As linhas de trens metropolitanos de São Paulo 8-Diamante e 9-Esmeralda, operadas pela ViaMobilidade, vêm apresentando problemas recorrentes desde a concessão, em janeiro do ano passado, que vão de descarrilamento a colisões. Um levantamento realizado pelo G1 mostrou que, no período de um ano, as falhas aumentaram drasticamente quando a administração destas linhas de transporte ferroviário passou do poder público para o privado, de 6 para 52 na linha 8 e de 13 para 80 na linha 9.
Entrevistas realizadas pela Gazeta do Povo com operadores que não quiseram se identificar e com ex-funcionários do governo do estado de São Paulo apontam para a suspeita de sabotagem por parte dos operadores que estariam insatisfeitos com as mudanças realizadas após a concessão, como queda nos salários, demissões e sobrecarga de trabalho.
Em setembro do ano passado, o então governador Rodrigo Garcia já havia citado a possibilidade de sabotagem em entrevista à Rede Globo, devido "a demissão de milhares de funcionários da CPTM" após a concessão. À época, o sindicato dos metroviários refutou afirmando que o então candidato à reeleição "cometeu uma grave calúnia ao acusar os ex-funcionários da CPTM de sabotagem" e que "a grande mentira emitida por Garcia é a comprovação de seu desespero, já que não sobe nas pesquisas e mente ao não admitir que a privatização das Linhas 8 e 9 não deu certo."
À Gazeta do Povo, um ex-funcionário do governo que esteve diretamente envolvido na concessão afirmou que não é a primeira vez que há suspeitas de sabotagem nas linhas por parte de funcionários. De acordo com ele, em 2017, por exemplo, os recorrentes problemas de cachorros em cima dos vagões e circulando nos trilhos, causando atrasos e aglomerações nas estações, ocorreram quando o sindicato da categoria estava prestes a negociar o reajuste salarial. "Na época começamos a divulgar o salário dos funcionários do Metrô e a população ficou ao nosso lado. Também treinamos toda a parte administrativa para conseguir operar em caso de greve, inclusive pessoas com cargos de confiança que tinham ampla experiência na operação dos trens", diz.
Mistura de fatores nos trens da ViaMobilidade
Apesar das acusações de sabotagem, especialistas em concessões ouvidos pela Gazeta do Povo e que não quiseram se identificar apontaram que os problemas nas linhas estariam ocorrendo por um conjunto de fatores, entre eles a troca de funcionários com cerca de 20 anos de experiência por outros com menos tempo de carreira para enxugamento de custos. Como estas são linhas antigas e com peculiaridades próprias, os funcionários novos não estariam dando conta da operação dos trens da ViaMobilidade.
Para o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT), as falhas também passam por falta de investimentos em manutenção. "A empresa alega que os problemas se devem às estruturas antigas, mas os trens da ViaMobilidade são relativamente novos e houve investimento anterior à concessão. Os problemas se dão à falta de manutenção e sinalização, além de funcionários novos sem acúmulo de conhecimento. Não vemos investimentos sendo feitos, pelo que parece a empresa está fazendo caixa", opina ele.
Em nota, a ViaMobilidade informou que investe constantemente em melhorias para qualificar o serviço prestado aos passageiros das linhas 8 e 9. Entre as medidas adotadas, a empresa informa que "investiu mais de R$ 1 bilhão somente no primeiro ano [do contrato de concessão], na revisão geral de trens, em ação corretiva nos trilhos, inspeção da rede aérea e reforma de estações, além de R$ 950 milhões pagos em outorga".
A empresa informou também que "nos três primeiros anos de contrato, conforme planejado, o total de investimentos deverá alcançar a marca de R$ 3,8 bilhões" e em 2023 "vai investir mais R$ 1,5 bilhão, o que inclui o pagamento dos 36 novos trens adquiridos junto à Alstom. O primeiro novo trem está em fase de testes para entrar em operação comercial em maio".
Ministério Público quer rompimento do contrato
O promotor Silvio Marques, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), afirmou na semana passada que entrará com uma ação na Justiça para pedir o rompimento do contrato de concessão com a ViaMobilidade, sugerindo que os serviços poderão ser retomados pela CPTM ou por outra empresa. As afirmações ocorreram após mais um descarrilamento de trem na linha 8 - Diamante. O MPSP conduz uma investigação sobre os recorrentes problemas nas linhas de concedidas para garantir uma prestação de serviços de qualidade.
Já a Secretaria de Parcerias em Investimentos afirmou em nota que o governo do estado de São Paulo "está trabalhando junto com o Ministério Público para apresentar medidas para normalizar os serviços prestados à população."
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