Conhecido como um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL) e como o mais jovem brasileiro eleito como deputado federal, Kim Kataguiri (União Brasil-SP), 28 anos, se lançou como pré-candidato à prefeitura de São Paulo em outubro do ano passado para as eleições de 2024.
Apesar de seu entusiasmo para disputar o pleito, o União Brasil está dividido entre lançar uma candidatura própria ou apoiar a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), decisão que será tomada na convenção do partido. O período para realização das convenções partidárias vai de 20 de julho a 5 de agosto.
Nessa divisão conta o posicionamento do vereador Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara Municipal de São Paulo e nome influente na cidade, que se colocou à disposição do partido para ser vice de Nunes, de quem é aliado.
Na tentativa de fortalecer sua pré-candidatura, Kim Kataguiri conta com ACM Neto (União Brasil); com o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil); e com o secretário da Casa Civil de Salvador, Luiz Carreira (PV), para elaborar o plano de governo. Além disso, tem escutado Vinícius Marchese, presidente do Conselho Federal de Engenharia, para as áreas de mobilidade urbana, cidades inteligentes, infraestrutura e obras e meio ambiente. Andrea Mattarazzo também tem sido conselheiro na área de urbanismo e gestão, bem como Claudio Lottenberg na saúde, Zeina Latif na economia e Laura Müller na assistência social.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Kim Kataguiri, que foi o décimo deputado mais votado nas eleições de 2022 com 295,4 mil votos, contou suas propostas para São Paulo e defendeu que a direita deve se unir para enfrentar Guilherme Boulos (Psol) nas eleições, mas pontua que essa união não deve ocorrer em torno do nome de Nunes.
Como está a sua candidatura no partido, considerando aqueles que apoiam a reeleição do prefeito Nunes e os que preferem lançar candidatura própria?
Tenho apoio da maioria do partido, além do secretário-geral do União Brasil, ACM Neto, e do presidente, Antonio Rueda. O vereador Milton Leite discorda e pretende levar o nome do prefeito Ricardo Nunes para a convenção. Estou confiante de que tenho a maioria do apoio, visto que a maior bancada federal e os senadores da República, tanto de São Paulo como de outros estados, estão ao meu lado.
Como vê a necessidade de a direita fazer uma frente ampla, como defende o prefeito Ricardo Nunes, para enfrentar Boulos? Acredita que ter mais candidatos no primeiro turno pode enfraquecer esse enfrentamento?
Se o prefeito quer uma frente de direita para enfrentar o Guilherme Boulos, não é ele o candidato porque ele não é de direita. Ele próprio diz isso e se coloca como alguém de centro. Sou totalmente favorável a uma frente ampla de direta, e o melhor nome é o meu. Faria bem para o debate se a gente tivesse, por exemplo, o Ricardo Salles disputando pelo PL, mas infelizmente o PL optou por apoiar a candidatura do prefeito. Não vejo problema de ter várias candidaturas no primeiro turno, a aliança se dá no segundo turno e em torno de um candidato verdadeiramente de direita, que não é o caso do prefeito.
O plano de governo do senhor está sendo preparado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. Quais serão os principais temas abordados?
Temos duas pautas principais: segurança pública e erradicação da miséria. Claro que vamos abordar outros aspectos da cidade, mas esses serão pontos centrais, principalmente nos debates.
Por que esses temas foram escolhidos?
Esses são os maiores problemas da cidade na avaliação da maior parte dos moradores. Em todas as regiões de São Paulo, da periferia ao centro, há reclamações em relação à segurança pública, seja em relação à falta de patrulhamento ou de presença da Guarda Civil Metropolitana.
O que o senhor defende em relação à segurança pública?
A Guarda Civil Metropolitana tem um efetivo de aproximadamente 7 mil homens. Na minha avaliação, mantendo o equilíbrio orçamentário, poderiam ser pelo menos 10 mil homens. Além disso, câmeras do circuito da prefeitura de São Paulo não estão funcionando e, mesmo se estivessem, não há como colocar um número de pessoas suficiente para monitorá-las. Defendo um modelo de tecnologia embarcada de inteligência artificial, para reconhecimento facial, a exemplo do que conheci em São José dos Campos. Nele, há uma integração entre a Polícia Civil, a Polícia Federal e a Guarda Municipal, de maneira que todos os chamados vão para uma central e é possível identificar a pessoa. E tenho dialogado muito com a prefeitura de Tóquio e com o governo japonês por meio da embaixada, para trazer o modelo de policiamento comunitário chamado Koban.
Como funciona esse modelo?
É essencial ter a base da Guarda Civil Metropolitana nos principais bairros com maior incidência de ocorrências. O governo japonês vem utilizando um algoritmo de predição de crimes que permite prever com alta precisão onde e quando ocorrerão os delitos. Com isso, consegue traçar rotas de patrulhamento e itinerários de vigilância por câmeras. Pretendo trazer essa tecnologia para São Paulo. E precisamos transformar a Guarda Municipal em Polícia Municipal. Recentemente tivemos uma decisão histórica do Supremo Tribunal Federal reconhecendo as guardas municipais como forças de segurança pública, o que deveria ter sido implementado há muito tempo. Além disso, houve um decreto do Ministério da Justiça que permite que elas façam abordagens com base na suspeita, assim como a Polícia Militar.
E como o senhor propõe erradicar a miséria em São Paulo?
