Entre os nomes ventilados para a disputa à prefeitura de São Paulo, despontam Ricardo Nunes (PMDB) no centro e Ricardo Salles (PL) à direita. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem se mantido neutro e não declarado abertamente apoio a nenhum dos dois nomes, diferente de seu guru político, Gilberto Kassab (PSD), que aposta em Nunes por acreditar que o eleitor paulistano de centro tenderá para a esquerda em um eventual segundo turno entre Guilherme Boulos (Psol) e Salles.
Por enquanto, essa postura ambígua de Tarcísio tanto em relação à disputa municipal quanto na gestão à frente do governo de São Paulo é vista como positiva e tem rendido frutos. Tarcísio compôs secretarias de maneira equilibrada, tanto com nomes à direita quanto ao centro, mas priorizando o perfil técnico dos nomes, fato que o ajudou a construir uma base sólida de apoios partidários na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Ainda que pareça antagônica, essa estratégia tem dado certo e, recentemente, Tarcísio endossou esse perfil em entrevista à Globo News, quando se declarou um político de centro-direita e, ao mesmo tempo, bolsonarista.
Na análise de especialistas políticos, no entanto, essa neutralidade pode não durar para sempre, principalmente quando o governador do maior colégio eleitoral do país declarar sua preferência ao nome que disputará a capital paulista. De duas, uma. Caso ele opte por apoiar Nunes, essa escolha pode desagradar seus eleitores mais bolsonaristas, localizados principalmente no interior do estado. Já caso apoie uma candidatura de Salles, poderá comprometer o ganho de votos de eleitores mais ao centro, com presença forte na capital paulista.
"No campo do bolsonarismo, o Tarcísio está em um equilíbrio bastante tênue e terá uma prova importante em 2024, a depender de quem apoiar para a prefeitura”, diz Leandro Consentino, analista político e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). “Hoje, como não temos eleição no curto prazo, ainda é possível se equilibrar com um pé em cada canoa, mas à medida que tiver de fazer decisões, seja de políticas públicas ou de apoios eleitorais, isso se tornará mais evidente e dificultará o equilíbrio entre os dois polos”, analisa ele.
Tarcísio e as lições de Bolsonaro: centrão próximo e mais discrição
Apesar de poder complicá-lo futuramente, a aliança que Tarcísio fez com o centro em São Paulo conta com algumas vantagens quando comparado com o que fez o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em primeiro lugar, Tarcísio está em uma estrutura estadual - e não federal, o que é mais simples de conduzir politicamente. Além disso, Bolsonaro se aliou ao centro apenas após aproximadamente um ano de mandato, depois de fazer críticas contumazes à política de “toma-lá dá-cá” que caracteriza o grupo, em uma mudança que foi essencial para ganhar governabilidade no Congresso Nacional.
Tarcísio, no entanto, aprendeu com Bolsonaro e se aliou ao centro em São Paulo antes mesmo do início de sua posse, contando com o aliado Gilberto Kassab (PSD), quem dá as cartas na política do estado.
“Bolsonaro perdeu a batalha para o centro, porque à princípio ele o tratava como se fossem bandidos, mas depois teve que se curvar. É bem diferente de um Tarcísio que fez um processo de reconhecimento do centro como a força que estabiliza o parlamento”, diz José Police Neto (PSD), subsecretário de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano do estado de São Paulo, que tem quase 30 anos de experiência no legislativo, principalmente no município, tendo liderado a Câmara de Vereadores. “O Kassab deu um grau de estabilidade para o Tarcísio que faz com que ele de fato lidere o estado e, inclusive, critique aquele com quem o poder foi partilhado”, diz ele.
Seguindo o exemplo do ex-presidente Bolsonaro, Tarcísio priorizou colocar pessoas com conhecimento técnico na máquina estatal, ainda que pertencentes a partidos de centro. E ainda preservou a ideologia bolsonarista ao ter nomes ligados à pauta de costumes conservadora, como é o caso da evangélica Sonaira Fernandes, secretária estadual de Políticas para Mulheres.
Outra característica fundamental de Tarcísio é o seu controle emocional, o que permite evitar dar declarações impulsivas que podem comprometê-lo nos meios de comunicação ou serem usadas pela oposição. Além disso, o foco da gestão dele está mais na geração de empregos e investimentos no estado que em pautas de costumes, o que evita ruídos ou desgastes com grupos de viés ideológico oposto. A própria secretaria de Sonaira, por exemplo, tem declarado como principal foco da pasta o empreendedorismo de mulheres, diferente das pautas de costumes de Damares Alves quando ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Teste de governabilidade
Apesar de Tarcísio contar com um índice de aprovação alto entre os paulistanos, há tanto no Republicanos quanto nos partidos de centro uma certa insatisfação pelo ganho de mais cargos no Executivo do estado, o que é visto como esperado no processo político partidário.
Para Nicholas Borges, analista político da BMJ Consultores Associados, apesar de Tarcísio contar com apoio da maioria da Alesp, ele ainda não passou por uma prova de fogo dentro do Legislativo paulista. “Só conseguiremos de fato mensurar a capacidade de o Tarcísio consolidar essa base de governo quando ele enviar um projeto muito mais robusto e necessite de uma articulação mais intensa dentro da Alesp”, avalia ele.
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