último recurso
Paraná realizou 23 transplantes de coração em 2013
O transplante de coração é um dos últimos recursos para quem sofre com a cardiomiopatia, e por isso mesmo é extremamente importante a doação de órgãos. O relatório de 2013 do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostra que o Paraná é o segundo estado do país com mais pacientes na fila por transplante de coração. Até dezembro do ano passado, eram 42 pacientes. O estado só perde para São Paulo, onde 108 pessoas aguardavam por um coração novo até a data do estudo.
O documento mostra também que o Paraná realizou 23 transplantes de Coração no ano passado dos 63 casos indicados para a cirurgia. A relação é bem melhor do que o total nacional, em que apenas 271 pessoas, de um total de 1.145, foram operadas.
Células tronco
No futuro, a terapia celular poderá ser uma alternativa ao transplante. No Brasil, o Ministério da Saúde patrocinou o Estudo Multicêntrico Randomizado em Terapia Celular em Cardiopatias, iniciado em 2005. "Observou-se uma diminuição da área do enfarte e da área dilatada, e a reconstituição da capacidade retrátil do coração, perdida em casos de insuficiência cardíaca", diz o cirurgião cardíaco Paulo Brofman, coordenador do Centro de Tecnologia Celular da PUCPR.
Quem assiste à novela das nove Em Família, na Rede Globo, viu o personagem de Reinaldo Gianecchini, Cadu, chegar a um diagnóstico grave a partir de uma demonstração de cansaço excessivo em uma caminhada na praia com o filho. A condição de Cadu, a cardiomiopatia dilatada (CMD), tem sua razão para estar na novela: é a principal razão para pedidos de transplante de coração hoje em dia, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) cerca de 50% dos casos.
INOGRÁFICO: Veja os sintomas da Cardiomiopatia
As cardiomiopatias caracterizam-se por uma alteração nos músculos do coração. No caso da CMD, que se estima afetar entre quatro e cinco milhões de brasileiros, o músculo, geralmente do ventrículo esquerdo, se dilata e se torna mais fino, dificultando o bombeamento do sangue para o restante do corpo. Conforme a doença progride, outras áreas do órgão ficam comprometidas, o que acarreta uma insuficiência cardíaca. Se não diagnosticada e tratada de maneira eficiente, pode levar a um quadro terminal. A estimativa é que, nesse estágio, 70% das pessoas acometidas com a irregularidade cardíaca morram em menos de um ano.
De acordo com a cardiologista Lídia Ana Zytynski Moura, coordenadora do curso de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o principal sintoma da doença é a dispneia, ou seja, a falta de ar. "Ela vai gradativamente piorando, começa com grandes esforços e vai se manifestando em médios e pequenos esforços. A pessoa tem falta de ar quando se deita, e pode ocorrer inchaço nas pernas e no abdome", explica. Outros sintomas, como arritmia cardíaca, edema pulmonar e sopro no coração, provocado pelo mau funcionamento das válvulas cardíacas, também estão associados à condição. O diagnóstico, ela explica, é realizado por uma série de exames, como testes laboratoriais, eletrocardiograma, ecografia e radiografia.
Mesmo assim, o transplante de coração é apenas o último recurso, de acordo com o coordenador do departamento de transplante de coração da ABTO, Alfredo Fiorelli. "O transplante é indicado apenas quando o músculo estiver muito deteriorado e não existir mais nenhum outro tratamento eficiente. É possível tratar a cardiomiopatia com remédios, com ponte de safena e com troca de válvulas coronárias. O transplante é restrito a um número pequeno de doentes, porque a maioria não caminha para um quadro terminal", afirma.
As muitas faces da CMD
Entre as principais causas conhecidas do distúrbio estão doenças coronárias, infecções virais e bacterianas, doença de chagas, alcoolismo e doenças da tireoide. Por este motivo, diz a cardiologista Lídia Moura, prevenir as doenças que podem levar à CMD é fundamental.
A progressão da doença também é irregular, segundo o coordenador do departamento de transplante de coração da ABTO, Alfredo Fiorelli. "Existem tanto os pacientes que convivem com a doença de maneira assintomática quanto aqueles que apresentam uma progressão, que pode ser de meses ou anos".
O padeiro aposentado Gerson Barbalho, de 49 anos, teve uma progressão lenta da doença. "Tive um desmaio uma vez, em 1999, e comecei a ter alteração de pressão e sentir falta de ar depois disso. Ficava um tempo ruim, passava semanas sem comer e sem conversar, porque não tinha fôlego para nada", conta. Há dois dias na Santa Casa de Curitiba, nunca conseguiu descobrir o que causou sua CMD, e, enquanto espera para saber se será ou não indicado para o transplante, passa a maior parte dos dias na cama, por falta de disposição. "Eu procuro não esquentar a cabeça com isso, mas me dá saudade de ser saudável", diz.
Bruno Tavares, de 24 anos, descobriu sua cardiomiopatia há dois anos com uma dor no estômago. Sem conseguir dormir e comer, procurou um médico que confirmou o diagnóstico. "Demorei uma hora para caminhar uma quadra. Foi aí que eu vi que estava mal. Os médicos dizem que meu coração está muito mais debilitado do que deveria estar para a minha idade". Com recaídas eventuais, e sem fazer esforço algum, ele está internado há dois meses na Santa Casa, aguardando pelo transplante.
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