O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem intensificado as entregas de casas populares na capital paulista com o objetivo de fazer frente a seu principal adversário na candidatura à reeleição, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), cuja maior bandeira é a defesa de moradia para famílias de baixa renda.
Nunes afirma que entregará 100 mil casas até o fim do seu mandato, que está previsto para dezembro deste ano. Até o momento, no entanto, foram entregues apenas 9.742 unidades, menos de 10% do número anunciado. Essa quantidade precisou de três anos para ser entregue e agora, para cumprir a promessa, será necessário concluir 90.258 moradias populares em apenas 11 meses.
Após o questionamento da Gazeta do Povo sobre a viabilidade dos números informados pela própria Prefeitura de São Paulo, a instituição reiterou os dados e afirmou em nota que "mais de 100 mil unidades habitacionais, entre entregues, em obras e contratadas, serão finalizadas até o fim de 2024. Destas, 19.523 novas unidades estão em construção na cidade, 33.105 unidades foram contratadas e outras 54 mil novas moradias estão em processo de contratação".
A prefeitura informou ainda que o termo “unidades contratadas” se refere a obras que estão para começar. Sendo assim, 33 mil ainda serão iniciadas e outras 54 mil sequer começaram a ser construídas. A gestão municipal também não soube informar o mês exato em que serão finalizadas as 19.523 residências atualmente em obra.
O programa “Pode Entrar” engloba quatro categorias de contratação: modelo de aquisição, no qual a prefeitura compra a residência; modelo de melhoria, em que a prefeitura reforma o imóvel; modelo empresa, aplicado quando a empresa selecionada se responsabiliza pelo licenciamento e a execução do projeto; e o modelo de Programa de Parceria Público-Privado, no qual é feita uma carta de crédito para aquisição de um imóvel da iniciativa privada.
Tarcísio dobra aposta de Nunes e promete 200 mil casas populares
No final do ano passado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez um balanço de sua gestão e disse que a área da habitação é uma das prioridades de seu governo, voltando a repetir que até o final de seu mandato, em dezembro de 2026, entregará 200 mil casas populares em todo o estado no âmbito do programa "Casa Paulista".
Segundo dados do governo do estado, a atual gestão entregou no primeiro ano cerca de 18,5 mil casas populares, o que representa 9% do anunciado pelo governador. Para cumprir a promessa de campanha, Tarcísio terá de entregar em média 60 mil casas por ano, o triplo do que fez em 2023.
“Hoje são 103,5 mil unidades em produção. Já nos preparamos para mais 101 mil residências. Em breve vamos chegar nas 200 mil que prometemos”, afirmou o governador em coletiva sobre o primeiro ano de gestão, realizada em dezembro.
Na mesma entrevista, Tarcísio afirmou que em 2023 foram reformadas 23 mil moradias e que "não basta entregar casas novas, é preciso reformar as antigas". A maioria desses imóveis estão na região central da capital paulista e a ideia de reformá-los é mais uma tentativa de revitalizar o centro de São Paulo. Somente em 2024, Tarcísio e Nunes já cumpriram seis agendas em conjunto abrangendo o tema habitação.
Tarcísio e Nunes querem "Times Square paulistana" no centro de São Paulo
Uma das apostas do prefeito Ricardo Nunes para recuperar o centro de São Paulo é transformar o cruzamento das avenidas Ipiranga e São João em painéis luminosos. O projeto foi batizado pelo prefeito de “Times Square paulistana” e deverá ser feito em uma parceria com o governo do estado. O local, que também será chamado de “corredor cultural”, envolverá uma troca de prédio públicos entre as gestões municipal e estadual.
De um lado a prefeitura disponibilizará ao governo do estado três prédios: o antigo Cine Marrocos, um galpão que fica localizado ao lado dele e o antigo Hotel Esplanada. Ainda não se sabe se as instalações serão vendidas por preços simbólicos ou cedidas para o governo. O governo do estado, por sua vez, ficará responsável por instalar hotéis, espaços de convenção e centros de convivência. Essa iniciativa representa mais uma tentativa do governador e do prefeito de reabilitarem o centro da cidade e atrair investidores para a região.
Em contrapartida, o governo do estado cederá à prefeitura dois prédios que hoje abrigam as sedes da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo e do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo. A gestão municipal já manifestou a pretensão de transferir a sede da Secretaria da Educação, atualmente na zona sul de São Paulo, para esses dois imóveis.
Como disse à Gazeta do Povo o secretário de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif, essas trocas estão previstas no projeto do governo Tarcísio que revitalizará o centro e transformará a região na nova “Esplanada dos Bandeirantes”.
Necessidade de se investir em moradias populares
Para Rodrigo Prando, cientista político e professor do Mackenzie, o tema habitacional estará em foco na eleição de outubro na capital paulista principalmente por ser uma das pautas defendidas pelo pré-candidato Guilherme Boulos. "Obviamente os adversários políticos vão querer relacionar Boulos com o que eles chamam de invasão. De qualquer maneira, sabendo que essa é uma bandeira consolidada pelo adversário, Nunes tentará entrar nessa seara e conseguir conquistar votos entregando moradias populares”, diz ele.
“O tema habitacional será traçado como uma linha importante no debate político entre os dois candidatos”.
Rodrigo Prando, cientista político e professor do Mackenzie.
Prando observa ainda que o trabalho conjunto entre Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas pode ser positivo tanto para o município quanto para a candidatura de Nunes. "Essa parceria pode melhorar a política pública habitacional no município e, ainda que Nunes entregue em um evento moradias que tenham sido financiadas pelo governo estadual, isso obviamente aumenta seu capital político e pode trazer frutos em termos de consolidação de imagem”, diz ele.
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