De olho no eleitor de baixa renda, Tarcísio acena para favelas em acordo com ONG em São Paulo

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Na semana passada, em um significativo e inédito aceno ao eleitor de baixa renda, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou da abertura do Favela Power, que se descreve como o maior encontro de favelas do país. Na ocasião, o governador firmou uma parceria com a reconhecida organização não governamental (ONG) Gerando Falcões, de Edu Lyra, com o objetivo de fortalecer as políticas públicas nas favelas do estado. De acordo com Edu Lyra, a parceria visa colocar no orçamento do Estado o programa do Gerando Falcões chamado favela 3D, que visa "transformar as favelas em ambientes Dignos, Digitais e Desenvolvidos".

Arthur Lima, secretário-chefe da Casa Civil, afirma que "o grupo de trabalho multisecretarial visa trabalhar diretamente no protocolo de intenções com a ONG Gerando Falcões para incorporar ações do projeto Favela 3D por meio de políticas públicas estaduais". Tarcísio disse que quer "tornar o Favela 3D o maior programa brasileiro de erradicação da pobreza".

Ações voltadas a favelas e eleitor de baixa renda

Independentemente das boas intenções do governo de São Paulo ao assinar o acordo, uma coisa é fato: o movimento é significativo por representar um primeiro aceno de Tarcísio ao eleitor de baixa renda em um momento em que começam a se formar as alianças para a disputa à prefeitura de São Paulo no ano que vem. Guilherme Boulos (Psol), nome com perfil vinculado à defesa das camadas mais pobres da população, desponta como candidato líder das intenções de voto de acordo com a última sondagem divulgada pela Paraná Pesquisas. A corrida municipal será um ensaio para a candidatura de Tarcísio à Presidência da República em 2026.

"Tarcísio será um protagonista importante na eleição municipal de 2024, com a possibilidade de apoiar Ricardo Nunes, atual prefeito pelo MDB. Mas, por enquanto, ele tem um perfil técnico que agrada os setores médios da população, que são mais influentes e participam diretamente do processo político", diz o jornalista e consultor político Gaudêncio Torquato, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. "Evidentemente, trabalhar na direção das margens é sempre uma boa estratégica, principalmente em um estado como São Paulo, que tem a maior base eleitoral do país, com 34 milhões de pessoas, sendo que a maior parte está na classes C, D e E", complementa.

Uma das estratégias de Tarcísio consiste em se posicionar não apenas como um herdeiro do capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Ele desponta como o principal eixo à direita do país para as eleições à Presidência em 2026, ao mesmo tempo em que se aproxima do centro. Essa decolagem começa com uma tentativa de atrair as massas, por isso quaisquer programas nas áreas sociais terão muito impacto eleitoral", diz Torquato.

Nas últimas eleições, Tarcísio ganhou em segundo turno do oponente do PT, Fernando Haddad, com uma diferença de 2,6 milhões de votos. O favoritismo ao candidato de Bolsonaro, no entanto, ocorreu principalmente no interior do estado, enquanto na capital paulista Haddad e Lula saíram na frente. "Há uma preocupação de Tarcísio de Freitas em consolidar sua imagem também perante a esse grupo que nos últimos anos tem tradicionalmente se voltado mais ao PT ou à esquerda. Ele precisa dessa fatia do eleitorado para se consolidar não só no estado de São Paulo caso vise a própria reeleição, mas também se buscar voos mais altos para o Palácio do Planalto em 2026 ou em 2030", diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.

Aproximação do governo ao centro da cidade

Uma das promessas de campanha de Tarcísio de Freitas é mudar a sede do governo do Estado, do Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para o centro de São Paulo e transformar a região, hoje ocupada por dependentes químicos na "Cracolândia" e por pessoas em situação de rua, em uma espécie de Palácio do Alvorada, em Brasília, com as secretarias localizadas próximas do governo. Para os analistas políticos, além do sentido urbanístico de tentar revitalizar a região, a ação tem um sentido político simbólico.

"Significa ocupar um lugar que a esquerda já vem ocupando há muito tempo e mostrar que ela não é a única capaz de lidar com esse problema por uma via humanista. É querer dizer que a direita não lida só com truculência, mas também sabe dar um tratamento humanista com relação a isso, num plano mais ambicioso de repaginar o centro da cidade", diz Consentino.

"É um jogo muito bem articulado do ponto de vista político, porque significa puxar a sede do governo para mais perto do eleitorado. O Palácio do Bandeirantes é muito isolado e elitista, não tem povo ao redor. Trazer a sede do governo para os Campos Elíseos significa puxar o centro administrativo para perto das massas", analisa Torquato.

A manobra, porém, é arriscada, tendo em vista que a revitalização do centro de São Paulo envolve enfrentar problemas sociais vividos pela população em situação de rua, os dependentes químicos, os comércios irregulares e, principalmente, o tráfico de drogas promovido pelo crime organizado. As ações contundentes feitas pela subprefeitura da Sé, por exemplo, comandadas pelo coronel reformado da Polícia Militar Alvaro Camilo, desagradam representantes dos movimentos sociais da região. Na última semana, ele mandou colocar grades em volta dos canteiros da praça da Sé, região que há anos abriga pessoas em situação de rua, principalmente no período noturno.

"Os planos do governo para o centro de São Paulo são viáveis, mas não tão simples, sobretudo num prazo tão exíguo. O sucesso vai depender muito da maneira como esses esforços vão ser empreendidos. Não é fácil agradar a liderança de uma série de pessoas que militam naquela área há muito tempo e que têm uma identidade ideológica bastante definida", diz Consentino.