O metrô de São Paulo completa 50 anos de existência em 2024. Ao longo de cinco décadas, o maior metrô do Brasil acumula polêmicas e atrasos em obras - que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) prometeu destravar.
Desde a campanha eleitoral de 2022, Tarcísio afirma que o estado vai aumentar linhas e estações de metrô, além de continuar com obras como a linha 6 (laranja), que tinha previsão de entrega no ano de 2020. A expectativa atual é entregar a operação parcial (algumas estações) ao longo de 2026. A entrega total da linha 6, entre a Brasilândia (zona norte) e o centro da capital paulista, está prevista para abril de 2027, segundo o governador.
Atualmente, a rede metroviária de São Paulo é composta por seis linhas, totalizando cerca de 104 quilômetros de extensão e 91 estações, por onde passam mais de 5 milhões de passageiros diariamente, segundo dados da companhia que opera o serviço.
Linha do metrô de Congonhas ao Morumbi está atrasada há 12 anos
Em setembro de 2023, o governador anunciou a retomada das obras na linha 17-ouro do monotrilho, que ligará a região do aeroporto de Congonhas, na Zona Sul, ao bairro do Morumbi, um trajeto de 8 quilômetros. Essa linha faz parte do monotrilho que tinha previsão de entrega para a Copa do Mundo de 2014, mas por quase uma década não passou de um canteiro de obras.
O início dos trabalhos ocorreu em 2011. Segundo o governo do estado, a perspectiva é que o monotrilho fique pronto em 2025, com a estrutura em operação no primeiro trimestre de 2026.
Após três cancelamentos de contratos, a empresa escolhida para dar continuidade às obras foi a Agis Construção S.A., que havia participado do processo de licitação em 2019. O valor do contrato é de R$ 847 milhões, quantia corrigida pela inflação da oferta original, feita quatro anos atrás. Os trens que vão operar no monotrilho estão sendo produzidos na China e, segundo a gestão estadual, acompanhados de perto por técnicos do governo paulista.
Sonho do ABC paulista, linha 20 (rosa) do metrô está em fase embrionária
Com extensão até o ABC, a linha 20-rosa terá 25 estações ligando a Lapa (zona oeste da capital paulista) a Santo André, na região metropolitana de São Paulo. Debatida há anos, é uma das linhas mais aguardadas, por ser a primeira da cidade de Santo André.
Segundo o governo do estado, a linha 20 está em fase embrionária (considerada a “fase zero”), quando são feitos estudos de viabilização para a obra. Caso o projeto se confirme, a expectativa é que a nova linha faça nove ligações entre o metrô e o trem.
Segundo apuração da Gazeta do Povo, a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI) prevê o leilão da linha 20 até 2026. Os valores estimados para a viabilização da obra não foram divulgados, muito menos o prazo de execução.
Extensão da linha 4 do metrô até o município de Taboão da Serra
Outra promessa que perdura há mais de 10 anos no estado de São Paulo é a extensão da linha 4-amarela do metrô até o município de Taboão da Serra. A linha foi inaugurada em 2010 pelo ex-governador Alberto Goldman, que na época prometeu a extensão até Taboão da Serra, o que nunca aconteceu.
A extensão prevista é de 3,3 quilômetros e mais duas estações (Chácara do Jockey e Taboão da Serra). O trajeto, segundo estimativas da gestão estadual, atenderá cerca de 80 mil pessoas por dia. Esta é mais uma expansão que está em fase de estudos. A previsão do governo do estado é começar as obras em dezembro deste ano, com um investimento de R$ 3 bilhões. O início das operações é estimado para 2028.
"Estamos fazendo o projeto de engenharia e em 2024 as obras terão início", afirmou Tarcísio no fim do ano passado. Porém, oficialmente, a expansão da linha 4-amarela do metrô de São Paulo segue em fase de estudos.
Linhas 2 e 5 do metrô de São Paulo também acumulam espera por extensão
A linha 5-lilás, que possui 17 estações e 4 conexões, percorre boa parte da zona sul da capital paulista e tem histórico de enfrentar polêmicas. Após ter sido inaugurada em 2002, ficou quase 20 anos em obra e sem ter qualquer conexão com outras linhas.
Os paulistanos aguardam mais três estações ficarem prontas: Parque Santos Dias, São José e Jardim Ângela, todas localizadas no extremo sul da cidade. O ex-governador João Doria (sem partido) prometeu que a extensão ficaria pronta até 2024, entretanto, as obras sequer começaram.
Em setembro, Tarcísio prometeu o início das obras "no ano que vem". Porém, apenas o projeto-executivo deve ficar pronto este ano.
Em mais uma tentativa do atual governador de expandir as linhas de metrô para a região metropolitana, Tarcísio disse que a linha 2-verde estava dentro do projeto de expansão do metrô de São Paulo.
“Queremos levar o metrô para Guarulhos. É importante começar a tirar o metrô da cidade de São Paulo e levar para a Região Metropolitana”.
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
A linha 2 conta com cerca de 14 quilômetros de extensão, 5 ligações e 15 estações que ligam a zona leste (Vila Prudente) à zona oeste da cidade (Vila Madalena). Existe uma obra de expansão em andamento que aumentará a linha em 8,4 quilômetros, levando-a até a zona leste. Oito novas estações devem ser entregues em duas fases: no fim de 2026 (quatro estações) e no fim de 2027 (mais quatro estações).
A expansão para o município de Guarulhos ainda é gestada sob a forma de projeto. Tarcísio defende que a expansão para a cidade vizinha seja financiada pelo novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal. A obra é estimada em R$ 8 bilhões. Além das novas estações até Guarulhos, o governo federal bancaria um novo estacionamento de trens na região.
