Tire suas dúvidas
O HPV atinge homens e mulheres e pode ser transmitido não apenas por relações sexuais, mas também por objetos contaminados. Veja a seguir:
O que é o HPV?
O vírus do papiloma humano, como o nome já diz, é causador de infecções em ambos os sexos, além de poder evoluir para uma série de cânceres. Há mais de 150 subtipos de HPV, sendo que os mais perigosos são os 16 e 18, que causam câncer de colo de útero, de vulva e vagina, e os 6 e 8, que causam verrugas genitais (na maioria das vezes, em homens)
Como se transmite?
Preferencialmente por meio de relações sexuais, mas é possível ser contaminado por meio do contato com toalhas, roupas íntimas e vaso sanitário infectados.
Há cura?
Não. Uma vez infectada, a pessoa será sempre um vetor de contágio. No entanto, há tratamento para as verrugas genitais e as lesões precursoras de câncer. Segundo o Inca, de 70% a 90% das pessoas possuem o vírus inoculado, mas não chegam a desenvolver a doença.
A camisinha evita o contágio?
O uso de preservativo consegue barrar de 70% a 80% da transmissão do HPV, ou seja, não é totalmente eficaz. Ainda assim, a camisinha deve ser usada sempre, para evitar aids, hepatite, sífilis e outras DST (doenças sexualmente transmissíveis), até porque pessoas portadoras dessas doenças têm maior dificuldade para se recuperar de infecções por HPV.
Como saber se tenho o vírus?
Por meio de exames para detecção molecular do HPV, chamados de captura híbrida e PCR (reação em cadeira da polimerase). Vale lembrar que o Papanicolau não detecta o HPV, mas sim lesões pré-cancerosas e o próprio câncer.
Fonte: Guia do HPV Instituto do HPV 2012.
Mitos
Hoje, três grandes mitos envolvem a vacina contra o HPV. Confira quais são eles:
A vacina substitui o Papanicolau
De forma alguma. Dos mais de 100 tipos de vírus HPV catalogados, cerca de 15 são ongênicos (causam câncer). Como explica o infectologista do Laboratório Frischmann Aisengart Jaime Rocha, a vacina, no entanto, protege apenas contra dois tipos, os tipos 16 e 18, que respondem por 70% dos casos de câncer de colo de útero, além dos cânceres de vulva e vagina. Ou seja, há outros vírus responsáveis pelos 30% de casos restantes. O Papanicolau, que tem esse nome em homenagem ao médico que inventou a técnica, George Papanicolau, detecta lesões cancerosas e pré-cancerosas, mas não detecta o vírus.
Quem já iniciou a vida sexual não obtém benefícios tomando a vacina
Isso é um mito que precisa ser desfeito, de acordo com a médica Luisa Lina Villa, professora da Universidade de São Paulo, considerada a maior especialista em HPV do país. Ela afirma que estudos clínicos já apontaram que apenas 1% das mulheres é infectada com os quatro tipos de vírus (16 e 18, além dos 6 e 11, que causam verrugas genitais) de uma só vez, e que 99% portam apenas um dos tipos, ou seja, quando são vacinadas, protegem-se dos outros três.
Além disso, observações feitas por médicos ginecologistas mostram que mesmo quem já desenvolveu infecção e depois tomou a vacina tem 50% menos chances de desenvolver uma segunda infecção do que a mulher que já teve infecção e não tomou a vacina. A probabilidade de reincidência da doença, portanto, cai pela metade.
É preciso tomar uma dose de reforço após 5 anos
Não é necessário, de acordo com Luisa. Ela afirma que estudos já provaram que, após tomar a vacina, a pessoa desenvolve memória imunológica por até 15 anos. "Esse número se deu por acaso, pois foi após esse tempo que os pesquisadores voltaram a abordar mulheres que participaram de estudos clínicos e, para efeitos de estudo, aplicaram novamente a vacina, mas isso não é necessário."
Mortes evitáveis
18 mil novos casos de câncer de colo de útero são diagnosticados a cada ano no Brasil. Destes, 50% levarão a óbito.
A incidência é de 10 a 35 casos por 100 mil habitantes. A maior concentração está na Região Norte, e a menor, na Sudeste.