Em primeiro lugar há um erro básico da prefeitura que é a falta de atualização do cadastro único desde 2015. Se fizéssemos a atualização, erradicaríamos a miséria apenas com os programas federal e estadual, sem aporte financeiro da prefeitura. E então proponho o incremento de R$ 200 por família que aderisse ao programa “Família paulistana”, no qual ela aceitaria ser acompanhada por um agente comunitário de saúde e garantiria alta atividade escolar dos filhos. Além disso, se houver idosos na família, seriam encaminhados para o Centro Dia para o Idoso (ligado à assistência social). Para aquelas famílias sem qualificação técnica, defendo acesso ao ensino técnico profissionalizante, especialmente em programação robótica, em que há mais demanda na cidade.
Como esse programa seria financiado e como as famílias seriam selecionadas?
Seria viável pelos cofres públicos considerando o superávit atual da prefeitura, que está em torno de R$ 5 bilhões. As condições exatas de elegibilidade estão sendo elaboradas, mas a linha de corte seria baseada na pobreza, conforme definido pelo IBGE, e o programa seria acumulativo com o Bolsa Família.
Esses temas foram escolhidos pensando nos debates que se darão entre os principais na corrida eleitoral, como Boulos e Nunes?
Esse não foi o foco, mas sem dúvida são temas que trazem desafios para a cidade. A miséria traz problemas para a gestão atual, é um problema muito real e preocupante. Nos últimos anos observamos um aumento de 10% no número de miseráveis na cidade, totalizando cerca de 700 mil pessoas. São pessoas que passam fome. Além disso enfrentamos uma onda de criminalidade sem precedentes, com recordes de crimes sendo batidos constantemente. Infelizmente, a gestão atual não tem sido capaz de lidar eficazmente com essa situação. Em relação a Boulos percebo uma divergência em seu discurso em relação ao que a maioria da cidade deseja. Enquanto a população clama por um endurecimento das leis penais e um combate mais eficaz ao crime, Boulos defende políticas de desencarceramento e se esforça para despenalizar crimes relacionados ao patrimônio.
O que o senhor propõe em relação à cracolândia?
Temos um prefeito que eu chamo “de oposição” porque, embora manifeste indignação com a situação, é quem deve tomar as medidas necessárias. Ele defendeu a internação compulsória, política que também apoio, porém até o momento nenhuma pessoa foi internada compulsoriamente. É crucial garantir segurança jurídica para os médicos que emitem laudos para internação. Além disso, a prefeitura de São Paulo destinou apenas R$ 4 milhões para pesquisa da vacina contra o crack e a cocaína na Universidade Federal de Minas Gerais, o que considero um orçamento insuficiente. Como deputado federal, destinei 5 milhões de reais a mais. Outra frente na qual tenho atuado é um programa de assistência social para essas famílias, idealizado em parceria com a professora Laura Müller [Machado], do Insper, que consiste em casas modulares.
Como funcionaria esse programa?
Essas casas não se destinariam apenas a usuários de drogas, mas também a pessoas com dependência de álcool ou em situação de rua. O programa visa inicialmente tirar o indivíduo do ambiente da rua, proporcionando-lhe alimentação, cama e abrigo. Em uma segunda etapa, ele receberia aulas para retomar noções de convívio social e autocuidado. A última etapa seria a busca por autonomia, com o indivíduo inscrito no programa de habitação da prefeitura e recebendo uma casa equipada, além de qualificação para o mercado de trabalho, com a moradia financiada pela prefeitura em parceria com a iniciativa privada.
Qual é a opinião do senhor sobre a gratuidade do transporte público aos domingos em São Paulo?
É despejar mais dinheiro para empresas que prestam mal serviço. Já temos um alto subsídio, cerca de metade das tarifas é financiada pela prefeitura. Além disso, há um descumprimento sistemático do contrato, que já é mal elaborado em minha opinião. Muitos ônibus não possuem ar-condicionado, mesmo estando previsto no contrato, e há a falta de carregadores de celular, outra obrigação contratual não fiscalizada pela prefeitura. Além disso as mesmas famílias e grupos políticos vencem os editais há muito tempo devido ao modelo de mobilidade urbana que temos, onde a licitação de capital e de serviço estão integradas. No mundo desenvolvido as licitações são separadas, o que permitiria uma competição mais ampla e uma melhora na qualidade do serviço. Isso também permitiria uma revisão estrutural do tema da mobilidade urbana, que é bastante deficiente.
Como será o jogo eleitoral no legislativo paulistano com a perda do protagonismo do PSDB?
O debate terá foco nos problemas da cidade, mas também será mais nacionalizado e ideológico, mesmo no legislativo paulistano. Temos dois nomes do MBL que devem entrar na disputa: Amanda Vetorazzo e Renato Batista. Ambos ganharam grande projeção no último ano e têm potencial para uma boa votação, não apenas para se elegerem, mas também para contribuir com a chapa do União Brasil na eleição de outros vereadores. Com esse posicionamento nacional, acredito que atenderão a uma demanda do eleitorado paulistano por uma abordagem mais nacionalizada e polarizada no debate político de maneira geral.
Como enxerga a articulação que o prefeito deve fazer com a Câmara dos Vereadores?
Qualquer um que afirme que vai governar sem fazer indicações políticas está mentindo ou não compreende o processo de governança. Defendo que o governo seja composto por indicações políticas, desde que atendam a dois critérios essenciais: o critério técnico, ou seja, o indivíduo deve possuir as habilidades necessárias para ocupar o cargo; e é fundamental que seja ficha limpa. Existem exemplos claros de que é possível governar com indicações políticas de qualidade, como o deputado Mendonça Filho (União Brasil), que foi indicado politicamente para o Ministério da Educação, e a ministra Teresa Cristina (PP), que desempenhou um excelente trabalho como ministra da Agricultura. Se um secretário não estiver desempenhando satisfatoriamente suas funções, será necessário substituí-lo seguindo os critérios da gestão, mas é importante ouvir os partidos que desejam fazer parte da base governista e participar do governo, isso é parte natural do processo político.
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