| Foto: Anna Parini/The New York Times

As perguntas mais difíceis que os pediatras devem fazer aos adolescentes, durante a consulta de rotina, são sobre depressão e suicídio. Só que não são opcionais; precisam ser feitas todas as vezes.

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De 2005 a 2014, a ocorrência da depressão – ou seja, um episódio depressivo maior ao longo de um ano – aumentou significativamente entre jovens de 12 a 17 anos nos Estados Unidos. Esses dados vêm de uma pesquisa anual, o Levantamento Nacional sobre Saúde e Uso de Drogas, na qual as mesmas perguntas são feitas todos os anos. A tendência à depressão é mais acentuada em meninas do que em meninos. Além disso, nas pesquisas feitas com jovens entre 18 e 25 anos, houve novamente um aumento significativo de casos de depressão, mas apenas entre aqueles entre 18 e 20; por isso, o número parece estar aumentando na população de 12 a 20 anos.

Ramin Mojtabai, psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental na Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins e o principal autor do estudo, conta que não houve nenhum aumento real de 2005 a 2011, mas então, o número começou a subir, e foi maior em 2012 e 2013.

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Por que houve um aumento dos casos? E por que foi mais intenso entre as meninas? Os adolescentes estão sofrendo mais de depressão ou será que estão mais dispostos a falar sobre ela? Mojtabai disse que, ao longo das últimas décadas, os jovens estão falando mais abertamente sobre o problema, mas os pesquisadores não acham que isso explique o padrão que estão vendo.

Eles fizeram ajustes para casos de abuso de substâncias, e mesmo assim a tendência estava lá; não dava para explicá-la com o uso de drogas ou bebida alcoólica. Também não acreditam que esteja ligada à composição do núcleo familiar (os dois pais, apenas um, ou nenhum deles).

Causa mortis

O suicídio é a segunda causa de morte de adolescentes entre 15 a 19, perdendo apenas para acidentes, mas essa taxa, em oposição à incidência de depressão, vem diminuindo desde a década de 1990. O Centro para Controle e Prevenção de Doenças anunciou, em novembro, que o índice de suicídio de crianças menores, entre 10 e 14 anos, havia aumentado ao ponto de o risco desse tipo de morte ser tão elevado quanto o de acidentes de trânsito; os dados examinados eram de 2014, os mais recentes disponíveis.

Benjamin Shain, chefe da Divisão de Psicologia de Crianças e Adolescentes do Sistema de Saúde da Universidade NorthShore, foi o principal autor do relatório clínico da Academia Americana de Pediatria do ano passado sobre suicídios e tentativas de suicídio de adolescentes. “Quando se trata de seu filho, em certo sentido, a estatística não importa, o que importa é a criança em particular. Preste atenção a sinais preocupantes”, disse.

Segundo ele, muitas vezes o impulso dos pais é dar conselhos ou até mesmo intervir e tentar resolver o problema. “O que eles devem fazer é principalmente ouvir e isso deve ser 90 por cento da conversa. Nos outros 10, os pais não devem sugerir uma solução, mas ajudar a resolver o problema da criança”. Ele se preocupa, em particular, com o efeito da mídia eletrônica nos adolescentes.

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Mojtabai salientou que o estudo não contava com algumas informações sobre fatores como abuso e negligência e sobre o uso de telas e dispositivos digitais que alguns relatórios têm associado a sintomas de depressão.

“[Um adolescente se trancar no quarto ou tirar notas baixas] pode ser depressão, pode ser uso de drogas, pode ser simplesmente que a escola é muito difícil. O primeiro passo é se sentar e ter uma conversa com seu filho e saber o que está acontecendo; o próximo pode ser conversar com os professores ou levar seu filho a um conselheiro ou um psiquiatra.

Benjamin ShainChefe da Divisão de Psicologia de Crianças e Adolescentes do Sistema de Saúde da Universidade NorthShore.

“Certamente, há evidência de que o bullying on-line pode estar ligado ao aumento da depressão, particularmente entre as meninas, talvez ao aumento de suicídios”, disse Shain. E, de acordo com ele, essa é uma área onde muitos pais se sentem perdidos sobre como orientar seus filhos; seu impulso pode ser esconder o celular, o que potencialmente piora as coisas para alguns adolescentes.

“Eles tendem a ver a proibição das redes sociais como algo mais traumático do que qualquer coisa que aconteça lá. É assim que eles se conectam ao grupo, que obtêm apoio, que conversam com esse grupo; se tirar isso, terá um filho extremamente isolado”, disse ele.

No geral, disse Mojtabai, precisamos de mais informações para saber se há realmente uma tendência, e muito mais detalhes sobre a vida dos adolescentes. Mesmo assim, é importante que os pais estejam cientes dos riscos, tanto para as crianças que estão lutando com problemas de saúde mental quanto para aqueles que provavelmente ainda não deram um nome a seus sentimentos.

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“Um monte de crianças e adolescentes têm problemas psiquiátricos que não são percebidos pelos pais, e o resultado é que acabam sem tratamento”, disse ele.

Os sinais de depressão em adolescentes incluem alterações de humor, como tristeza/irritabilidade persistente e alterações no nível de produtividade, tais como ir mal na escola. Eles também incluem o isolamento de amigos e familiares, a perda do interesse em atividades que já foram importantes e mudanças nos hábitos alimentares e padrões de sono, além de alguns sinais menos específicos como falta de energia, dificuldade de concentração e dores inexplicáveis.

Qualquer pai ou mãe de um adolescente tem que saber, é claro, qual é a diferença entre mudanças normais de humor ou comportamentos e esses sinais de aviso. Os pais devem se perguntar sobre a gravidade e a persistência dos sintomas. Quando seu filho realmente parece ter mudado, não veja apenas como uma fase.

Shain disse que muitos dos sinais de alerta são pouco específicos; é possível que haja muitas razões pelas quais os adolescentes se escondem em seus quartos ou tiram notas mais baixas.

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“Pode ser depressão, pode ser uso de drogas, pode ser simplesmente que a escola é muito difícil. O primeiro passo é se sentar e ter uma conversa com seu filho e saber o que está acontecendo; o próximo pode ser conversar com os professores ou levar seu filho a um conselheiro ou um psiquiatra”, disse ele.

E, apesar de esse aumento de ocorrências de depressão não estar ligado ao abuso de substâncias, é importante lembrar que esses dois sempre andam juntos em adolescentes, ou seja, aqueles que reportam depressão têm uma probabilidade maior de ter usado drogas ou álcool.

Identificar a depressão, é claro, não resolve o problema, e essa não é uma questão que tenha solução rápida, mesmo em famílias carinhosas e compreensivas. Como diz o relatório clínico da AAP: “O risco de suicídio só pode ser reduzido, não eliminado, e os fatores de risco fornecem apenas uma orientação”.

Essa pode ser uma jornada longa e difícil para os adolescentes e suas famílias, mas a mensagem aos pais e pediatras é que é preciso continuar a fazer as perguntas certas.