Benefício
Ferramenta ajuda a acalmar paciente
O estudo também descobriu que, nos 12 países pesquisados, a população gostaria de ter acesso a mais serviços de saúde pelo computador: 57% querem renovar suas prescrições de tratamentos pela rede, 55% gostariam de marcar consultas pela internet e 54% querem acessar resultados de exames on-line. Ou seja, nem sempre o uso do computador é maléfico. O clínico-geral Ivan Jose Paredes Bartolomei, por exemplo, usa o e-mail para manter contato com pacientes, sanar pequenas dúvidas e dar orientações.
"Ainda não está bem definido como usar a internet", afirma. Em geral, Bartolomei apenas sana pequenas dúvidas e dá informações a fim de diminuira ansiedade de seus pacientes. "Um e-mail jamais vai substituir uma consulta, mas pode acalmar as pessoas. Às vezes, sai o resultado de um exame e existe alguma variação, dentro da normalidade, que assusta o paciente. Nesses casos, o e-mail é uma boa ferramenta de esclarecimento", explica. Para o clínico geral, o bom senso no uso da ferramenta é essencial. "O médico deve saber quando a presença física se faz necessária, e o paciente não pode querer tirar todas as dúvidas pela internet", afirma.
Em sua avaliação, um simples e-mail pode reforçar o vínculo entre o médico e o paciente. "É impossível atender o telefone durante a consulta. Se deixasse meu celular ligado, interromperia o paciente a cada dez minutos. No e-mail, a dúvida está em sua caixa postal. Pode demorar um ou dois dias, mas a resposta será mais rápida, desde que não haja a necessidade da consulta", diz. "Nesses casos, a pessoa se sente amparada".
Oito em cada dez brasileiros usam a internet para buscar informações sobre sua saúde, o efeito de remédios e as condições de outros usuários com doenças semelhantes, de acordo com a pesquisa encomendada pela seguradora Bupa ao Instituto Ipsos e à London School of Economics. Em uma comparação com outros 11 países (Austrália, China, EUA, França, Alemanha, Índia, Itália, México, Rússia, Espanha e Reino Unido), o Brasil ficou em quinto lugar no índice de nações que mais pesquisam sobre saúde. Os russos ficaram no primeiro posto; por último, os franceses. Ao todo, o estudo ouviu 12,2 mil pessoas, sendo pouco mais de mil no Brasil.
Entre os brasileiros, 68% consultam a internet sobre medicamentos, 45% sobre hospitais e 41% desejam conhecer experiências de outros pacientes. O dado preocupante diz respeito aos 25% que não se certificam da confiabilidade da fonte de informação. "Por mais revolucionária que seja, existem muitas informações erradas e equivocadas na internet. Há páginas com erros grosseiros de medicina, como aquelas que não recomendam a vacinação para as crianças", explica João Adriano de Barros, pneumologista do Hospital Nossa Senhora das Graças e membro das sociedades Brasileira e Paranaense de Pneumologia e Tisologia.
Conforme Barros, há casos em que a pesquisa do paciente atrapalha o diagnóstico. "Uma paciente estava com coceira generalizada e procurou um alergologista (especialista em alergias). Ela insistiu com outros profissionais da mesma especialidade e, mais tarde, foi diagnosticado um linfoma. A análise não pode ser tão simples", esclarece. "Um médico estuda seis anos de graduação, mais a residência, para estar capacitado a atender as pessoas. O processo de diagnosticar não poder ser simplificado a uma busca na internet", diz Alceu Fontana Pacheco Júnior, corregedor do Conselho Regional de Medicina (CRM-PR) e diretor de Saúde Comunitária da Associação Médica do Paraná.
Na avaliação de Pacheco Júnior, o paciente que chega ao consultório com seu diagnóstico, baseado em informações da internet, pode atrapalhar a consulta. "Sua opinião fica vinculada àquilo que ele pesquisou. Quando o diagnóstico não coincide, [o paciente] parte do pressuposto que o médico está errado. Isso atrapalha a relação médico/paciente", diz.
O acesso à informação por parte da sociedade não é necessariamente ruim, na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antonio Carlos Lopes. "O Dr. Google pode dar orientação para o leigo em uma linguagem de fácil compreensão", afirma. Para ele, porém, a busca do diagnóstico na internet pode também levar à hipocondria e a automedicação. De modo geral, a orientação dos médicos aos pacientes é pesquisar em sites das sociedades médicas e de órgãos confiáveis, como o Ministério da Saúde.
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