Localizada a 450 quilômetros da cidade de São Paulo, a pequena Olímpia, com 55 mil habitantes, tem vivido um notável crescimento no setor de turismo, atraindo visitantes de todo o Brasil. Segundo levantamento da prefeitura, a cidade praticamente dobrou o número de visitantes nos últimos cinco anos. No ano passado, 3,5 milhões de pessoas estiveram por lá. Em 2023, foram 4,8 milhões, um crescimento de quase 40% em relação ao ano anterior. A projeção para 2024 é de alcançar 6 milhões de turistas.
O clima de Olímpia é agradável durante o ano todo, variando em torno de 23,7ºC (segundo o Climate Data), mas são as águas termais que atraem os visitantes, descobertas por acaso na década de 1950, quando a Petrobras procurava petróleo na região. A cidade está localizada no Aquífero Guarani, o maior reservatório de água doce do mundo. Nos parques aquáticos, a temperatura da água varia entre 26ºC e 38ºC.
Parques aquáticos
Foi Benito Benatti, fundador do clube social Thermas dos Laranjais, quem deu início ao turismo na cidade, ao transformar o espaço em um parque aquático. A construção, que começou em 1985 e foi inaugurada em 1987, ainda é um clube, embora não seja mais possível se associar. Em 2001, ele foi aberto ao público em geral.
Das duas piscinas e um modesto conjunto de toboáguas da década de 1980, o Thermas dos Laranjais se tornou um dos principais destinos do gênero, com 55 atrações em uma área construída de 300 mil metros quadrados. Inclui brinquedos radicais, como a primeira montanha-russa aquática do Brasil e o gigantesco Lendário, um toboágua com cinco pistas, duas de boias (cuja base fica a 26 metros de altura) e três de cápsulas a 28 metros de altura, que podem alcançar velocidades que ultrapassam os 70 km/h.
O arquiteto Jorge Noronha, presidente do parque aquático, relembra o papel de pioneirismo de Benatti: “A gente falava: ‘Vamos fazer isso?’ E ele falava: ‘Vamos fazer’. Ele não se importava que a gente errasse. A gente fez muita coisa por tentativa e erro”.
Noronha conta que não havia equipamentos no Brasil para esse tipo de construção. “A gente montou uma ferramentaria dentro do parque para construir a nossa piscina de onda”. Para ele, o Thermas dos Laranjais é um grande laboratório. “A gente queria fazer com que as pessoas viessem para cá e ficassem felizes. A gente foi criando novos brinquedos e muitos deles são patenteados. Nós criamos. Não existia uma indústria dessa no país”, afirma.
O pioneiro Thermas e o Hot Beach, outro grande empreendimento na cidade, têm desempenhado papéis fundamentais no crescimento do turismo em Olímpia. Os visitantes passam cerca de quatro dias para, principalmente, desfrutar das atrações desses parques aquáticos. “As pessoas que conhecem o parque aquático se surpreendem quando vêm aqui e veem que os nossos brinquedos são tão bons ou melhores que alguns da Disney”, diz Noronha.
“Nossos brinquedos são diferentes. Você visita um parque aquático fora do país e vai ver que eles têm – a gente chama de experiência – uma experiência por toboágua. Mas a gente trabalha com três experiências. É uma coisa que o americano não faz. A nossa ideia é ter três experiências diferentes numa descida só. Isso é um diferencial bastante grande”, afirma.
Público
Olímpia não atrai somente os fãs de toboáguas radicais. São famílias – geralmente compostas por casais entre 26 e 50 anos, com crianças – o principal público que viaja até lá. A advogada Amanda Cristina de Oliveira vive na região metropolitana de São Paulo e passa férias na cidade do interior desde que as duas filhas ainda usavam fraldas (hoje, elas têm 14 e 15 anos).
“A primeira vez, eu fui porque falaram da questão da água quentinha, que bebê adora”, conta. “Depois elas foram crescendo e entendendo. E agora todo ano elas querem ir a Olímpia. E eu falo que elas estão grandes; que é para a gente ir a outros lugares. Aí elas respondem: ‘Ah, mas não dá para a gente ir para lá e aos outros lugares também?’ Já virou passagem obrigatória”, diz, rindo.
Amanda se sente tanto em casa em Olímpia que se tornou cotista em um resort da região, que lhe dá direito a quatro semanas de hospedagem (duas semanas de sete dias e duas de quatro dias), por ano, no seu empreendimento ou outros da rede. O apartamento veio mobiliado; possui estrutura de hotel, com toalhas e limpeza inclusas, e uma minicozinha. Em 2023, ela viajou para Olímpia três vezes. “Eu fui em agosto e em novembro, em um fim de semana. A gente fez tipo um bate-e-volta, indo no sábado e voltando no domingo”. E esteve novamente para passar o ano novo, conta.
Inovação
A diversificação do entretenimento em Olímpia tem sido crescente e rendeu à cidade o apelido de Orlando brasileira, em homenagem à cidade norte-americana, lar dos parques temáticos mais famosos do mundo, como o complexo Disney. Atrações secas, como o Vale dos Dinossauros e o Dreamland Museu de Cera, atraem visitantes de todas as idades a Olímpia.
Para manter o turismo aceso, a inovação é contínua. O Vale dos Dinossauros, inaugurado em 2019, está sendo completamente reestruturado. Os dinossauros estão recebendo novas pinturas e o parque terá novidades, como uma área kids, com tobogãs, escalada e esportes de aventura. Já o Dreamland Museu de Cera, inaugurado em 2021, promove eventos interativos, como o Terror no Museu.
