À medida que as eleições de 2024 se aproximam, os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo apontam em divulgações pelas redes sociais e em discursos os principais temas que devem dar a tônica das campanhas.
A reportagem da Gazeta do Povo entrevistou os marqueteiros dos pré-candidatos às eleições em São Paulo Guilherme Boulos (Psol) e Tabata Amaral (PSB); a equipe da campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Kim Kataguiri (União) e especialistas em política. Também tentou contato com a equipe da pré-candidata Marina Helena (Novo), que não retornou até o fechamento desta reportagem.
Nas conversas, as questões que despontam como as principais preocupações dos pré-candidatos convergem entre si. É consenso que a disputa paulistana será marcada principalmente pelo lulopetismo e o bolsonarismo. Temas que influenciam diretamente no dia a dia do eleitor paulistano também darão o tom da disputa eleitoral.
Polarização entre Lula e Bolsonaro e índice de rejeição
Em primeiro lugar, a polarização entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), latente nas eleições presidenciais de 2022, tenta ser levada para o pleito em São Paulo principalmente pelo pré-candidato da esquerda, Boulos.
Ele tenta vincular a imagem do prefeito e principal opositor, Ricardo Nunes, à imagem negativa do bolsonarismo, buscando explorar a rejeição a Jair Bolsonaro em diversas partes da cidade. O fato de Boulos ter Marta Suplicy (PT) como vice e Lula como cabo eleitoral acirra ainda mais essa tentativa de polarização.
“Essa estratégia nos levará a algumas temáticas como a radicalização do Boulos. Ele será associado a invasões de terra e de propriedades privadas, enquanto o Ricardo Nunes será associado ao bolsonarismo com toda a carga negativa do conceito, como as questões da covid e do radicalismo. Essas duas posições vão ganhar as telas e as redes sociais”, diz o consultor político Gaudêncio Torquato.
A campanha de Nunes, por sua vez, não acredita que essa estratégia dará certo. “Essa tentativa de falar que Nunes é bolsonarista não está colando nem na imprensa e nem nas pessoas”, diz um integrante do alto escalão. Além disso, existe uma convicção de que o índice de rejeição de Boulos dificilmente mudará.
Para o cientista político e professor do Insper Leandro Cosentino, apesar da importância de se discutir questões municipais que são do âmbito da atuação de um prefeito, há o risco de o debate ser desvirtuado apenas para a disputa de votos. "Muitas vezes temos os sequestros de temas importantes por conta das polarizações e entram as pautas 'alienígenas', ou seja, que não são função do poder municipal, mas vêm para rotular o candidato, como aborto e drogas. Eles não ajudam fundamentalmente a cidade a transpor os seus desafios", pontua ele.
Desempenho do governo Lula na economia
Se por um lado a tentativa de nacionalizar a campanha pode trazer votos para Boulos, do outro a estratégia pode ser um tiro no pé, uma vez que a imagem dele associada ao presidente Lula ficará suscetível ao sucesso de governo, principalmente do ponto de vista econômico.
“Há uma temática mais geral que é o empobrecimento da população. Se em outubro a população tiver menos dinheiro no bolso para comprar a sua cesta básica, isso se refletirá em um discurso contra o lulopetismo. Mas se as classes D e E reagirem positivamente, isso favorecerá o Boulos”, avalia Torquato.
Segurança pública será principal tema das eleições em São Paulo
O aumento da sensação de insegurança na capital paulista aponta que a segurança pública será intensamente abordada nos debates eleitorais, ainda que a Polícia Militar seja de responsabilidade do governo do estado de São Paulo. O pré-candidato Kim Kataguiri, por exemplo, defende abordar o tema por meio da ampliação da Guarda Civil Metropolitana, bem como da colocação de câmeras e do uso de inteligência artificial.
"Em todas as regiões de São Paulo, da periferia ao centro, há reclamações em relação à segurança pública, seja em relação à falta de patrulhamento ou de presença da Guarda Civil Metropolitana", aponta ele, que defende também abordar a erradicação da miséria. "Claro que vamos abordar outros aspectos da cidade, mas esses serão pontos centrais, principalmente nos debates", complementa.
A segurança pública também fará parte da campanha de Boulos, que pretende abordar outros temas, como desigualdade social. "Queremos discutir os problemas da cidade e apresentar soluções para as principais questões de São Paulo. Da segurança pública à população em situação de rua, que mais do que dobrou nesta gestão, passando pela cracolândia e pela enorme desigualdade que assola a cidade", enumera Josué Rocha, coordenador da pré-campanha de Boulos.
Na avaliação de Bruno Bernardes, sócio da PLTK, responsável pela campanha da Tábata Amaral (PSB), três eixos principais devem dominar a campanha à eleição municipal em São Paulo. "Obviamente primeiro a segurança, pois não tem como não tratar de um assunto que está tão latente na vida das pessoas de norte a sul da cidade. Segundo, um tema que vem aflorando nos últimos dois meses na cidade de São Paulo e também em pesquisas é o retorno da preocupação do eleitorado com o combate à corrupção", diz ele.
Em terceiro lugar, Bernardes enfatiza o que chama de "travamento da cidade", em relação à mobilidade urbana. "A cidade está travada em deslocamento, desenvolvimento, em oportunidades, no transporte público. E por último vem a desigualdade, que entendemos como um ponto central em uma cidade com uma periferia tão densa", diz ele.
Outros temas ainda devem fazer parte das campanhas, como saúde e enchentes, no âmbito de zeladoria urbana. Os pré-candidatos e suas equipes tentarão se equilibrar entre apelos ideológicos e a necessidade de abordar as preocupações imediatas dos paulistanos. Essa eleição promete ser um reflexo das tensões nacionais, mas também um teste para a capacidade dos candidatos de conectar essas questões maiores com o cotidiano dos eleitores e suas expectativas por soluções tangíveis para os problemas locais.
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