Sol, calor, turismo e praias lotadas. O cenário tropical nas férias de verão no litoral brasileiro é previsível, mas as companhias de tratamento de água ainda estão abaixo do padrão esperado na prestação do serviço pela rede de abastecimento na temporada, quando ocorre o aumento sazonal da população e picos de demanda nos finais de ano.
Sem planejamento e investimentos, especialistas do setor afirmam que a história deve se repetir ano a ano, assim como aconteceu na véspera de ano novo nas cidades de Bertioga, Guarujá e São Vicente, na Baixada Santista, onde a virada do ano teve chuveiros sem água e torneiras secas. Residências e lojas nos municípios do litoral paulista ficaram desabastecidas na alta temporada e a interrupção no fornecimento de água chegou a durar cerca de uma semana, em alguns casos.
“Para garantir que a água seja distribuída na quantidade e na qualidade necessárias para atender o aumento sazonal da população, as companhias de saneamento básico precisam se preparar para que as estações de tratamento ou poços possam operar em plena capacidade, tratando e entregando a água dentro dos padrões de potabilidade, sem intermitência na distribuição, garantido o serviço 24 horas por dia”, afirma a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto.
Ela ressalta a importância da manutenção dos serviços na rede de abastecimento para atendimento com infraestrutura adequada no período, marcado pela migração das áreas do interior para as regiões litorâneas, não apenas por questões econômicas e pelo conforto dos turistas mas, principalmente, pelo risco à saúde. “Além do abastecimento, o mesmo vale para coleta e tratamento de esgoto. Quando essa população migra para o litoral e não existe o correto tratamento de água, isso gera a contaminação dos mares, trazendo uma série de internações por doenças de veiculação hídrica”, alerta. De acordo com ela, as estações existentes, seja de tratamento de água ou de esgoto, precisam atender essa demanda para que não haja episódios como surto de diarreia e filas nos postos de saúde.
A presidente executiva do Instituto Trata Brasil acompanha os dados municipais e aponta que as cidades de Bertioga e São Vicente estão com índices abaixo do previsto pelo Marco Legal do Saneamento, que prevê a universalização dos serviços de tratamento de água e esgoto com 100% de acesso à população até 2033.
Em São Vicente, 21,4% dos habitantes não têm acesso ao sistema de esgoto. O número é ainda maior na cidade de Bertioga, onde 40,9% da população vive sem coleta de esgoto. “É necessário planejamento de curto, médio e longo prazo com previsão de mais obras, seja para atingir 100% da população com coleta e tratamento de esgoto, seja para atender essa demanda temporária que gera uma maior carga poluidora. São mais pessoas nas residências e, consequentemente, há um consumo maior de água”, explica Luana Pretto. A estimativa no país é de 180 litros por dia para cada brasileiro.
Rede de abastecimento não está preparada para demanda sazonal
Na avaliação do sócio-diretor da A&M Infra, Luiz Gronau, grande parte da rede de abastecimento é antiga e não possui o dimensionamento adequado, principalmente para o atendimento da demanda sazonal e de pico durante a temporada nas regiões litorâneas.
“Existem cidades que passaram a ter mais demanda nos últimos anos, somada à variação climática extrema, que é um ponto importante por ser um problema potencial. O Marco Legal busca trazer melhorias ao saneamento básico com metas, não só de expansão e universalização dos serviços, mas também de melhorias operacionais com redução de intermitências e diminuição de perdas”, ressalta.
Além dos investimentos necessários para atingir as metas, seja por meio da administração pública ou por concessões privadas, Gronau considera fundamental a gestão estratégica dos recursos destinada à rede de abastecimento para suprir a demanda no país, que ainda apresenta um horizonte de crescimento populacional. “Investimentos são fundamentais para que as melhorias aconteçam. Aliado a isso, é importante a organização para que esses problemas sejam atacados de forma inteligente, agregando soluções mais perenes, novas tecnologias e ferramentas”, afirma o diretor.
Ele reforma a necessidade de uma gestão inteligente desses investimentos e de uma atuação precisa para diminuir a intensidade das ocorrências verificadas dos últimos anos, principalmente em cidades litorâneas com novos destinos turísticos que não eram tão conhecidos.
Privatização da Sabesp prevê Plano de Resiliência Climática
Além da capitalização de aproximadamente R$ 10 bilhões por meio do follow-on (venda de ações) na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) prevê a construção do Plano de Resiliência Climática para eventos extremos, como os registrados na Baixada Santista no final do último ano.
De acordo com a apresentação feita pela secretária paulista do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, durante a audiência pública para discussão do projeto de lei na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em novembro, o plano de resiliência da infraestrutura será desenvolvido com os investimentos necessários e atualizado a cada cinco anos.
O plano de contingência contra eventos extremos será fiscalizado pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) e prevê a divisão das responsabilidades de empresa e poder público, indicadores de tempo de restabelecimento dos serviços, plano de continuidade do serviço (caminhões pipa) e canal de comunicação com consumidores eficiente até estabelecimento dos serviços.
Questionada sobre os investimentos na região, a Sabesp respondeu que a companhia planeja a construção de um novo centro de reservação em Bertioga, com investimento de R$ 6 milhões. O reservatório que terá capacidade para armazenar 5 milhões de litros de água tratada. “Somente entre janeiro e setembro de 2023, os nove municípios da Baixada Santista receberam R$ 193,85 milhões no sistema integrado de abastecimento de água que atende a região”, afirma a Sabesp em nota.
No período de maior concentração de pessoas e alta no consumo por conta do calor, a companhia garante que colocou em prática “o planejamento e investimentos realizados ao longo do ano e adotou medidas para minimizar o impacto ao abastecimento, como reforço de equipes e equipamentos” e também pediu o uso “consciente” da água.
“A Companhia destaca a importância de manter o uso consumo consciente de água e o uso correto das instalações hidráulicas dos imóveis. A superlotação das residências, com mais ocupantes do que a capacidade da caixa-d'água, torna as instalações internas ineficazes. Isso acontece, por exemplo, quando um imóvel recebe mais ocupantes do que a capacidade da caixa-d'água foi dimensionada”, argumenta.
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