O Thermas dos Laranjais fica aberto 365 dias por ano e procura inaugurar atrações de forma constante, como a nova área Play Kids, com versões em miniatura de brinquedos radicais do parque. Além disso, o Thermas planeja expansões para os próximos 15 anos em uma nova área com 1 milhão de metros quadrados.
Infraestrutura
Olímpia tem investido em infraestrutura turística, incluindo opções de hospedagem, gastronomia e atividades culturais, como o tradicional Festival do Folclore, que completa 60 anos em agosto. Em 2014, a cidade recebeu o título de estância turística do estado de São Paulo, além de ser o 1º Distrito Turístico do Brasil (denominação governamental), mudança que cria melhores condições para o município receber investimentos no setor pela iniciativa privada. Para Amanda, a evolução é notável: “Hoje, é outra cidade. Você chegava lá e não tinha quase nada. Eram poucos comércios e fechavam nos fins de semana. Então você não tinha muitas opções. Era só o Thermas mesmo, só o parque”.
Agora, o município oferece museus, um centro cultural localizado na antiga Estação Ferroviária, mais de 200 equipamentos de alimentação e possui a segunda maior quantidade de leitos do estado - 34 mil - perdendo apenas para a capital paulista. A projeção é de ultrapassar 40 mil leitos até 2025.
O prefeito da cidade, Fernando Augusto Cunha (PSD), fala sobre esse desenvolvimento: “Temos buscado realizar um trabalho planejado para promover o crescimento de forma ordenada, com obras estruturantes pensadas para o futuro de Olímpia, a fim de evitar problemas de infraestrutura urbanística vistas em outros destinos, como a construção de um grande estacionamento municipal, um novo trevo de acesso, além da abertura e duplicação de vias para melhor mobilidade. Nos pautamos também em parcerias com a iniciativa privada”, afirma.
“Além disso, trabalhamos sob a premissa de que todo o investimento feito na cidade pela iniciativa privada e principalmente pelo poder público pode ser desfrutado pelos turistas nos três ou quatro dias que se hospedam na cidade, enquanto a população tem os serviços e a infraestrutura oferecida todos os dias do ano, ou seja, todo investimento que pensado para o turista atende a população e vice-versa”, conta.
Investimentos
Com o crescimento do turismo, aumentou também o investimento em novas opções para quem visita a cidade. Um bar de gelo, a ser inaugurado no primeiro semestre, promete refrescar os mais calorentos, com ambientes a 10ºC negativos. “E acredito que em 2024 virá mais uma ou duas atrações do Grupo Dreams. Olímpia está justamente apontando também ter a força e o caminho de cidades como Gramado [cidade turística na serra gaúcha]”, afirma o argentino Juan Espeche, gestor da companhia em Olímpia.
Em fevereiro, um antigo shopping do município dará lugar a um parque de realidade virtual, o Orionverso. A atração, que recebeu R$ 38 milhões em investimentos, trará 20 experiências imersivas em uma área de mais de 6 mil metros quadrados. “No nosso parque, o visitante irá vivenciar tudo e mais um pouco do que há de mais atual, surpreendente e tecnológico nos parques de diversão de todo o mundo. Buscamos referências nos Estados Unidos, China e Japão”, conta Paulo Henrique Borges, idealizador e gestor do espaço. “Você já pensou em entrar no filme Avatar? Pular de paraquedas em queda livre? Ou pilotar uma moto em alta velocidade? O visitante irá vivenciar essas e muitas outras experiências no Orionverso”, adianta.
A cidade também deve inaugurar neste ano um grande centro de compras. O Olímpia Garden Outlet, localizado na frente da nova área do Thermas dos Laranjais, terá mais de 100 lojas, supermercado, espaço para as crianças e área verde, prometendo ser não só uma opção de consumo, mas também de lazer. “Estamos negociando para colocar um miniparque de diversões e kart indoor para as pessoas se divertirem”, afirma Rafael Ferreira, fundador e diretor da Ferreira Engenharia, responsável pela construção e gestão do empreendimento.
Um parque de diversões privado está em construção. Três novos resorts devem começar a ser entregues a partir de 2025. Um centro de convenções, um balneário/spa, um parque ecológico e um centro cultural são projetos do poder público para Olímpia. E a implantação de um Mercadão Municipal deve trazer mais serviços de alimentação.
Há planos também para um aeroporto internacional, com capacidade para aviões de grande porte, que pretende trazer turistas de localidades mais distantes, incluindo da América Latina, e movimentar a economia da região.
Além de firmar uma parceria com a Infraero, a prefeitura de Olímpia adquiriu, em setembro de 2023, mais de 200 hectares de terra para a implantação do aeroporto. E, no fim de dezembro, com a aprovação do orçamento federal, o município garantiu um montante de R$ 104 milhões em recursos para a viabilização das obras. A expectativa da prefeitura é de que o aeroporto tenha capacidade para cerca de 500 mil operações por ano.
Para o prefeito, o mercado de turismo de Olímpia tem muitas oportunidades de crescimento. “Buscamos alinhar este potencial econômico ao desenvolvimento também da cidade como um todo, que seja boa para as pessoas. Porque aqui nós vendemos a felicidade para o turista, mas o cidadão também tem que ser feliz”, afirma.
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