
Em seis meses os remédios de emagrecimento à base de anfetamina podem voltar ao mercado brasileiro. Com fabricação e comercialização proibidas desde 2011 por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Senado liberou anfepramona, femproporex e mazindol em setembro deste ano. Em reação ao Congresso, a Anvisa irá solicitar nova análise de eficácia antes de liberá-los.
Desta forma, os fabricantes terão que pedir um registro à Anvisa e apresentar estudos que comprovem que os remédios ajudam a emagrecer sem pôr em risco a saúde dos pacientes. Esse processo deverá levar 180 dias. Esses medicamentos atuam no sistema nervoso central reduzindo a fome. Caso voltem a ser vendidos, eles só poderão ser adquiridos mediante a apresentação de receita especial e de termo de responsabilidade assinado por médico e paciente. Exigência já feita para a compra da sibutramina.
A chance do retorno desses medicamentos divide a comunidade médica. De um lado estão, em grande parte, os endocrinologistas, que defendem o uso dessas substâncias para controlar a obesidade. De outro, pesquisadores que atestam que esses remédios podem causar dependência, complicações psicológicas e problemas cardíacos.
Para Francisco Paumgartten, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, o uso dessas substâncias implica em diversos pontos negativos. "Aumento do risco cardiovascular, abuso pelo efeito estimulante do tipo da anfetamina e desencadeamento de surto psicótico em indivíduos predispostos. O pesquisador ressalta que essas substâncias, estimulantes do sistema nervoso central, podem causar inquietação motora, ansiedade, euforia e insônia.
A endocrinologista Rosana Radominski, do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, diz que riscos estão ligados a qualquer remédio. "Esses inibidores ficaram no mercado por 30 anos e quem os toma é obeso e não quem tem sobrepeso", diz..
Segundo ela, a suspensão desses medicamentos prejudicou o tratamento aos pacientes obesos. "O remédio auxilia na diminuição do apetite. Com a proibição, os médicos ficarem sem opções de medicação. Agora eles poderão escolher a opção correta de acordo com os pacientes", diz. Ela afirma que os inibidores de apetite suprem um hiato no tratamento da obesidade em pacientes que precisam emagrecer por questões de saúde, mas não precisam enfrentar cirurgias bariátricas.
"O problema pode estar na cabeça", diz psicóloga
Ao longo de 15 anos Maria Lúcia de Moraes usou inibidores de apetite à base de anfetamina para perder peso. Passou a adolescência e a juventude obesa. Só emagrecia com a ajuda de remédios. "Com o medicamento emagrecia no primeiro momento, depois voltava a ficar acima do peso", conta ela, que aos 30 anos percebeu que o problema poderia estar na sua cabeça. "Com os remédios eu ficava com a pele muito pálida, agressiva, com insônia e mau humorada", comenta.
Ela resolveu começar a fazer terapia para tratar a compulsão alimentar e foi adiante: se formou em Psicologia com o objetivo de atuar com pacientes com distúrbios alimentares, em especial a obesidade. Hoje, aos 59 anos, é uma das proprietárias do Centro de Estudos de Obesidade, que atende cerca de 80 pacientes por mês em Curitiba. "Para emagrecer é preciso aprender a controlar a ansiedade e a compulsão. Aprender a dizer não é fundamental", afirma.