No mundo, são 500 mil novos casos/ano, que correspondem a 13% de todos os diagnósticos de câncer feminino no mundo.
Desses 500 mil casos, 274 mil evoluirão para óbito. Entre as mortes, 85% ocorrem em países em desenvolvimento.
Fonte: Inca; Adriana Campaner, professora de Ginecologia da USP; Globocan 2008.
18 mil novos casos de câncer de colo de útero são diagnosticados a cada ano no Brasil. Destes, 50% levarão a óbito.
Para tornar efetiva a prevenção contra o HPV, o Brasil precisa realizar esforços para que a vacina contra o vírus seja incluída no calendário oficial de imunização, instituindo canais de negociação com fabricantes e diminuindo, a longo prazo, os gastos com o tratamento. Essa é a conclusão de um estudo realizado pelo Instituto do HPV, ligado à Santa Casa de São Paulo, e a empresa Axia.Bio, que atua no ramo de pesquisa em saúde, apresentado na semana passada em São Paulo.
Atualmente existem duas vacinas que previnem doenças provocadas pelo vírus (uma apenas contra câncer de colo de útero, e outra também contra verrugas genitais), mas, hoje, elas estão disponíveis apenas na rede privada. O estudo aponta que, caso o governo se dispusesse a incluir a vacina no Programa Nacional de Imunização (PNI) e negociasse com os laboratórios, o valor da dose que hoje está em torno de R$ 230 poderia chegar a R$ 51 (são necessárias três doses), o que tornaria o procedimento viável do ponto de vista de custo.
Com base nos dados, a pesquisa aponta que os gastos com a vacina são compensados por uma melhora nos índices de prevenção e tratamento. O cálculo leva em conta parâmetros utilizados para apontar se um novo procedimento a ser incorporado ao sistema de saúde apresentaria um bom custo-benefício. O Brasil ainda não criou os seus, mas utiliza desde 2001 recomendação da Organização Mundial de Saúde que considera válido um investimento que seja até três vezes maior do que o PIB per capita do país.
Como o valor do PIB hoje está em torno de R$ 19 mil, o investimento poderia ser de até R$ 54 mil/ano por mulher.
Segundo o estudo, para cada ano a mais que uma mulher vacinada (contra câncer e verrugas) viver por ter evitado a doença, o governo teria de desembolsar R$ 1,6 mil adicionais por ano. No caso de a vacina ser a que protege somente contra o câncer, o custo extra seria de R$ 2,2 mil. Esse valor seria adicionado ao que já se gasta com exames preventivos (R$ 75 milhões em 2011) e com tratamento da primeira infecção ou do câncer (R$ 114,5 milhões).
"Isso demonstra que a vacina, ao lado da técnica de rastreamento [exame de Papanicolau] é, sim, custo-efetiva", diz a coordenadora da pesquisa, a economista especialista em Saúde Gabriela Tannus. Para ela, basta que haja mais esforços do governo na área de negociação e transferência de tecnologia.
Governo pensa diferente
O governo, porém, não pensa dessa forma e já afirmou que ainda não é possível comprovar que a vacina é custo-efetiva com o preço atual, imunizar apenas meninas de 11 anos custaria R$ 1,8 bilhão ao ano, ao passo que o orçamento anual do PNI é de R$ 750 milhões. Em editorial, o diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, Luiz Antonio Santini, afirma que é mais proveitoso investir na identificação e monitoramento do vírus HPV por meio do teste de Papanicolau (preventivo), assim como na capacitação de técnicos e melhoria na infraestrutura, fazendo com que a cobertura do exame no país se amplie.
Escola precisa ser parceira
Como a efetividade da vacina é maior quando a imunização é feita antes do início da vida sexual, é importante convencer os jovens a procurar uma clínica e, no caso de a vacina vir a ser distribuída na rede pública, a procurar um posto de saúde. No entanto, de acordo com a infectologista Rosana Richtmann, isso é um grande obstáculo, uma vez que, quanto maior a idade da pessoa, mais difícil é para o programa alcançá-la.
"Vacinar criança é fácil, a mãe leva ao posto, a escola exige a vacinação em dia. Já o jovem é difícil. Basta ver que muitos não reforçam a dose da vacina contra tétano, por exemplo, aos 15 anos", diz, citando estudos já feitos em relação a outras vacinas que demonstram que, aos dois, quatro e seis meses de vida, a cobertura é de 100%, caindo para 90% ao 15 meses, e para 50% aos 5 anos.
Outro grande desafio é convencer os pais a permitir que os filhos sejam vacinados, já que muitos consideram cedo demais a idade mínima para vacinação de meninas, que é de 9 anos. Nesses casos, o papel da escola se agiganta, como mostra pesquisa conduzida pelo cancerologista e coordenador do Departamento de Ginecologia Oncológica do Hospital de Barretos (SP), José Humberto Fregnani, em 19 escolas das redes pública e privada da cidade paulista, entre 2010 e 2011.
Abordar o assunto na escola tem duplo efeito: há maiores chances de que os jovens procurem se imunizar e faz com que informem os pais a respeito da importância da imunização precoce. Na pesquisa feita em Barretos, 90% das cerca de 1,6 mil meninas abordadas (todas na sexta série do ensino fundamental) aceitaram ser imunizadas. O programa investiu em encontros com diretores, professores, semana educativa com sensibilização das crianças e reuniões com os pais para falar sobre o assunto.
"A taxa de aceitação demonstra que, para haver sucesso [do programa de imunização], a sinergia entre o sistema educacional e o de saúde é fundamental", diz Fregnani. A sensibilização das crianças, ainda um tabu, é importante, uma vez que 50% dos pais não sabiam que existia uma vacina contra HPV, e que vários deles afirmaram permitir a vacinação apenas porque a filha insistiu, após aprender sobre o assunto na "semana educativa".
Por outro lado, dos 10% de pais que não permitiram a vacinação, 15% disseram que era por opção da menina, o que demonstra que é preciso convencer os jovens da importância do procedimento, uma vez que, nessa fase, eles já têm o poder de decidir se querem ou não tomar a vacina. Levando-se em conta que muitos não são esclarecidos sobre questões de direito sexual e reprodutivo, é importante que a escola reforce o seu papel de guia.
ReceioConscientização ainda precisa ser trabalhada
Estimativas do Instituto Nacional do Câncer apontam que entre 70% e 80% da população já foi exposta ao vírus ao longo da vida, embora a maioria não desenvolva a doença. O contágio costuma ocorrer por meio de relação sexual, o que faz com que a vacina seja recomendada para quem ainda não iniciou a vida sexual. Hoje a recomendação de vacinação é para mulheres e homens dos 9 aos 26 anos.
Mas há uma série de dificuldades para que isso ocorra, e a principal diz respeito à idade mínima de imunização, já que muitos pais têm receio de que vacinar as filhas possa ser entendido como um estímulo à vida sexual precoce. Por isso, o papel do pediatra é fundamental, afirma a infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas (SP). "Aos 9 anos, a menina ainda não foi ao ginecologista. Nesse caso, cabe ao pediatra explicar aos pais a importância da vacina, da prevenção", diz a médica, que alerta: "O HPV é um caso sério. São 18 mil novos casos de câncer de colo de útero por ano, e metade dessas mulheres irá morrer. É o segundo câncer que mais afeta as mulheres, atrás apenas do câncer de mama".
Prevenção
Ciente da importância da prevenção, a advogada curitibana Jacqueline Wendpap, 48 anos, não hesitou em vacinar as três filhas em 2007, pouco depois de a vacina bivalente se tornar disponível no país, em 2006. Após tirar dúvidas com um infectologista e uma ginecologista, ela procurou o laboratório e investiu nas vacinas, pagas em três vezes, já que eram caras cada dose custava ceca de R$ 300.
Naquela época, a estudante Luísa tinha 15 anos, e as advogadas Elis e Ísis, 20 e 17. "Eu fiz questão de vaciná-las, pois entendo que isso não é um estímulo, e sim uma forma de educação sexual e de prevenção de uma doença grave", diz. Jacqueline afirma que, embora criticada por algumas pessoas, ganhou uma aliada de peso na família: a mãe, Marlene, que apoiou a vacinação das netas. "São três gerações unidas contra o HPV", completa a advogada.
A jornalista viajou a convite do Instituto do HPV.