Pré-candidatos à prefeitura de São Paulo, os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Ricardo Salles (PL-SP) vêm intensificando os ataques ao atual prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB). Enquanto Boulos tem usado seu espaço na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados para criticar problemas ligados à prefeitura de São Paulo e repercutir as queixas em suas redes sociais, Ricardo Salles começou recentemente a adotar a mesma estratégia e detonar a gestão de Nunes em seu perfil no Instagram.
Entre os ataques de Boulos está a postagem de um vídeo na primeira quinzena de maio no qual, ao lado do padre Júlio Lancellotti, faz vistorias em centros de acolhida e galpões paulistanos para pessoas em situação de rua. Nas imagens, as pessoas que estão nos equipamentos reclamam das ações da prefeitura e Boulos mostra problemas de infraestrutura. "Tudo o que a gente conversou aqui vai entrar no relatório final que vai lá para a Comissão de Desenvolvimento Urbano", diz o psolista. "Estrutura básica, instalações elétricas visíveis e colocando em risco o prédio. E o mais grave de tudo: uma falta de espaço para que as crianças fiquem, para que as mulheres possam ir trabalhar", diz ele.
Outra estratégia de Boulos é vincular assuntos federais ou estaduais à cidade de São Paulo, como a campanha que está fazendo pela reforma tributária, na qual defende maior taxação às grandes fortunas e veículos de luxo e menos IPVA sobre veículos. Em um vídeo postado nas redes sociais, Boulos pede assinaturas para a petição pela reforma tributária e aproveita para conversar com um motoboy no centro de São Paulo que reclama da segurança nas ruas da cidade.
Para Glauco Peres, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, essa é uma "maneira muito inteligente de aparecer mesmo a tantos meses da eleição". "As pessoas dão muito pouco ouvido para quem fica antes da eleição tentando ser propositivo e mostrando agenda, porque elas não estão com o olhar e a mente voltados para a escolha de um candidato. O político fica falando sozinho, mas Boulos está reclamando de um fato concreto que está acontecendo na cidade. Isso dá materialidade ao discurso e facilita que ele esteja em voga e portanto seja lembrado pelas pessoas, seja para o bem ou para o mal", afirma o professor.
Peres lembra que Ciro Gomes viveu essa dificuldade entre 2018 e 2022, ao precisar fazer campanha em um longo período antes da população ir de fato às urnas. Outro posicionamento de Boulos que ele considera um marketing "inteligente" é o fato de ele se posicionar em uma esquerda mais tradicional, voltada à defesa dos trabalhadores, pobres e vulneráveis, e se afastar da esquerda vinculada às pautas de costumes e identitárias, mais polêmicas e que portanto podem desagradar uma maior parte do eleitorado.
Ricardo Salles disputa apoio de Jair Bolsonaro
O deputado federal Ricardo Salles, por sua vez, também começou a adotar um tom mais agressivo em relação à atual gestão de Nunes na prefeitura de São Paulo. No caso do ex-ministro do Meio Ambiente, porém, há um desconforto a mais, pois ele disputa com o atual prefeito da capital o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não declarou publicamente apoio à sua candidatura, e do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que prefere Nunes a Salles por considerá-lo um político eficiente e com mais chances diante do eleitor paulistano. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bem como Gilberto Kassab (PSD), seu aliado político, também apoiam Nunes, o que aumenta ainda mais o desconforto de Salles em sua pré-campanha.
Ao contrário de Boulos, que conecta suas críticas à sua atuação na comissão da Câmara, Salles não faz a mesma conexão ao mandato como legislador. Nesta semana, ele fez uma postagem em seu Instagram na qual reúne manchetes de jornais que denunciam a quantidade de buracos de rua em São Paulo, ao lado de figuras de palhaços, uma delas afirmando que "só 1/3 foi feito ou contratado", referindo-se à promessa de Nunes de recapear São Paulo. Na legenda da foto, o deputado do PL afirma que "a falta de gestão segue mantendo nossa cidade em clima de abandono. Ninguém quer viver em uma cidade suja, insegura e cheia de buracos, os paulistanos merecem mais".
Já em abril, no evento "Direita Unida", em São Paulo, Salles subiu o tom, chamou Nunes de "ícone do centrão" e afirmou que "tudo que não presta está na prefeitura: a máfia do asfalto, a máfia do lixo". Poucos dias depois, a Controladoria-Geral de São Paulo, da prefeitura municipal, acionou-o pedindo as informações citadas sobre esquemas de corrupção. Em resposta na semana passada, Salles não deu detalhes e afirmou que não faz "imputações delitivas concretas a qualquer pessoa que seja".
Perfil discreto de Nunes pode prejudicar reeleição a prefeito de São Paulo
Diante dos ataques e críticas à sua gestão, o prefeito Ricardo Nunes se mantém em silêncio e não revida as acusações, o que é visto por estrategistas políticos como um potencial causador de prejuízo à sua imagem. Sua discrição é vista como negativa principalmente por Nunes ter sido vice e assumido o cargo de prefeito em maio de 2021 após a morte em decorrência de um câncer do então prefeito Bruno Covas (PSDB). Por não ter disputado a eleição diretamente como cabeça de chapa, é um político pouco conhecido pelos paulistanos.
"Nunes vai ter dificuldades de conseguir se reeleger e precisa correr. Ele tem o mandato para mostrar serviço, mas não foi votado na eleição anterior. Se tem pretensão de permanecer como prefeito, ele precisa de uma estratégia mais agressiva para aparecer e ser mais lembrado", diz o professor Glauco Peres.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada em abril mostrou que 12% dos entrevistados não sabem avaliar a gestão de Nunes. Esse é o maior índice para um prefeito desde o início da série histórica da pesquisa, em 1986. Já um levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas em fevereiro mostrou que 60,9% dos moradores da cidade de São Paulo não sabem o nome do prefeito do município.
Apesar desses dados, Nunes se apoia no seu índice de aprovação para disputar a reeleição e está focado em entregar resultados. Enquanto a pesquisa da Paraná Pesquisas mostrou que a maioria dos respondentes, ou 53,3%, aprovam sua gestão, contra 36,6% que desaprovam, a pesquisa Datafolha apontou que 12% o aprovam, 46% o consideram regular e quase 30% o consideram ruim ou péssimo.
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