra servir à cidade de São Paulo e à sua população. Recebi o convite do prefeito Ricardo Nunes para uma missão na cidade que me deu um mandato de vereador e seis mandatos de deputado federal. Além disso, considero a reeleição do prefeito Ricardo Nunes um bem para São Paulo, não apenas pela gestão que realiza, mas também para evitar que grupos desorientados assumam a direção da mais importante cidade do nosso país.
Como ex-comunista, como o senhor enxerga se o candidato da esquerda, Guilherme Boulos, for eleito prefeito na cidade de São Paulo, no sentido de benefícios e prejuízos que ele traria para a cidade?
Não considero Boulos candidato de esquerda. Boulos destacou-se por liderar movimentos de sabotagem contra o governo da presidente Dilma (PT) na preparação da Copa do Mundo (de 2014) e das Olímpiadas (de 2016). A eleição em São Paulo não é entre esquerda e direita, mas sim entre quem compreende as soluções mais adequadas para os desafios da cidade e aqueles que não têm a mínima ideia de como abordar os dilemas do município.
O senhor pensa em deixar o PDT este ano? Caso pense, para qual sigla iria?
Estou licenciado da minha filiação ao PDT, e sempre tive uma profunda identidade com o trabalhismo e o nacionalismo de Getúlio Vargas e Leonel Brizola.
O senhor pensa em se candidatar a algum cargo nas eleições municipais?
Não, minha ideia é servir ao município na Secretaria de Relações Internacionais.
Quais são os planos do senhor na secretaria de Relações Internacionais de Nunes?
Promover e projetar a agenda do Brasil e de São Paulo no cenário internacional. São Paulo é a mais importante metrópole brasileira, acolherá parte da agenda do Brasil em 2024, sediará a Conferência dos Ministros de Finanças do G20, este ano liderado pelo Brasil. Penso que São Paulo deve organizar a Conferência Mundial de Segurança Alimentar e Combate à Fome, que homenageie os grandes brasileiros Josué de Castro e Alysson Paolinell, referências do Brasil e do mundo sobre o assunto.
O Brasil sediará a Conferência sobre as Mudanças Climáticas da ONU em 2025 na bela cidade de Belém (PA). São Paulo tem a responsabilidade de propor um fórum para o qual deve convidar entidades e instituições da Amazônia para debater a agenda que combine a proteção do meio ambiente com o direito ao desenvolvimento.
A agenda da Amazônia deve se preocupar com as florestas e a biodiversidade, mas não pode esquecer os 30 milhões de brasileiros que convivem na Amazônia com os indicadores sociais mais negativos de mortalidade infantil, de analfabetismo, doenças infecciosas, de saneamento básico e água tratada. O meio ambiente na Amazônia deve ser protegido, mas sua população deve ter também o direito ao desenvolvimento e uma vida melhor.
Como o senhor analisa a disputa pela prefeitura em São Paulo e o debate público que estamos vivendo, com tanta polarização?
A eleição é para a prefeitura de São Paulo. A eleição para Presidência da República aconteceu em 2022. O atual prefeito de São Paulo pertence a um partido que integra a base do governo do presidente Lula, mas também conta com o apoio do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, no melhor exemplo de alianças heterogêneas que conduziram às grandes transições da história do Brasil e que nega o caminho da falsa polarização que divide o país em torno de temas importantes, mas secundários quando se trata do mais elevado interesse nacional.
O senhor pertence a um partido que tem ministérios no governo Lula. Qual é a opinião do senhor sobre o posicionamento do presidente da República em relação ao conflito de Israel?
O mundo contemporâneo está profundamente marcado por disputas e tensões geopolíticas, ameaças e conflitos como os que testemunhamos na Ucrânia, no estreito de Taiwan ou no Oriente Médio. Em todos eles, o Brasil deve buscar ser parte da solução e não do problema. Não acrescentaríamos nada ao problema que já está criado. A única contribuição necessária e razoável é para a solução do conflito e não para o seu agravamento. A nossa diplomacia é vocacionada para a mediação de conflitos e não para a sua ampliação.
No caso de árabes-palestinos e judeus, são comunidades presentes há séculos no esforço de construção de nossa pátria. O Brasil acolheu a primeira sinagoga das Américas ainda no século XVII, na cidade do Recife, e desde então essa comunidade contribui ao Brasil nos domínios da ciência, da cultura, da política e da economia. A presença árabe no Brasil aqui chegou com a primeira caravela portuguesa, pois os árabes já estavam há 800 anos na península Ibérica. Nosso imperador Dom Pedro II liderou duas delegações ao mundo árabe: uma ao Egito e outra ao Líbano e à Síria, com mais de 200 integrantes e um apelo para que eles viessem para o Brasil, e desde então eles estão aí nas artes, na política e na economia.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião