A agência especializada em pesquisas de câncer da OMS (Organização Mundial da Saúde) informou nesta quarta-feira (15) que bebidas muito quentes “provavelmente” provocam câncer de esôfago. O consumo de café e mate, segundo a agência, em temperaturas “normais” não possui efeito cancerígeno.
“O consumo de bebidas muito quentes é uma causa provável de câncer de esôfago e é a temperatura, não a bebida em si, que parece ser a causa”, disse Christopher Wild, diretor da Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (Iarc, na sigla em inglês), ao apresentar o estudo realizado por um comitê de 23 especialistas.
O câncer de esôfago é a oitava causa mundial da doença, com 400 mil mortes registradas em 2012 (5% de todas as mortes por câncer).
As bebidas “muito quentes” são aquelas consumidas a temperaturas superiores a 65 graus, segundo a Iarc. Estudos realizados na China, Irã e Turquia, e no caso do mate na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, onde as infusões geralmente são ingeridas a no mínimo em 70 graus, demonstraram que o risco de câncer aumenta com a temperatura da bebida.
Quando a agência avaliou seu efeito em 1991, o mate havia sido classificado como “provavelmente cancerígeno para os seres humanos” com base em estudos epidemiológicos da América do Sul associados ao câncer de esôfago. Em sua reavaliação, foi estabelecido que tomar frio ou quente, mas não fervendo, “não é cancerígeno para os seres humanos”.
“Os estudos epidemiológicos descobriram que o câncer de esôfago está associado ao consumo de mate muito quente, fervendo, mas não ao mate quente ou frio”, diz a OMS. Experimentos feitos com roedores confirmaram os efeitos cancerígenos de líquidos quentes, mas não o de mate em si mesmo.
Como se determinou que é a temperatura e não a bebida que causa câncer? Segundo a agência da OMS, a análise combinada de vários estudos epidemiológicos de 1.400 casos de câncer de esôfago levou em conta tanto a temperatura como a quantidade de mate consumido. Os resultados confirmaram que o risco de câncer aumenta com a temperatura.
Tereré ou mate quente
Houve um aumento de risco estatístico ao tomar mate muito quente, mas não por tomá-lo quente. Outro estudo analisou o consumo de mate frio “e não achou nenhum aumento de risco”, diz a OMS, deixando assim a porta aberta para o consumo de tereré (bebida feita com erva-mate e água gelada), a versão fria da infusão frequente no Paraguai e em algumas áreas quentes da Argentina e do Brasil.
A agência da ONU também exonera implicitamente a bebida refrescante feita de erva-mate muito popular no norte da Europa, fenômeno de moda que nos últimos anos intensificou o aumento drástico do preço das folhas secas e moídas de erva-mate (Ilex paraguariensis), consumidas no Sul.
O café, uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo, também deixou de ser considerada cancerígena após análise de centenas de estudos reunidos pela OMS. Em vez disso, “as bebidas acima de 65 graus são considerados “provavelmente cancerígenas”, adverte o relatório. O aviso também se aplica ao chá ou a água quente, embora não haja estudos suficientes que permitam estabelecer que não são cancerígenos em temperaturas abaixo de 65 graus.
“Os estudos experimentais com animais sugerem que os efeitos cancerígenos ocorrem com temperaturas acima de 65 graus”, diz a OMS. Em estudos epidemiológicos humanos, os entrevistados foram questionados sobre a temperatura na qual consomem habitualmente as bebidas.
Além disso, uma pesquisa realizada em regiões com alta incidência de câncer de esôfago descobriu que a temperatura de bebidas muito quentes estava acima de 65 graus. Por esse motivo, a definição da bebida muito quente foi estabelecida acima dessa temperatura. Nos países da Europa e América do Norte, o café e o chá são consumidos a temperaturas inferiores a 65 graus ou até 60 graus.
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