Pelo menos 41 milhões de crianças em todo o mundo com menos de 5 anos de idade estão obesas ou com sobrepeso, de acordo com estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS). A estimativa chama a atenção para o aumento do número de crianças nesta situação em países em renda baixa e média, como nações africanas e da América Latina. Entre 1990 e 2014, praticamente duplicou o número de crianças na África que estão acima do peso – passando de 5,4 milhões para 10,3 milhões.
Nesses casos, o que se observa é uma mudança do perfil nutricional, em que a desnutrição deixa de ser o maior problema e a obesidade passa a preocupar. “O que vemos nos países em desenvolvimento é um contraste, com a desnutrição atingindo uma pequena parcela da população e um crescente número de crianças obesas”, comenta a médica especializada em obesidade infantil Raquel Pitchon, da Sociedade Brasileira de Pediatria.
A probabilidade de uma criança obesa se tornar um adulto com sérios problemas de peso é uma das consequências dos números constatados pela OMS. As estatísticas médicas mostram que cerca de 85% das pessoas que sofreram com excesso de peso na infância serão obesas quando adultas.
Com os números atuais e a relação da obesidade com doenças crônicas graves, é possível prever mais pressão sobre os sistemas públicos de saúde no futuro. Esse é apenas um dos aspectos problemáticos da obesidade na infância. Há também impactos psicológicos, que muitas vezes acabam refletindo no nível de aprendizagem, e o aparecimento precoce de algumas doenças, como diabete e cardiopatias.
Ações
O relatório da OMS propõe um conjunto de recomendações aos governos para reverter a tendência crescente da obesidade infantil. Entre as medidas está a tributação maior sobre bebidas açucaradas (como refrigerantes), a retirada de alimentos hipercalóricos e de baixo teor nutricional das cantinas escolares e a implementação de ações para incentivar a atividade física.
A maior parte das ações propostas busca interferir em fatores que vêm tornando as cidades ambientes que incentivam o ganho de peso. Isso porque há cada vez menos espaço para brincadeiras ao ar livre, maior exposição das crianças à publicidade de alimentos calóricos e o barateamento dessas opções.
Todos esses fatores tornam árdua a tarefa de se manter no peso ideal. “Existem também as questões genéticas que podem influenciar no ganho de peso. Mas, cuidando para que a criança esteja num ambiente saudável, ela tem chances de manter um peso adequado”, diz Raquel.
Ambiente magro
Confira algumas recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria para a alimentação das crianças:
- Limite o consumo de sucos a, no máximo, 200 ml por dia. Isso reduz a ingestão de açúcares e incentiva as crianças a beberem água.
- Priorize o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida. Pesquisas mostram que crianças que são amamentadas de forma adequada têm menos chances de serem obesas no futuro.
- Limite o tempo de exposição à tevê e computadores a, no máximo, duas horas por dia.
- Faça refeições em família e dê o exemplo, mantendo uma boa alimentação.
Crianças são mais sensíveis à publicidade
A publicidade é considerada um dos fatores para o excesso de peso das crianças. Agora, uma pesquisa divulgada recentemente pela Universidade de Liverpool comprovou que os pequenos são mais sensíveis aos apelos da propaganda que os adultos, quando o assunto é alimentação. O experimento comparou o consumo de alimentos calóricos e de baixo valor nutricional entre crianças e adultos expostos à publicidade – na tevê e na internet – desses produtos. Os hábitos alimentares desse grupo também foram comparados aos de crianças e adultos que não foram expostos às propagandas. O que se percebeu é que as crianças do primeiro grupo passaram a comer mais alimentos ruins que todos os outros, inclusive os adultos do mesmo grupo. Os pesquisadores também notaram que elas não foram impactadas apenas pela marca: consumiram mais alimentos calóricos em geral, não apenas os das marcas apresentadas.
A pesquisa reforça uma recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, de redução do “tempo de tela” – exposição à televisão ou computadores – a no máximo duas horas por dia.
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