Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, recebe colar de honra ao mérito na Alesp sob elogios do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)| Foto: Marcelo S. Camargo/Governo de São Paulo
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O jantar oferecido no início da semana pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Palácio dos Bandeirantes, foi visto por nomes relevantes do mercado financeiro como “a entrada do Tarcísio na corrida presidencial”.

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“Ele está sinalizando que o Roberto Campos será o ministro da Fazenda dele”, disse o CEO de um banco, com a condição de não ser identificado. O encontro da última segunda-feira (10) contou com a presença de nomes relevantes da Faria Lima: Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco; Roberto Sallouti, presidente do BTG Pactual; André Esteves, presidente do conselho de administração do BTG; Guilherme Benchimol, presidente do conselho de administração da XP; e Luís Stuhlberger, do Fundo Verde. Juntas, essas empresas gerem mais de R$ 1,5 trilhão em ativos, o que corresponde a cerca de 14% do PIB brasileiro em 2023.

Os ex-governadores João Dória e Rodrigo Garcia (PSDB) também estiveram presentes, bem como Fábio Coelho, presidente do Google no Brasil. “Eu fui muito cuidadoso na organização do evento, para que não tivesse nenhum tipo de viés político, nem de direita, nem de esquerda”, disse à Gazeta do Povo o deputado estadual e vice-líder do governo Tarcísio na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), Tomé Abduch (Republicanos), a respeito do evento no Legislativo paulista que antecedeu o jantar.

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“Independente do posicionamento ideológico, todos têm uma admiração muito grande pelo Campos Neto, pelo trabalho que está sendo feito no Banco Central”, diz Abduch. O evento de Tarcísio ocorreu após Campos Neto receber a maior honraria da Alesp: o colar de honra ao mérito, entregue para quem fez algo relevante na área econômica ou social ao estado. Cada deputado tem direito a entregar uma medalha e Abduch escolheu Campos Neto: “a independência do Banco Central está conseguindo manter o Brasil no bom caminho, uma vez que ele não está cedendo às pressões políticas”, disse o parlamentar.

Abduch afirmou que foram convidados todos os secretários de estado, deputados estaduais e secretários municipais. Também receberam convites todos os ministros do governo Lula, mas nenhum esteve presente, o que acirrou a polarização política que, inevitavelmente, se desenhou. Os atuais presidentes da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil não compareceram, enquanto Daniella Marques, presidente da Caixa na gestão Bolsonaro, marcou presença.

O ex-presidente da Petrobras, Caio Mário Paes de Andrade, que trabalhou muito próximo ao ex-ministro da Economia Paulo Guedes na Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, foi outro nome do evento, junto com os ex-ministros de Bolsonaro Fabio Faria, das Comunicações, e Bruno Bianco, da Advocacia-Geral da União.

Elogios a Campos Neto durante a cerimônia

Apesar de Abduch afirmar que não teve viés político no evento - ao qual Tarcísio chegou apenas no final - e também de o governador de São Paulo afirmar recorrentemente que “nem pensa” em disputar a Presidência da República em 2026, relacionar uma coisa com a outra é inevitável, principalmente em um momento em que os ânimos entre o Banco Central e o governo Lula estão acirrados.

Acenar para uma candidatura de Tarcísio nesse momento seria um tiro no pé dos bancos, avalia o sócio de uma gestora de investimentos. "Ainda temos dois anos de governo do PT, todos vão jogar o jogo político até lá e só mais para frente fazer acenos. Eles [banqueiros] têm muito a perder, empresas bilionárias têm riscos muito grandes atrelados ao governo".

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Recentemente, o pastor Silas Malafaia reclamou da postura de Tarcísio em entrevista, por ele estar supostamente se colocando como presidenciável em 2026 e não defender que Bolsonaro deve ser elegível. Conforme a Gazeta do Povo apurou, no entanto, nem o ex-presidente e nem os filhos dele estariam insatisfeitos com Tarcísio.

Durante a cerimônia em São Paulo, Tarcísio elogiou Campos Neto e falou que ele é seu "ET preferido". "É um extraterrestre, porque é. E tem alguns extraterrestres que a gente tem um privilégio de conhecer, algumas pessoas absolutamente fora da curva, e o Roberto é um desses caras absolutamente fora da curva, né? Que se destaca pela densidade, pela competência técnica”, disse o governador paulista.

Tarcísio afirmou que, quando era ministro de Infraestrutura de Bolsonaro, não viajava para divulgar projetos brasileiros antes de visitar Campos Neto, já presidente do Banco Central, para "entender qual era o cenário que estava vindo". E teceu mais elogios: "Ele é um homem dos modelos. É um homem dos números. É um grande econometrista e ele falava, mostrava para a gente o que ia acontecer".

Ele atrelou ainda a visibilidade de ações do governo ao mercado ao trabalho desenvolvido por Campos Neto. "Como isso foi importante, como esse binômio, autonomia do Banco Central e meta de inflação. Acabou sendo importante para que a gente desse visibilidade para o mercado, solidez, ancorar expectativas, reduzir ou absorver os choques, que a gente acaba diminuindo a volatilidade. Foi com ele [Campos Neto] que a gente aprendeu como a definição dessa tal taxa de juros é técnica", discursou Tarcísio.

Para Octavio Magalhães, diretor de investimentos da Guepardo, gestora que tem R$ 4,5 bilhões em ativos, ainda é "muito cedo para dizer" que Campos Neto será o ministro de Economia de Tarcísio, mas o jantar sinalizou a aprovação da dobradinha de nomes numa eventual gestão.

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André Perfeito, por sua vez, ex-economista chefe da Necton Investimentos, afirma que a participação do presidente do Banco Central em eventos como esse podem tirar o foco do mercado para o que efetivamente impacta nos indicadores brasileiros, como a chance de queda dos juros nos Estados Unidos. "No começo de 2023, o mercado errou porque achava que o Roberto Campos Neto não iria cortar a Selic por conta de uma briga com o Lula. Porém, estava tudo certo com o Brasil e a Selic caiu. O mercado errou e vai errar se embarcar nas especulações políticas", ponderou ele.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]