A economia criativa paulista, pautada em investimentos, missões, capacitação e internacionalização, tem movimentado a economia para o Brasil e ganhando destaque externo. É em São Paulo que está concentrada a maior quantidade de empresas culturais e criativas do país.
O movimento tem por base o uso de criatividade para criar um produto ou serviço. E envolve tudo o que é produzido por empresas que realizam desde atividades artesanais, passando por música, editorial, cinema, rádio, TV e artes cênicas, indo até publicidade, arquitetura e desenvolvimento de softwares e jogos digitais.
Desde os anos 2000, a indústria criativa vem ganhando representatividade. Segundo um levantamento da Fundação Itaú, por meio do Observatório Itaú Cultural, o Produto Interno Bruto (PIB) da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas do Brasil (Ecic) atingiu 3,11% do PIB da economia brasileira, em 2020. Construção civil, indústria extrativa e transporte alcançaram 3,6%, 3,1% e 3,6%, respectivamente. “Com a valorização do conhecimento como insumo essencial para a dinâmica atual da economia e, mesmo, diante da mudança do paradigma de consumo, com consumidores migrando de bens para serviços, os setores culturais e criativos ganharam maior representatividade nos últimos anos” – afirma o estudo.
Junto com São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná foram os estados que mais contribuíram para este índice. “Quando a gente pensa, por exemplo, num pequeno teatro, um coletivo de teatro que logo em seguida abre um bar; e logo em seguida, vem um restaurante; e se instala, enfim, um hotel, você começa a ver exatamente o que é essa economia criativa acontecendo e rodando”, explica a secretária de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, Marília Marton. E foi com este espírito que a InvestSP, uma agência de promoção de investimentos (IPA) ligada ao governo estadual, e a Secretaria de Cultura e Economia estadual se uniram para ajudar empresas do setor criativo a se internacionalizar.
Economia criativa tem impulso com oportunidades de negócio no exterior
Este é o segundo ano do programa Creative SP, que atua capacitando, levando e acompanhando empresas paulistas em eventos internacionais importantes, as chamadas “missões”, como o inovador festival americano SXSW, o tradicional Festival de Cinema de Cannes, na França, e a prestigiada Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, para buscar oportunidades de negócios e firmar parcerias. “O objetivo é que a gente cubra o máximo de setores possível dentro da economia criativa”, conta Julia Saluh, responsável pelo Creative SP.
“Não é só levar o projeto. É feito todo um apoio técnico para que elas possam, ali, encontrar, e para como elas ajam, a partir desses encontros, dessas mesas de vendas dos seus produtos”, explica a secretária Marília Marton.
Além da capacitação e da assistência, as dez instituições selecionadas para participar de cada evento recebem o reembolso de despesas de até 3 mil dólares (cerca de R$ 15 mil), o que, segundo Julia, faz bastante diferença para as companhias. Elas são selecionadas segundo a capacidade de internacionalização, por meio de uma chamada pública.
Em 2022, o programa levou 73 empresas de pequeno, médio e grande portes para nove eventos internacionais voltados para entretenimento, tecnologia, cinema, games, música, literatura, artes visuais e design. Segundo a agência, os participantes tiveram contato com mais de 2 mil possíveis parceiros, em cerca de 100 países, gerando quase R$ 360 milhões em negócios e de até 6,6 mil empregos no setor cultural paulista, no período de até um ano após a missão. “Para cada real que o Estado investiu no projeto, foram gerados R$ 64,9 em negócios por essas empresas. E eu estou falando em resultado direto”, pontua Julia Saluh.
Arvore, um estúdio desenvolvedor de games e de experiências imersivas, com foco em realidade virtual aumentada e mista, e a produtora de audiovisual Gallune, responsável por sucessos como “Que Horas Ela Volta?”, premiado nos festivais de Sundance e Berlim; do documentário “A Última Floresta”, prêmio de audiência no Festival de Berlim; e “Ninguém Tá Olhando”, vencedor do Emmy Internacional (iEmmys) de melhor série de comédia, são duas empresas que participaram de missões do programa.
Para Laura Rossi, head de Internacional da Gallune, a vontade de querer se aproximar do mercado norte-americano, até pouco tempo atrás bastante fechado, foi o que levou a produtora a participar de uma missão. “O principal dessas políticas públicas, que as pessoas não têm noção, é a abertura que isso dá. Ter esse suporte de entidades que conseguem chegar com uma maior relevância para esses organizadores, para grandes players do mercado. Eles têm capacidade de abrir portas para esses brasileiros que vão para lá conhecer, se estabelecer ou crescer a atuação no mercado”.
Para Rodrigo Terra, cofundador da Arvore, que desenvolveu a franquia de games “Pixel Ripped” e a narrativa “The Line”, ganhadora do Emmy de Inovação em Programação Interativa e de Melhor Experiência em Realidade Virtual do Festival Internacional de Cinema de Veneza, ter participado de missões, no ano passado e neste, deu à empresa a possibilidade de realizar prospecção de negócios nos mercados europeu e asiático e de fazer networking. “Mostramos um pouco mais a cara do nosso time”, acrescenta ele, o que acabou sendo “importante para ajudar no andamento de negociações”.
Na avaliação de Terra, que também é presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Games (Abragames), percebe-se que cada vez mais as manifestações regionais do país ganhando projeção lá fora. Das duas missões que aconteceram este ano, uma para a Game Developers Conference 2023 e outra para o festival SXSW, o balanço do governo paulista é que, em 12 meses, sejam geradas 398 vagas de empregos diretos e indiretos, além da geração de negócios de aproximadamente R$ 88,95 milhões.
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