No trânsito, não existe dose segura
Como o álcool altera o funcionamento do corpo, não existe níveis seguros para dirigir depois de beber. Especialistas alertam que mesmo que o usuário não sinta os efeitos colaterais da bebida, ela pode agir sem que ele perceba. "Não existe dose segura. Qualquer dose pode estar prejudicando silenciosamente os reflexos e essa cascata de reações que o nosso organismo executa depois de dirigir", diz o médico Luiz Antônio Mendonça.
O corpo humano não foi feito para funcionar com álcool. Por isso, qualquer dose causa alterações. Perde-se a capacidade de olhar nos retrovisores e calcular a distância do veículo da frente. É como se um carro que só roda com gasolina recebesse diesel. A analogia é do psiquiatra Dagoberto Requião. "As células nervosas não estão preparadas para receber quantidades de álcool sem alterar seu funcionamento". (PC)
Para quem acha que consegue tomar uma cervejinha sem ter nenhum efeito colateral, especialistas fazem um alerta: em qualquer quantidade, o álcool pode ser danoso ao corpo humano. Os efeitos se iniciam no primeiro contato dentro da boca. Parte da substância começa a ser absorvida pela mucosa do órgão. Dois minutos depois está no cérebro.
Em um primeiro momento a parte frontal do cérebro é acionada e a pessoa perde a capacidade de autocrítica e controle dos impulsos. Essa etapa é a que mais atrai os bebedores de plantão. Há uma sensação de relaxamento e alegria.
Mas as etapas seguintes mostram que esse estado não só é momentâneo como também prejudicial. Com o passar do tempo, perde-se a capacidade motora e os reflexos. Em seguida, a visão e a audição são prejudicadas. Aí vem a intoxicação, o "porre" como é mais conhecido. Da bebida, fica só a sensação de tristeza.
Efeitos colaterais
No cérebro o etanol, molécula do álcool, vai direto ao lobo frontal. Lá age como catalisador e estimula uma espécie de curtos-circuitos, as sinapses nervosas, que liberam uma substância chamada dopamina, responsável pela sensação de bem-estar no início da bebedeira. O psiquiatra Luiz Renato Carazzai diz que o álcool não é o único responsável por ativar a dopamina. "Há outras atividades que liberam a substância sem os efeitos colaterais tão prejudiciais. Fazer as atividades que mais dão prazer é uma das alternativas. Quem gosta de cinema, vai ter dopamina liberada ao ir ver um filme. O mesmo para quem gosta de danças ou ler. E fazer esportes também é uma boa saída, já que atividades físicas liberam em grandes quantidades substâncias que nos deixam felizes", explica.
Depois da ingestão, o álcool segue para o estômago e para o intestino delgado até o fígado, onde ocorre a desintoxicação. O corpo demora para processar uma dose de álcool o equivalente a uma hora. O psiquiatra Dagoberto Requião lembra que este cálculo varia de pessoa para pessoa e não há uma previsão segura. Depois da terceira dose é como se o fígado começasse a falhar e trabalhasse em uma progressão geométrica. Quanto mais álcool, mais tempo o corpo leva para processá-lo. Por isso, especialistas alertam que quem gosta de beber com frequência não deve ingerir mais de duas doses de bebidas em dias alternados. É que o corpo leva quase 24 horas para se recompor totalmente.
O uso abusivo de álcool pode gerar problemas irreversíveis. Carazzai explica que quando o fígado está sobrecarregado não termina de fazer a desintoxicação. E o que resta desse processo é uma substância chamada Acetaldeído. Este subproduto é mais prejudicial do que o álcool em si. Além de ocasionar as famosas ressacas, ele age de uma forma bruta no cérebro e atinge diretamente os neurônios. O acetaldeído destrói os neurônios e ocasiona uma diminuição desidratação do cérebro, o que ocasiona na sua diminuição. O resultado pode levar à demência. Além disso, altas doses causam hipertensão, enfarte, varizes no esôfago, úlcera, cirrose, hepatite alcoólica, problemas renais e câncer.
Os especialistas são enfáticos também em afirmar que a distância entre o uso regular de fim de semana e o alcoolismo é pequena. Quem bebe todos os fins de semana e fica "bêbado", literalmente, deve acender o sinal amarelo. Como quanto mais se bebe, maior é a tolerância do corpo ao álcool, os sinais do alcoolismo podem demorara a aparecer.
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