A disputa nos bastidores pela paternidade do túnel imerso Santos-Guarujá parece águas passadas depois do assunto chacoalhar a relação entre o governo federal e a administração paulista na última semana. Após divergências sobre o projeto que ameaçavam adiar mais uma vez a construção da obra aguardada há cerca de 100 anos na Baixada Santista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciaram o investimento em conjunto com recursos da União e do Estado durante as comemorações dos 132 anos do Porto de Santos, celebrados nesta sexta-feira (2).
No palanque, o clima era de paz entre os adversários políticos com troca de cordialidades nos discursos, sorrisos e afagos. Lula e Tarcísio cochicharam, deram risadas e repetiram, inúmeras vezes, a importância da parceria entre os governos federal e estadual para tirar a obra do túnel Santos-Guarujá do papel, independente da posição política e até um possível confronto na corrida presidencial nas urnas em 2026.
A militância petista destoou de Lula e vaiou o governador paulista, ex-ministro e aliado de Jair Bolsonaro (PL), que venceu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nas eleições para o governo de São Paulo em 2022. Mas nem isso atrapalhou a sintonia entre os mandatários. Durante o discurso de Lula, o governador de São Paulo ouviu da multidão o convite inusitado de “volta ao PT”, quando o petista lembrava da atuação de Tarcísio como aliado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
A parceria para a obra na Baixada Santista começou a ser alinhada na última terça-feira (30) com uma reunião entre Lula e Tarcísio, em Brasília, para discussão dos impasses em torno do projeto e dos investimentos necessários para a obra. O túnel terá 800 metros com a maior parte imersa para ligação pelo canal entre Santos e Guarujá. O investimento previsto é de mais de 5,6 bilhões e a obra integra o Novo PAC do governo petista desde o ano passado. Os recursos investidos devem ser divididos entre União e Estado e ainda contará com uma Parceria Público Privada (PPP).
“É por isso que estou aqui. Para anunciar que eu e o Tarcísio estamos juntos. Em quem ele vai votar, é um problema dele. Em quem eu vou votar, é um problema meu. Mas estamos juntos no compromisso de servir o povo deste estado”, afirmou Lula durante o discurso. “Eu tenho que parabenizá-lo e me preparar para derrotar você nas próximas eleições. Da minha parte, não faltará respeito ao papel que você tem em São Paulo”, completou o presidente ao se dirigir ao governo paulista.
Lula ainda garantiu que nunca tratou um estado de forma diferente por ter um adversário político como governador e lembrou das administrações tucanas de José Serra e Geraldo Alckmin [atual vice-presidente] durante oito anos de mandato presidencial entre 2002 e 2010. “Se a gente quiser ter divergências, vamos esperar as eleições. Se ganhar, é maravilhoso. Se perder, precisa lamber as feridas e esperar outra oportunidade.”
Questionado sobre a parceria com o presidente Lula, Tarcísio respondeu que tem “outra linha de pensamento” mas espera caminhar junto com o governo federal para concretização dos investimentos na área de infraestrutura do estado de São Paulo. Ele revelou que houve a “intercessão de muita gente para que houvesse sensibilidade” nas tratativas com o petista sobre o túnel Santos-Guarujá e adiantou que a parceria com Lula deve viabilizar outros investimentos para São Paulo.
“Não deveria ser uma novidade, pois, na campanha, eu sempre disse que iria ter uma relação republicana com o governo federal. Existe um tratamento republicano de ambas as partes. No final, estamos enxergando o cidadão na ponta. É uma relação de respeito. Temos um presidente da República eleito e um governador de estado eleito, cada um querendo fazer o melhor. Existem caminhos diferentes, mas ambos querem entregar o melhor para o cidadão. Então, vamos procurar convergir naquilo que é possível para construir caminhos que tenham êxito com mais resultados”, afirmou Tarcísio na entrevista coletiva.
O túnel Santos-Guarujá é considerado um dos principais projetos para ligação das cidades, hoje, realizada por balsa, que recebe até 30 mil veículos por dia no pico da demanda, um dos maiores movimentos do mundo neste tipo de transporte. “Em março, vamos abrir a consulta pública para colocar o projeto em discussão com a sociedade. Dessa maneira, podemos fazer o leilão no segundo semestre. Acredito que será bem sucedido, pois temos um modelo bem consistente. Assim, esperamos começar as obras no ano que vem”, projeta o governador.
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