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Regulação

Anvisa pretende estabelecer perfil do alimento enriquecido

O enriquecimento de alimentos no Brasil é supervisionado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 1998. A regulação, no entanto, diz respeito apenas aos nutrientes que serão acrescentados ao produto e não ao tipo de alimento fortificado. Atualmente, portanto, qualquer alimento pode receber o incremento, desde que o enriquecimento atenda a determinadas normas estabelecidas pela agência, explica a especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa Renata de Araújo Ferreira.

Esta realidade, porém, pode estar prestes a mudar. De acordo com Renata, ainda neste ano a Anvisa deverá formar um grupo de trabalho que pretende discutir o estabelecimento de um perfil nutricional para os alimentos que contiverem alguma substância funcional. "Não é interessante que na embalagem de um alimento com alto teor de açúcar, por exemplo, alegue-se que ele é rico em cálcio, contribuindo para a saúde. É necessário estabelecer um perfil nutricional para esses alimentos e é isso que vamos tentar fazer."

Fortificação corrige déficits nutricionais

Ainda que a fortificação de alguns produtos não faça tanto sentido, em outros ela é essencial para a manutenção da saúde de determinadas populações. Enriquecer o sal com iodo e o trigo com ferro, como ocorre no Brasil, é uma técnica que ajuda a corrigir déficits nutricionais, afirma o engenheiro de alimentos e professor assistente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Mário Roberto Maróstica Júnior.

"Alimentos enriquecidos com cálcio podem ser úteis para quem tem deficiência dele ou para crianças em fase de crescimento e idosos, que estão com os ossos mais fracos. Desse ponto de vista, é interessante que os alimentos sejam fortificados", avalia.

Leite

Outro ponto positivo dessa técnica é o acréscimo de fibras no leite. Segundo a nutricionista e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Helena Simonard Loureiro, adultos que mantêm o leite como base da alimentação ganham um aliado a mais quando compram o produto fortificado com fibras.

Dispensável

A bebida enriquecida com cálcio e ferro, por sua vez, não tem o mesmo sucesso. De acordo com Maróstica Junior, fortificar o leite com cálcio não é necessário, pois ele contém naturalmente quantidades adequadas do nutriente.

O mesmo acontece com o acréscimo do ferro. "En­­riquecer o leite com ferro é uma grande bobagem. O cálcio e o ferro competem durante a absorção, por isso, quando ingerimos leite enriquecido com ferro, a absorção desse elemento cai pela metade, já que temos aí uma competição entre a absorção dele e a do cálcio", explica.

Alimentos enriquecidos são cada vez mais comuns nas prateleiras dos supermercados. Com a adição de nutrientes extras, diversas marcas de leite, margarina, salgadinhos, biscoitos, chocolates e vários outros produtos passaram a conquistar a preferência dos consumidores na hora das compras. Contudo, avaliar as demais características do alimento antes de levá-lo para casa é fundamental, pois esse acréscimo de substâncias benéficas para o organismo nem sempre deve ser o fator decisivo da escolha.

De acordo com o engenheiro de alimentos Mário Roberto Maróstica Júnior, professor assistente da Uni­­versidade Estadual de Campinas (Unicamp), a suplementação não invalida características do produto que podem ser nocivas para o organismo e é a essa particularidade que o consumidor precisa ficar atento. "Se o alimento já é prejudicial, acrescentar alguma vitamina não vai resolver o problema. A pessoa tem de saber disso, porque, se ela quiser consumir mesmo assim, vai precisar maneirar na dose", explica.

Um exemplo corriqueiro são as margarinas enriquecidas com ômega 3, um ácido graxo que ajuda na redução do colesterol. Segundo Maróstica Júnior, não vale a pena investir moedas a mais neste tipo de produto, já que toda margarina tem altas dosagens de gordura trans, que é prejudicial à saúde. "O ômega 3, na margarina, não invalida o efeito ruim que ela provoca", alerta.

A nutricionista do Depar­­tamento de Nutrição da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) Mariana Del Bosco concorda. Para ela, os alimentos com propriedades não saudáveis podem até ser fortificados, mas o complexo de substâncias benéficas acrescido a eles não pode ser um diferencial, porque, em contrapartida, não os isenta de altas calorias, gorduras, valor energético acima do necessário e outras particularidades que podem prejudicar a saúde.

Alimentação balanceada

Além disso, ainda que os alimentos enriquecidos possam substituir fontes naturais de obtenção de alguns nutrientes, a nutricionista e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Helena Simonard Loureiro ressalta que esta não é a atitude mais recomendável. "Se todos nós conseguíssemos comer alimentos de todos os grupos, variando os alimentos que compõem cada grupo, encontraríamos na população falta de nutrientes específicos mais em função de algum problema de saúde", afirma.

Na visão de especialistas, a alimentação balanceada já garante a ingestão dos nutrientes necessários para que o organismo humano funcione de forma saudável. Por esse motivo, conclui Mariana, recorrer a alimentos fortificados quando as refeições são corretas é algo dispensável, pois é muito pouco provável que existam carências nutritivas neste caso.

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