• Carregando...
 |
| Foto:

Alimentação

Colesterol é sinal de que levamos vida equivocada, diz nutricionista

A nutricionista Valéria Arruda Mortara, de Londrina, acredita que apertar os índices de normalidade do colesterol não resolve a origem do problema, que estaria nos maus hábitos alimentares da população. "A pessoa que descobre colesterol elevado age como se recebesse uma sentença de morte. Ela chega preocupada se pode comer ovo frito ou picanha, quando deveria se preocupar com o que deixa de comer, como salada e fibras." No lugar de soluções mágicas da moda – como chia e linhaça –, a nutricionista defende que o essencial é retomar o "comer direito".

"O buraco é mais embaixo. As pessoas vão ao banco na hora do almoço e fazem pósgraduação na hora da janta. É um trabalho de base." Cortar radicalmente as gorduras, segundo Valéria, também não resolve. "Um pouco de gordura também é importante, sacia. E aí entra o papel das fibras: elas grudam na bile [líquido produzido pelo fígado, que contém colesterol], levando-a a ser liberada nas fezes. Se a pessoa não come fibra, a bile volta a circular no organismo. O funcionamento diário do intestino também é importante para o controle do colesterol."

Além de tomar muita água, priorizar refeições caseiras é outra medida importante para a qualidade de vida. Valéria compara as artérias a uma pista de boliche, de superfície lisa, que podem ser arranhadas por elementos oxidantes, como os produtos industrializados. "Se tem gordura demais no sangue, a parede da artéria inflama, machuca. E os elementos antioxidantes são frutas, verduras e legumes. É importante consumir, pelo menos, cinco porções deles por dia", reforça.

70 miligramas de colesterol por decilitro de sangue será a nova meta estabelecida para diagnóstico de grupos de risco, segundo proposta da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Em situações de risco intermediário, a redução é de 130 para 100. As metas de tratamento seguem individualizadas para os demais pacientes.

A partir do próximo mês, o controle dos níveis de colesterol ficará mais rígido para pacientes considerados de alto e médio risco. A nova diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que será apresentada no congresso nacional da categoria, em 28 de setembro, baixa as metas de LDL – o colesterol ruim – no sangue desses dois grupos e estratifica os riscos de maneira mais sensível, sobretudo, no caso das mulheres.

INFOGRÁFICO: Veja o que muda nas regras de tratamento para grupos de risco

Antes, a exemplo dos homens, elas entravam em grupos de alto risco quando tinham 20% de chance de sofrer um evento coronariano, como infarto ou derrame, em dez anos. Agora, com 10% de chance, já passam a ser tratadas com máxima atenção.

Desde 2007, os níveis máximos aceitáveis de LDL no sangue de um paciente de alto risco eram de 100 miligramas por decilitro, número que agora cai para 70. Em situações de risco intermediário, a redução é de 130 para 100. As metas de tratamento seguem individualizadas para os demais pacientes. Editor da nova diretriz, o presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Hermes Xavier, explica que a medida pretende combater a chamada "inércia terapêutica", um relaxamento natural quando não há sintomas clínicos. "Muitos pacientes tomam remédio, hoje, e não estão na meta. Queremos apertar esse cerco, fazer com que os níveis cheguem para baixo, que os médicos busquem a meta. Sabemos, de maneira inequívoca, que quanto mais baixo, melhor."

Atualmente, 40% dos adultos e 20% das crianças e adolescentes sofrem de colesterol elevado no Brasil.

"Quando há mais de dois fatores de risco, certamente a pessoa precisa de tratamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2020, a maior causa de morte no mundo será doença coronária, e não há dúvidas de que o colesterol é um dos fatores mais importantes na gênese e estabilização da doença", reforça Xavier.

Entre os fatores de risco, que passam a ser medidos por um Escore Global, mais abrangente que o anterior, estão sexo, idade, pressão arterial, tabagismo, histórico de doença na família e ocorrências cardiovasculares anteriores.

"A mortalidade da mulher por doença cardíaca tem aumentado e uma das possibilidades é que as metas estejam um pouco alargadas para elas", avalia o cardiologista Ricardo Rodrigues, do Centro do Coração de Londrina.

De acordo com Rodrigues, não há respostas claras para a maior incidência do problema em mulheres. "As diretrizes antigas eram de uma época em que a mulher estava mais protegida. Hoje, elas estão mais estressadas, fumando mais, inseridas no mercado de trabalho. Ocorrências como o infarto passaram a incidir em uma população que era de baixo risco."

Meta rigorosa diminuirá casos de infartos

Na avaliação de Claudio Pereira da Cunha, professor titular de cardiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a nova diretriz é bastante positiva, uma vez que o aumento no rigor das metas contribui para diminuir a ocorrência de derrames e infartos. "Para doentes mais graves, já era previsto isso. Estão expandindo a norma rígida para mais pessoas."

Além de reforço nos cuidados com dieta e prática regular de exercícios, a tendência, segundo Cunha, é de ajuste nas doses de estatinas – medicamentos preferenciais para o controle do colesterol. Apesar dos efeitos colaterais, como alterações hepáticas (menos frequentes) e dores musculares, o professor não avalia a intensificação da medicação como um preço alto demais. "O benefício que se busca justifica plenamente essa atitude. Fazemos o acompanhamento do paciente com exames laboratoriais e, se houver alterações, é possível trocar a medicação."

Ricardo Rodrigues acrescenta que o escore utilizado pelos médicos seleciona bem o paciente que precisará de estatina, para que não haja prescrição indiscriminada. "Uma meta mais apertada não necessariamente significa mais remédio. Se a pessoa tem 1% de chance de enfartar em 10 anos, é 0,1% por ano. A estatina diminui 30% ou 40% de 0,1, que é praticamente nada. A coisa muda muito se ela tiver 20% de chance em 10 anos. O remédio é extremamente importante em pacientes de alto risco."

Nos casos de menor gravidade, a receita é uma dieta que inclua fibras e evite gorduras saturadas. Exercício físico diário também é importante para subir o HDL – chamado bom colesterol – e diminuir o ruim. "Para pessoas de risco intermediário, parar de fumar e reduzir o peso é fundamental", acrescenta Rodrigues.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]