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Fumante por 40 anos, o ex-dependente Marcelo Souza passou por tratamento com o uso de medicamentos | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Fumante por 40 anos, o ex-dependente Marcelo Souza passou por tratamento com o uso de medicamentos| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Força de vontade

Recaída faz parte do processo, mas é preciso recomeçar

A recaída entre os fumantes que tentam abandonar o vício é comum. Segundo a coordenadora do programa de combate ao tabagismo da prefeitura de Curitiba, Cláudia Palm, normalmente é apenas na quarta tentativa que a pessoa realmente consegue parar de fumar. "Tentamos mostrar para o paciente que isso é parte do processo e não é o fim do mundo. A dependência não é fácil de tratar, mas a pessoa tem de estar disposta a continuar tentando mesmo depois das recaídas", explica.

A advogada Ana Maria dos Santos, de 47 anos, conseguiu abandonar o cigarro na terceira tentativa. "Eu sempre voltava quando alguma coisa que me fazia mal acontecia, algum problema no trabalho ou pessoal. É uma sensação de que o cigarro ajuda a melhorar a situação. Só consegui parar quando percebi que não é verdade, ele não ajuda", relata.

Largar o cigarro era um pedido antigo da sua família e dos amigos, que insistiam que ela procurasse ajuda. "Na primeira vez tentei sozinha, mas depois procurei ajuda de médicos e um psicólogo. Me ajudou bastante, me ajudou a ter uma perspectiva maior sobre a situação em que eu estava. Hoje me sinto bem e raramente tenho vontade de fumar".

11.372 fumantes procuraram o serviço antitabagismo oferecido pelo SUS no Paraná e participaram da avaliação clínica inicial em 2013. Das 455 unidades de saúde que fazem atendimentos no estado, 63 estão em Curitiba.

Em 2013, 4.663 pessoas pararam de fumar depois de participar dos programas antitabagismo no Paraná, onde 11.372 fumantes procuraram o serviço oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e passaram pela avaliação clínica inicial. "No último trimestre de 2013, 1.498 pessoas que participaram do programa (43,87%), de um total de 3.414, pararam de fumar. É um resultado positivo, que consideramos um sucesso", explica Jonatas Reichert, pneumologista da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). "Conseguimos um número compatível com a média de efetividade dos programas divulgados pela Organização Mundial da Saúde", diz.

Com 25 anos de projeto, o Paraná conta com 455 unidades credenciadas para atender os casos de tabagismo pelo SUS, 63 delas em Curitiba. "O melhor caminho ainda é a prevenção. Mas os fumantes são dependentes; consideramos o tabagismo como uma doença e é assim que o tratamos. Além disso, essas pessoas ficam vulneráveis a doenças respiratórias, cardiocirculatórias ou até ao desenvolvimento de um câncer", afirma Reichert.

O professor universitário Marcelo Stein de Lima Souza, de 55 anos, começou a fumar aos 13. Em 2012, depois de sofrer com sucessivas gripes, resolveu procurar ajuda para parar. "Além do mal-estar que eu já estava sentindo, tem os horrores de que a gente fica sabendo. Então, estava na hora", conta Souza, que procurou um médico e fez tratamento com medicamentos. "Achei que quando parasse de tomar o remédio iria querer voltar a fumar, mas não aconteceu", afirma.

Mesmo tento engordado, Marcelo diz se sentir bem melhor. "Respiro melhor, tenho pele, cabelo e unhas melhores. Estou percebendo também outros sabores e resolvi ir para a cozinha. Agora sou um aprendiz de cozinheiro", conta.

Já Marcos*, que preferiu não ser identificado, encontrou a ajuda de que precisava nos grupos de conversa. Ele tentou parar de fumar pela primeira vez em 2003, depois de 15 anos de fumo. "É um sentimento muito ruim de fracasso não conseguir. Achamos que temos controle da nossa vida, mas não é bem assim", conta. Marcos voltou a fumar e apenas em 2013 quis parar novamente. "Agora procurei o programa. Tem sido difícil, mas dessa vez estou conseguindo chegar mais longe. Ter esse apoio é importante e conversar com outras pessoas faz com que eu saiba que eu não sou o único passando por isso", relata.

Desafio

Uma das maiores dificuldades de ampliação do projeto é a capacitação de técnicos para atendimento. Para isso, é necessário realizar cursos com profissionais formados na área de saúde, abrangendo Medicina, Enfermagem, Nutrição, Psicologia, entre outras. "Estamos chegando num modelo mais sustentável, em que os profissionais já treinados podem capacitar os outros e descentralizar o processo. Com isso, conseguimos capacitar 823 pessoas em 2013", afirma Jonatas Reichert, da Sesa.

* Nome fictício.

66,47% dos pacientes foram medicados

Quando decide parar de fumar, o dependente pode procurar a unidade de saúde mais próxima de sua casa e, caso o serviço não seja ofertado nesse local, o paciente será encaminhado para outra unidade.

Primeiro o fumante passa por uma avaliação inicial com um profissional de saúde. "Nesse momento vamos investigar a saúde do paciente, saber o peso e outras informações, mas também a história relacionada ao tabagismo, há quanto tempo fuma, e ver se existem contraindicações ao uso da medicação", explica Cláudia Palm, coordenadora do programa de combate ao tabagismo da prefeitura de Curitiba. A partir desses dados, é elaborado um programa individual de tratamento, que atenda às necessidades de cada paciente.

Para Cláudia, um dos aspectos mais importantes é cobrir as diferentes maneiras pelas quais a dependência se manifesta. "Existe um aspecto comportamental, um físico e um psicológico/emocional, e precisamos trabalhar os três. Por isso não adianta só tomar o medicamento e resolver a parte física. Conversar sobre as dificuldades do processo e participar dos grupos traz uma efetividade maior". Para isso, são formados grupos de cerca de 15 pessoas, que se encontram semanalmente, com o acompanhamento de um profissional, para compartilhar experiências.

Em 2013, 66,47% dos pacientes que passaram pelo programa no Paraná foram medicados. Entre os remédios usados estão a terapia de reposição de nicotina, que ajuda a evitar crises de abstinência, e o Bupropiona, antidepressivo que ajuda a controlar a ansiedade dos pacientes ao largar o cigarro. "Explicamos aos pacientes que o medicamento não é o milagre do processo, se não a pessoa nunca mais vai querer largar o remédio e vai acabar trocando um vício pelo outro. A medicação é usada durante no máximo três anos", explica Cláudia.

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