Com o maior parque industrial do Brasil, o estado de São Paulo projeta bons ventos à indústria da transformação nacional para o ano de 2024, apesar de amargar queda no segmento de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e retração de 0,5% na produção industrial.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Igor Rocha alerta para os efeitos de um ambiente ainda adverso, que reúne juros elevados e falta de incentivos à indústria - como um plano específico para o setor e os entraves para acessar crédito, além das dificuldades na atualização tecnológica dos parques industriais, reduzindo eficiência e competitividade.
“Para 2024 estamos analisando. As condições podem surpreender, mas ainda são bastante adversas para a indústria enquanto não se tiver clareza maior de setores horizontais, sobretudo pelas condições tributárias e juros. A indústria da transformação não pode mais ficar pagando a meia entrada dos outros setores da economia, carregando esse piano sozinha”, destaca ele, ao considerar que a Fiesp ainda está calibrando os modelos para então divulgar as projeções esperadas para o próximo ano.
A indústria da transformação está no topo da lista dos que mais pagam impostos no país e responde por 30% da arrecadação da máquina pública. Por isso, segundo Rocha, o setor aguarda com ansiedade as definições da reforma tributária com expectativas “mais positivas do que negativas”. A unificação tributária, contemplada na reforma, promete reduzir a carga ao segmento, que hoje é de 46%, passando para 33%. Mas o setor quer chegar aos 25%.
O especialista considera que, aliado a melhores condições tributárias, há a expectativa de medidas que facilitem a tomada de crédito no mercado. “Hoje ele começa com 25% de juros ao ano. O setor não conta, como outros, com crédito direcionado e subsidiado”, critica.
A possível retração na taxa de juros, com expectativa que feche 2024 a 9% ao ano, e o dólar na casa dos R$ 5, podem contribuir para amenizar o cenário. “Há uma visão otimista do ambiente (para 2024), mas existe um descompasso. A indústria (da transformação) carrega sozinha a arrecadação (...) Isso é danoso, porque se o setor está caindo, reflete na queda de arrecadação. O país vai crescer 3% (em 2023) e a arrecadação está caindo, isso significa que quem está crescendo não paga imposto. Há desproporção e falta de tratamento isonômico, cenário com o qual se pune a criação de empregos, a competitividade”, avalia Rocha.
A não renovação dos parques produtivos e tecnológicos, provocada pelos juros elevados, preocupa e está entre os temas que vêm sendo tratados com o poder público. “(Precisa de crédito) para máquinas e equipamentos que garantam mais produtividade. A gente não consegue fazer a renovação porque o juro é muito alto, seu negócio não dá 25% de margem de lucro (para pagar juros), isso tira a competitividade. Não estamos na fronteira tecnológica, precisamos melhorar a competitividade para melhores resultados”, reitera.
Segundo o economista da Fiesp, do ponto de vista horizontal, a economia industrial sofre com dois pontos cruciais: elevada carga tributária e problemas de acesso ao crédito. “É matar a galinha dos ovos de ouro. Outros setores praticamente não pagam imposto, isso faz com que a indústria e o Brasil entrem numa rota delicada. O modelo não se sustenta no médio e longo e prazo”, avalia ele.
Um ponto que está interferindo positivamente, segundo o economista, é o arcabouço fiscal, que acalmou os ânimos na economia e chegou com “um modelo bastante razoável, trazendo mais tranquilidade ao mercado”.
No cenário global, o economista destaca condições que podem interferir na economia brasileira, como a continuação da guerra entre Rússia e Ucrânia e o conflito no Oriente Médio. “A economia global vai crescer menos em 2024 do que cresceu em 2023, mas neste ano já vai crescer menos que em 2022”, compara.
Reindustrialização requer R$ 456 bilhões ao ano, aponta setor
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, está intermediando as negociações entre o meio empresarial e o governo para a criação de um Plano Indústria. A metodologia promete ser similar ao Plano Safra, destinado ao agronegócio com juros subsidiados e condições facilitadas para acesso e pagamento.
O segmento industrial calcula que um processo de reindustrialização do país necessitaria de investimentos, pelos próximos sete anos, de R$ 456 bilhões ao ano, o que representa 4,5% do PIB nacional. Hoje, os investimentos não passam dos 2,6%.
Alckmin acredita que dá para chegar lá. Em evento recente promovido pela Fiesp, o vice-presidente destacou que “o governo tem de ser um parceiro para boas práticas e tratar o assunto com seriedade e políticas públicas” e que “reconstruir o setor é pensar em como será no futuro, e caminhar nessa direção”.
Em estruturação, o programa é aguardado com ansiedade, diz o economista da Fiesp. Alkmin afirmou que “havendo necessidade de máquinas e equipamentos, BNDES e Finep financiam com juros de até 4%” e lembrou dos desafios para fortalecimento de uma nova indústria “com diretrizes e balizas sustentáveis e de alta produtividade”.
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