Estações lotam com greve dos metroviários em São Paulo| Foto: EFE/Isaac Fontana
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Na manhã desta quinta-feira (23), os paulistas que utilizam o transporte público em São Paulo e região metropolitana acordaram em meio ao caos. Os milhares de passageiros que utilizam o sistema se depararam com estações do Metrô fechadas e com a placa "paralisação parcial de seus funcionários". As quatro linhas fora de operação são responsáveis pela circulação de cerca de 90% dos 2,8 milhões de passageiros que circulam pelo sistema diariamente. De acordo com o Sindicato de Metroviários e Metroviárias SP, a adesão à greve do metrô totaliza pouco mais de 6 mil funcionários paralisados.

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Entre as reivindicações da categoria está o pagamento em forma de abono do déficit do Programa de Participação de Lucros e Resultados que o Metrô não teria pago há três anos aos funcionários. "Há vários meses estamos discutindo com o Metrô, mas ao chegar na mesa de negociação com o tribunal, a empresa alega que não tem dinheiro", diz Alex Fernandes, secretário de imprensa do sindicato.

A categoria também protesta contra as privatizações e as terceirizações das linhas. "Estamos exigindo concurso público para repor o quadro defasado de funcionários e o fim das terceirizações que precarizam o trabalho, com salários reduzidíssimos e jornada de trabalho excedente, colocando a prestação do serviço em xeque. Um mecânico do metrô concursado tem um salário de R$ 4,5 mil enquanto o terceirizado faz a mesma função por R$ 1,9 mil", diz ele.

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Problemas nas concessões

Além das reivindicações ligadas à remuneração dos funcionários do Metrô, a primeira grande greve enfrentada pelo governo Tarcísio de Freitas passa por problemas de falta de recursos e ineficiência na operação de trens da cidade que frequentemente acarretam acidentes envolvendo as linhas, principalmente ligadas à concessões. A categoria é contra as privatizações e terceirizações do metrô, forte bandeira do governador Tarcísio.

"As Linhas 8 e 9 da CPTM oferecem o pior serviço e com a concessão a tarifa fica mais cara", diz Camila Lisboa, presidente do sindicato que está à frente da paralisação. No último sábado (18), um descarrilamento de trem com passageiros da linha 8 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), concessão operada pela ViaMobilidade desde janeiro de 2022, levou uma mulher a passar mal e precisar ser socorrida pelo serviço de emergência. Uma investigação do Ministério Público pede o fim da concessão devido aos recorrentes problemas nas linhas.

Já os trens do monotrilho da linha 15-prata do Metrô colidiram entre si duas vezes este mês. Administrada pelo estado, a linha foi leiloada à ViaMobilidade em 2019, porém a concessão nunca se concretizou devido à problemas na Justiça.

No início do ano, em entrevista à Rede Globo, o governador Tarcísio afirmou que pretende realizar mais concessões de linhas, porém com a ressalva de não querer repetir os problemas enfrentados pelas parcerias firmadas com a iniciativa privada. "[Novas privatizações] estão no radar sim, mais concessões de linhas da CPTM e aí, claro, a gente tem que pensar que tipo de contrato vai colocar na rua para que a gente não tenha os problemas das linhas 8 e 9. A gente tem que fazer uma previsão de investimento quando for fazer o modelo [de contrato da concessão]", disse.

Liberação de catracas na greve do metrô

Antes do início da greve, o sindicato afirmou que, se houvesse liberação das catracas pelo governo, os funcionários voltariam aos postos de trabalho para não prejudicar a população. De acordo com o Metrô, a liberação chegou a ocorrer por um período da manhã, porém os funcionários não retornaram ao trabalho e uma decisão da Justiça exigiu a volta da cobrança aos passageiros.

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"A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), diante da continuidade da paralisação por parte do Sindicato dos Metroviários mesmo com a liberação das catracas, obteve na manhã desta quinta-feira (23) liminar que determina o funcionamento de 80% do serviço do Metrô nos horários de pico (entre 6h e 10h e entre 16h e 20h) e com 60% nos demais horários, durante todo o período de paralisação, com cobrança de tarifa. A liminar foi concedida a pedido do Metrô. Em caso de descumprimento, pode ser aplicada multa ao sindicato dos metroviários no valor de R$ 500 mil por dia. A decisão é do desembargador Ricardo Apostólico Silva", disse o Metrô de São Paulo em nota.

A última greve dos metroviários de São Paulo ocorreu em 2021, por reajuste salarial, e durou menos de 24 horas após negociação com o governo de João Dória. À época, o sindicato conseguiu estabelecer cláusulas no acordo coletivo até 2025.