Durante uma cesariana tradicional, o bebê é retirado do útero materno de forma rápida e brusca. Em questão de minutos, a criança que antes dependia do organismo materno para respirar precisa se adaptar a um ambiente externo desconhecido. Não raramente, é levado pelos enfermeiros sem nem mesmo ter tido contato com a mãe um evento traumático que pouco combina com a poesia do nascimento. É justamente para mudar este procedimento mecânico que médicos brasileiros têm se rendido ao que já é realidade em muitos países desenvolvidos: as cesáreas humanizadas.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 45% dos partos realizados sejam feitos por cesárea. Nos planos de saúde esse número sobe para quase 90%, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) prega que a taxa ideal seria de apenas 10%. Carlos Miner Navarro, obstetra do Hospital de Clínicas e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que a maioria desses procedimentos é realizada sem necessidade, ou seja, poderiam ser partos espontâneos. "Por uma sensação de praticidade, as gestantes são levadas a fazer a cesárea, que é uma grande cirurgia."
Ainda assim, o obstetra aponta que os hospitais deveriam rever seus procedimentos e mudar a frieza hospitalar com que esses partos são realizados. "Muitas mulheres relatam que já tiveram experiências em que se sentiram um pedaço de carne. O parto é um evento sócio-familiar. É muito forte e marca a vida da mulher", diz. Para contornar a frieza da cesárea, Navarro indica medidas simples. "Um ato importante é deixar o pai acompanhar o parto, quando possível. É necessário porque a mulher fica fragilizada e insegura. Ter um acompanhante melhora seu estado psicológico."
O médico aponta que, embora o procedimento seja cirúrgico, a mãe deve estar a par do que acontece. "Como para a equipe médica a cesárea é um procedimento comum, às vezes os médicos e enfermeiros conversam entre si e esquecem da gestante durante o parto. O correto é falar com ela e lhe descrever passo a passo tudo o que está sendo realizado."
Aos poucos O obstetra e ginecologista Osias Guimarães, da maternidade Souza Cruz, de São Paulo, condena a retirada rápida do bebê do útero. "Temos de seguir um processo semelhante ao do parto normal. O ideal é retirar aos poucos: primeiro a cabeça, depois o tronco e então os membros inferiores. É isso que a vagina faz em um parto natural. A criança irá se acostumar aos poucos com o ambiente externo e não ficará angustiada, chorando em excesso", diz. "Deixar o bebê um pouco com a mãe também humaniza a cesárea. Em muitos casos não há necessidade de levá-lo imediatamente da sala de cirurgia."
Guimarães aponta também que um passo importante é deixar a mãe ver a retirada do bebê, abaixando-se o pano colocado sobre um arco que serve para delimitar o campo cirúrgico. "É claro que o pano tem uma função, que é a de evitar infecções. Mas como uma maternidade deve ter bom controle de infecção, é aceitável abaixá-lo para que mãe possa testemunhar o nascimento de fato", diz. "Se o protocolo não abrir mão do tecido, pode-se usar uma câmera ou um espelho que dê essa visão à mãe."
A advogada Patrícia Bortolotto teve a chance de ver o nascimento de sua primeira filha, em 2006, mesmo realizando um parto cesariana. Segundo o obstetra Carlos Miner, que fez o parto, o feto estava em uma posição inadequada para o parto normal. "Por isso a solução dos médicos foi a cesárea, mas sem a frieza do procedimento comum", diz. Na hora do nascimento, o pano foi abaixado e ela teve a oportunidade de ficar um pouco com a bebê, antes ser encaminhada aos outros procedimentos. De lá para cá, Patrícia não abriu mão da humanização, que, segundo ela, torna o "momento mais emocional". Seus dois outros filhos nasceram em casa e de parto normal.
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