120 mil profissionais de Serviço Social estão registrados no Brasil atualmente, o segundo país no mundo em número de profissionais, atrás somente dos Estados Unidos. A maioria está voltada à área da saúde, de acordo com informações do Conselho Federal da categoria.
Do hospital à alta, dúvidas não ficam sem respostas
A ala de queimados do Hospital Evangélico tem uma assistente social específica, que garante que nenhuma pergunta seja deixada sem resposta. Segundo a coordenadora do setor de Serviço Social do hospital, Flávia Thoaldo, a atuação da assistente perpassa, muitas vezes, pela busca por novas moradias e acompanhamento do tratamento mesmo após a saída do hospital. "Há casos em que a família perde a casa, todos os bens, e buscamos recursos para ajudá-los. Conversamos com a comunidade em geral, especialmente a prefeitura, pela Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab)", explica Flávia. Ligar para o paciente, lembrá-lo de que precisa retornar ao ambulatório para troca de curativos, em caso de falta, também são situações em que o assistente social atua. "Ele começa o trabalho quando o paciente dá entrada no hospital e só termina quando ele tem alta, ou mesmo depois, para pedir um atendimento domiciliar ou lembrá-lo do retorno ambulatorial", diz.
Multidisciplinar
Ajuda de profissionais de outros setores é fundamental
São tantas as situações, e tão diferentes, na rotina do assistente social que, normalmente, ele não consegue resolvê-las sozinho. Profissionais das áreas de psicologia, terapia ocupacional, fisioterapia, educação física, entre outras, também fazem parte do quadro de funcionários que colaboram com a atuação desses profissionais. "O assistente social não pode atuar como psicólogo, como terapeuta ocupacional. Se ele percebe que as perguntas do paciente devem ser respondidas por outro profissional, entra em contato com o colega e solicita uma visita", explica Solange Gezielle dos Santos Coning, do Hospital de Clínicas da UFPR. No caso do Hospital Vita e Vita Batel, a atuação da psicóloga clínica Raquel Pusch é um exemplo de trabalho em conjunto. "Na maioria das vezes quem demanda os atendimentos são os próprios pacientes e seus familiares. Eles entendem que os atendimentos são uma possibilidade de compartilhar o enfrentamento da internação e da doença", afirma Raquel.
Entre os corredores dos hospitais, os assistentes sociais podem passar, às vezes, despercebidos. Mas eles lutam pelo direito de cada paciente de ser atendido do início ao fim do tratamento. Para isso, atuam em diversos setores tirando dúvidas, conversando com pacientes, familiares e médicos, e orientando sobre os estatutos e leis que garantem o acesso às políticas públicas de saúde. São eles também que buscam soluções, do transporte do paciente ao atendimento em casa. O assistente social serve, muitas vezes, de mediador, conciliador e solucionador de problemas, fazendo com que as engrenagens de grandes instituições, como os hospitais, funcionem.
"Às vezes, as pessoas não sabem exatamente o que fazer após um internamento e nos buscam para orientação. Dúvidas previdenciárias são bem comuns. Se eu ficar 20 dias internado, mas a empresa pagar apenas 15 dias, o que acontece? Como eu peço o auxílio-doença, o benefício de prestação continuada? O assistente social vê todas as implicações do internamento e do tratamento, e como influenciará no trabalho do paciente no futuro, na família, na qualidade de vida", explica a supervisora técnica de Serviço Social do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná, Solange Gezielle dos Santos Coning.
Essa facilidade de comunicação faz com que surja uma relação próxima entre o assistente social e o paciente ou os familiares, tornando-o referência também aos médicos e enfermeiros dos hospitais. "Os médicos me veem como conciliadora, e sou chamada para intermediar qualquer situação, mesmo as mais inusitadas", afirma a assistente social do Hospital Pilar, Gisele Cruzzolini. Um exemplo atípico Gisele vivenciou há pouco tempo, quando um paciente estava com a esposa doente, que veio a falecer, enquanto ele ainda estava internado. "A família, a princípio, não queria contar ao pai que a mãe havia falecido. Eu tentei fazer com que eles se colocassem no lugar do outro, se o paciente iria gostar de chegar em casa para a missa de sétimo dia da esposa, e eles decidiram contar. São situações tristes e que exigem um controle emocional muito grande", relata.
Estigma do óbito
Toda vez que a assistente social do Hospital Pilar, Gisele Cruzzolini, fazia uma abordagem à família, sem a enfermagem, os familiares achavam que o paciente havia falecido, associando o Serviço Social ao óbito. "Percebi nos meus anos de profissão que a família está mais aberta ao assistente social quando há, primeiro, uma abordagem das enfermeiras", relata.
Não é uma doação
Apesar das diferenças, há quem ainda confunda o Serviço Social com assistencialismo. De acordo com informações do Conselho Federal da categoria, este profissional garante que o paciente tenha acesso àquilo que lhe é de direito, como as políticas públicas de saúde, ao contrário do assistencialismo, que é uma forma de "oferta de um serviço por meio de uma doação, favor, boa vontade ou interesse de alguém e não como um direito".
A voz da razão para conselhos além da medicina
Assistente social abre possibilidades ao paciente
Nas maternidades e setores de atendimento pediátrico dos hospitais, o assistente social costuma trabalhar mais. Orientações de previdência social, auxílios, licenças e encaminhamento do atestado médico são situações comuns. "Tem casos de mães que não conseguem acompanhar o internamento do filho porque têm outros filhos em casa ou trabalham. Ela procura o Serviço Social e a gente faz um atendimento para conhecê-la, saber onde ela trabalha, se é registrada, se tem alguém na família que pode ajudar. Não que a gente vá atender a criança enquanto o pai ou a mãe não estão presentes, mas vamos explicar e tentar achar uma solução juntos", explica Solage Coning, supervisora técnica de Serviço Social do Hospital de Clínicas.
Da mesma forma, com os adultos e idosos, os assistentes sociais procuram dar soluções quando o estresse ou o nervosismo do diagnóstico impedem um pensamento mais racional. "O paciente tem de saber que você vai dar o retorno, que vai estar ali para dar apoio emocional e respostas para a família", diz a assistente social do Hospital Pilar, Gisele Cruzzolini.
Conhecimento jurídico
Na ponta da língua de cada assistente social estão os estatutos e leis que garantem o acesso à saúde a todos os pacientes. "O assistente acaba fazendo também uma orientação jurídica, principalmente sobre a necessidade de algum documento, como uma procuração. Ele explica quais os documentos são necessários, quais caminhos deve tomar, os lugares para procurar, além da análise prévia se aquele documento é realmente necessário. Além de conhecer o estatuto do idoso e da criança, o assistente precisa ficar atento para ver se eles estão sendo cumpridos. É uma forma de constatar situações de maus tratos e abandono", diz Gisele.
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