Governador de São Paulo quer privatizar novas linhas de metrô
O governador Tarcísio de Freitas incluiu no pacote de privatizações do estado de São Paulo praticamente todas as novas linhas de metrô que estão sendo projetadas. A expectativa do chefe do Executivo estadual é poder acelerar as obras com a verba da privatização.
Por exemplo, para a expansão da linha 2-verde até Guarulhos, que é considerada uma das mais difíceis logisticamente, além de depender de verba do PAC, o governador prometeu levá-la a leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. Tarcísio declarou em Guarulhos que analisa o melhor modelo: se é concessão ou se privatização vai ser o formato do metrô", disse.
“A ideia é que esse estudo aconteça ao longo do ano que vem e qualquer coisa em termos de leilão deve ocorrer em 2025”.
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Das seis linhas de metrô de São Paulo, quatro são públicas e operadas pelo metrô (2 -verde, 3-vermelha, 1- azul e 15-prata) e duas são privatizadas (linha 4 - amarela, pela Via Quatro, e linha 5-lilás, pela Via Mobilidade).
Em São Paulo, as linhas privatizadas do metrô contam com um fechamento de porta duplo, que é considerado mais seguro, além de alguns trens contarem com automação, sem precisar de condutor.
Especialista elogia metrô de São Paulo, mas critica expansão para região metropolitana
Ciro Biderman, professor e diretor do programa de Cidades da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta as qualidades do metrô de São Paulo, mas critica a operação do monotrilho. “O metrô de São Paulo tem muita qualidade, comparando com outros internacionalmente. É muito limpo e tem um volume de pessoas que poucos carregam. A linha 4 opera em sistema de carrossel e intervalo muito curto. É de uma qualidade extremamente elevada de transporte público", avalia.
O especialista destaca que, historicamente, o metrô de São Paulo atraiu passageiros de classe média alta, fazendo a migração do uso de carros de passeio. "É um sistema de excelência. Não diria a mesma coisa do monotrilho. Ele não consegue transportar o que disseram que iria transportar, além de ser algo urbanisticamente questionável”, pondera.
Para Biderman, a diferença entre as linhas do metrô paulista está no tempo em que foram construídas, e não o modelo de gestão. “As linhas operam de maneira semelhante. Tanto as linhas estatais como as concedidas têm qualidade parecida. As linhas concedidas são mais novas, não é justo exigir a mesma coisa. Mesmo assim, as linhas mais antigas são boas. Na linha 4 [privatizada] estão conseguindo operar com menos funcionário em relação às linhas 1,2 e 3 [estatais]. Isso é algo considerável, em média 40% a menos. Indica uma maior eficiência na operação privada do metrô”, diz o docente.
“Quando foram concebidas as linhas 1,2 e 3, a tecnologia da porta dupla não era difundida. Em Nova Iorque, até hoje não tem o sistema de porta dupla. Não atribuiria essas diferenças ao fato de ser privatizada - isso está relacionado à época em que foram construídas, e não ao modelo de negócio”.
Professor e diretor do programa de Cidades da FGV, Ciro Biderman
Biderman também tece crítica à expansão do metrô para outros municípios da região metropolitana. "Não seria a minha opção [expandir o metrô para outras cidades], dada a dificuldade que é construir o metrô e o custo extremamente elevado. Falando de recursos, um quilômetro de metrô está na faixa de meio bilhão de reais", aponta.
Para ele, a melhor solução seria investir em trens. "Temos 300 quilômetros de trilhos de trem trabalhando com intervalos de 6 e 7 minutos. Daria para reduzir consideravelmente esse intervalo para 3 minutos, investindo em trilhos e mais trens. Não sai de graça, mas é um custo muito inferior do que expandir todo o metrô para a região metropolitana”, compara.
O professor acredita que Tarcísio conseguirá entregar apenas uma linha até o fim da atual gestão. “A linha 6-laranja está há algum tempo em obra. Tem a expectativa de ele entregar a linha 6, mas simbolicamente, porque serão 3 ou 4 estações, mas já é uma entrega. As outras eu acho muito difícil ele entregar para 2026”, diz Biderman.
Governo do estado diz que há muito para comemorar
A gestão estadual diz que há muito a ser comemorado no aniversário de 50 anos do metrô e destaca projetos de ampliação. “Este ano a operação do metrô completa 50 anos e tem muito a comemorar, além de metas para serem ampliadas. Atualmente o governo trabalha para ampliar o alcance da rede de transporte sobre trilhos e oferecer mais opções de deslocamentos à população. O metrô trabalha em duas frentes com a construção e planejamento de novas linhas. Há obras em curso que vão acrescentar mais 21,6 km à rede. Na linha 2-verde os trabalhos acontecem para ampliar a linha até a Penha, atendendo novas regiões e criando novas opções de trajeto aos moradores da zona leste”, defende.
O Executivo estadual destaca a a ampliação em curso da linha 15-prata, com obras nas estações Boa Esperança e Jacu Pêssego. "Vão reduzir em mais de 50% o tempo de trajeto do extremo leste ao centro, além da estação Ipiranga, que as obras começaram recentemente", destaca o órgão.
O governo do estado prometeu entregar a interminável obra do monotrilho na capital paulista. “A atual gestão também retomou, em 2023, as obras das estações, via e pátio na linha 17-ouro. A medida foi possível após a rescisão e assinatura de novo contrato, com a ocupação dos canteiros em setembro passado".
A obra tem expectativa de ser concluída no fim de 2025, "permitindo o avanço da instalação de sistemas para a abertura da linha em 2026. Em paralelo são fabricados os trens e a primeira unidade vai chegar ainda neste ano”, completa o governo de São Paulo.
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